Uma delegação de curdos sírios visitará Moscou no fim de semana. Numa entrevista à Voz da Rússia, Muhammad Salih Gedo, chefe da Direção dos Assuntos Externos do governo regional do Curdistão sírio, que dirige a delegação, revelou os objetivos da visita que acontece num período extremamente agudo na região.
Elena Suponina | Voz da Rússia
Muhammad Salih Gedo: Os curdos da Síria desejaram sempre o desenvolvimento de relações multilaterais com a Rússia. Durante décadas, essas relações distinguiram-se por um particular calor. Queremos reforçar ainda mais essas relações. Hoje, as regiões onde vivem compactamente curdos no norte da Síria, tais como Jazira, Ayn al-Arab, Afrine e outras, necessitam muito de ajuda humanitária.
Há muito que os turcos fecharam os postos de controle na fronteira com a Síria no norte, precisamente onde se encontram as regiões curdas. Devido ao aumento da instabilidade no Iraque foram encerradas também as fronteiras com esse país, nomeadamente com o Curdistão iraquiano. Desse modo, as regiões curdas na Síria estão privadas da possibilidade de receber ajuda humanitária.
O objetivo da nossa visita a Moscou e das futuras conversações no Ministério das Relações Exteriores, na Duma de Estado, nas organizações humanitárias é a discussão dessas questões. Esperamos que a Rússia preste ajuda humanitária aos curdos da Síria.
Voz da Rússia: Porque é que vêm precisamente à Rússia num momento agudo para a região?
MSG: Porque compreendemos bem quem é hoje a Rússia na arena internacional. A Rússia é um grande Estado, que pode e faz muito. A Rússia tem todas as possibilidades para nos apoiar neste período de crise.
Tanto mais que existe mais um perigo que nós hoje enfrentamos na Síria. As nossas regiões são atacadas por extremistas islâmicos, jihadistas. Milhares de nossos jovens e moças lutam contra eles. Centenas de pessoas nossas já morreram nessa luta.
Os curdos defendem as suas regiões dos jihadistas. Mas, desse modo, nós defendemos também a integridade territorial da Síria. Pois a Síria é um Estado multinacional e multiconfessional, que deve continuar a ser forte e uno. Dirigimos à Rússia, país nosso amigo, um pedido de ajuda neste campo. Esperemos que a direção russa nos ouça.
VR: Como avalia o desenvolvimento da situação no Iraque? Principalmente o fato de os curdos do Iraque falarem cada vez mais da possibilidade de proclamar a independência?
MSG: As situações no Iraque e na Síria estiveram sempre interdependentes. O que se passa na Síria influi no Iraque, e vice-versa. Recentemente, extremistas da organização Estado Islâmico do Iraque e do Levante ocuparam a cidade de Mossul e algumas outras regiões iraquianas. Nós prevenimos desse perigo. Há já dois anos e meio que os curdos sírios combatem contra os jihadistas. E durante todo esse tempo, nós dissemos aos Estados da região e a muitos outros: ajudem-nos na luta contra os terroristas. Mas não nos ouviram.
No que respeita aos curdos no Iraque, aí forma-se uma situação completamente nova. A independência é um sonho antigo de todos os curdos e eles são 40 milhões no mundo. Mas, a nosso ver, a decisão sobre a independência dos curdos deve ser internacional. E, para isso, na região devem amadurecer todas as condições objetivas e subjetivas.
VR: E qual a opção dos curdos sírios?
MSG: Somos pela conservação da integridade territorial da Síria. Aqui vivem cerca de quatro milhões de curdos. Claro que é preciso que os curdos adquiram todos os direitos devidos. Mas isso também é possível realizar no âmbito de uma Síria una. Consideramos que a federalização permitirá resolver muitos problemas da Síria. Mas, agora, a principal tarefa é limpar a Síria dos jihadistas.