O regime de cessar-fogo na Ucrânia terminou. Na noite da segunda para terça-feira, o presidente Piotr Poroshenko anunciou o fim do cessar-fogo, tendo o Exército retomado a ofensiva no Sudeste do país.
Natalia Kovalenko | Voz da Rússia
A trégua se prolongou por dez dias, embora tiroteios esporádicos nem sequer tenham parado por completo. O “plano de paz” se parecia mais com um ultimato, se prevendo a entrega voluntária de armas e uma saída livre de milicianos e pessoas descontentes com a política de Kiev.
As milícias não abandonaram a sua terra. Apoiaram a proposta de cessar-fogo, soltaram os prisioneiros e anuíram em dialogar com Kiev com a mediação da Rússia e da OSCE, ressalvando que o processo de paz “seria lançado se o presidente Poroshenko exigisse o desarmamento de ambas as partes em conflito, incluindo os grupos de ultranacionalistas solidários com Kiev”.
Tudo indica que esses últimos se tornaram mais fortes. Durante vários dias eles ocuparam as praças de Kiev exigindo o prosseguimento das operações militares no Sudeste. Piotr Poroshenko acabou por aceitar suas reivindicações e deu ordem de retomar a ofensiva generalizada. Todavia, se apressou a acalmar os habitantes de Donbass:
“As Forças Armadas, a Guarda Nacional e outros destacamentos militares não admitirão o uso da força contra os civis. Nunca irão alvejar bairros residenciais. Os soldados ucranianos irão arriscar suas vidas para defender mulheres, crianças e pessoas idosas – todos aqueles que não pegaram em armas”.
Enquanto isso, o corpo do operador de câmera da TV russa Anatoli Klyan, morto nos arredores durante a filmagem, foi transportado a Moscou. Ele trabalhava sem ter pegado em armas e foi também a ele que Poroshenko tinha garantido a segurança. Dias antes, houve funerais de outros dois jornalistas russos, Igor Kornelyuk e Anton Voloshin, vítimas de um fogo de lança-granadas nas imediações de Lugansk. A Itália se despediu do repórter fotográfico Andre Rocceli. Se acreditar nas palavras de Poroshenko, eles também não se sentiriam ameaçados.
Para além disso, dezenas de crianças mortas por estilhaços de projéteis ou balas disparadas por franco-atiradores deviam se sentir seguras. A sua morte trágica terá sido reconhecida até pelo governo de Kiev. Estas crianças, suas mães e avós não se encontravam na linha da frente militar. Todavia, contra eles e contra suas casas e ruas as forças de segurança assestaram sinistros golpes terrestres e aéreos.
Deste modo, se pode constatar o reinício da operação punitiva no Sudeste. Por sinal, os corredores humanitários não foram abertos, as pessoas estão sentindo uma acentuada falta de víveres, água potável e medicamentos. “O Exército irá libertar a nossa pátria”, declarou Poroshenko. Pelo visto, libertar de todos os que se encontrem no seu caminho.