Falta de ação do Ocidente no conflito Síria pode ter alimentado avanço de militantes extremistas e atual crise no Iraque, analisa correspondente de Defesa da BBC.
BBC
Desde que os EUA desistiram de realizar ataques aéreos na Síria, um ano atrás, na sequência de um ataque com gás sarin contra civis atribuído ao governo do presidente Bashar al Assad, o número de mortos no conflito dobrou, superando 191 mil.
Além do assustador custo humano, muitos acreditam que a relutância naquela ocasião teve também consequências geopolíticas para a região, permitindo o fortalecimento de grupos radicais que hoje desembocaram no autodenominado Estado Islâmico (EI).
Hoje, os EUA usam seu poderio aéreo para tentar mudar o equilíbrio de forças na região - mas não na Síria, e sim no Iraque, considerado um Estado que se desmorona diante da ameaça dos grupos radicais islâmicos.
Uma das questões que se destacam é se a falta de ação militar na Síria, um ano atrás, fomentou o caos regional a que assistimos hoje.
Hesitação na Síria
Desde que os EUA desistiram de realizar ataques aéreos na Síria, um ano atrás, na sequência de um ataque com gás sarin contra civis atribuído ao governo do presidente Bashar al Assad, o número de mortos no conflito dobrou, superando 191 mil.
Além do assustador custo humano, muitos acreditam que a relutância naquela ocasião teve também consequências geopolíticas para a região, permitindo o fortalecimento de grupos radicais que hoje desembocaram no autodenominado Estado Islâmico (EI).
Hoje, os EUA usam seu poderio aéreo para tentar mudar o equilíbrio de forças na região - mas não na Síria, e sim no Iraque, considerado um Estado que se desmorona diante da ameaça dos grupos radicais islâmicos.
Uma das questões que se destacam é se a falta de ação militar na Síria, um ano atrás, fomentou o caos regional a que assistimos hoje.
Hesitação na Síria
Um ano atrás os eventos na Síria ainda eram vistos como uma extensão da Primavera Árabe. Em outros países, líderes que ocupavam o poder havia anos tinham sido derrubados pela pressão popular. Na Síria, o presidente Bashar al-Assad estava determinado a manter sua posição.
As divisões na oposição síria jogaram a favor de Assad e complicaram as dimensões regionais do conflito. Países sunitas, como a Arábia Saudita, apoiaram várias facções opositoras, enquanto o Irã apoiou o regime de Assad.
O Ocidente flertou com grupos opositores, mas a desunião deles e a falta de resolução das nações ocidentais impediram uma decisão sobre fornecer ou não armas a esses grupos.
Foi então que Assad aparentemente usou armas químicas contra seu próprio povo. Diferentemente de outras ocasiões, as provas deste ataque eram claras e exigiam uma reação. O presidente americano, Barack Obama, estava sob pressão para responder ao desrespeito de uma "linha vermelha" que ele próprio estabelecera: o uso de armas químicas por parte do governo sírio contra sua população civil.
Como se sabe, o ataque americano nunca ocorreu. O Parlamento britânico se opôs a uma ação conjunta com os EUA e enfraqueceu uma autorização semelhante que buscasse aprovação do Congresso americano para uma ação militar.
A alternativa diplomática, costurada entre Washington e Moscou com apoio da comunidade internacional, foi elaborar um plano conjunto para destruir os estoques de armamentos químicos do governo sírio.
Foi um capítulo memorável na história do controle de armas. Mas não interrompeu o derramamento de sangue no país.
A remoção do estoque de armas químicas da Síria foi, de certa maneira, uma distração: agora, as atenções estavam voltadas unicamente para a questão das armas químicas.
Enquanto isso, grupos considerados pelo Ocidente como uma "oposição moderada" foram acossados por um novo e perigoso inimigo.
Jihadistas
Extremistas islâmicos ligados a um ramo da al-Qaeda tinham sido, por muito tempo, uma fonte de preocupação no Ocidente.
A capacidade deles de cooptar islâmicos moderados e enfrentar combatentes apoiados pelo Ocidente foi um dos motivos citados para justificar a relutância em fornecer armamento ocidental a combatentes da oposição. Afinal, nas mãos de quem esse armamento poderia acabar?
Os críticos de Obama - alguns dos quais defendiam o uso de ataques aéreos não apenas para punir, mas derrubar o regime de Assad – acreditavam que a Casa Branca tinha perdido uma oportunidade para mudar o equilíbrio militar na Síria de uma vez por todas.
Em vez de fortalecer a oposição moderada, eles argumentam, houve espaço para que os elementos mais radicais da oposição - os jihadistas - prosperassem. Esses grupos se expandiram e desembocaram no autoproclamado Estado Islâmico, que agora controla uma faixa de território na Síria e no Iraque.
Muitos se perguntam por que os EUA atacam o Iraque e não atacaram a Síria. Para alguns, a resposta é fácil: petróleo.
É verdade que o Iraque, por muitas razões, é visto como um país com uma maior importância estratégica. Além disso, os EUA herdaram uma responsabilidade no país que invadiram em 2003.
Os EUA são um aliado de longa data dos curdos e receberam um pedido explícito para a intervenção do governo em Bagdá. A opinião em Washington é a de que não há uma ordem constitucional no Iraque.
É difícil prever o que teria acontecido na Síria se Obama tivesse mantido sua promessa de realizar ataques aéreos. Mas ficou claro que, sem impedir a desintegração da Síria, chegou-se a uma situação em que a integridade do Iraque também está sob ameaça.
O Estado extremista que hoje controla territórios nos dois países pode um dia exportar sua violência para locais ainda mais distantes.