Os militares ucranianos reforçaram sua operação militar no sudeste do país. Começaram sendo usados bombardeamentos aéreos e ataques com sistemas lançadores de foguetes múltiplos pesados Smerch com munições de fragmentação, que antes o exército ucraniano evitava utilizar. Os resultados são dezenas de mortos entre a população civil.
Natalia Kovalenko | Voz da Rússia
Enquanto o governo de Kiev negocia com Moscou, Berlim e Paris relativamente à necessidade de um cessar-fogo de longo prazo no sudeste, os militares ucranianos iniciaram uma ofensiva. Os ataques não são efetuados apenas contra os postos de controle das milícias. Os tapetes de bombas cobrem igualmente as povoações com civis. Antes as pessoas se escondiam das balas e estilhaços no subsolo. Mas das armas que os militares ucranianos usam agora não há salvação possível.
No povoado de Stanitsa Luganskaya na quarta-feira foi destruída uma rua inteira. Foram mortos e morreram debaixo dos escombros dezenas de habitantes de todas as idades. Onde ainda há pouco existiam casas, agora só há crateras com dois metros de profundidade e muitos estilhaços de obuses. Muitos ostentam mesmo a marcação que os permite identificar nas fotos e nos vídeos, diz o coronel da Força Aérea Russa Serguei Reznichenko:
“Através desses fragmentos metálicos podemos concluir, sem qualquer dúvida, que isto é o local de rebentamento de um foguete aéreo não guiado S-25. Ele simplesmente atravessa toda a casa, perfura o subsolo, afunda-se ainda mais e depois explode. O efeito da explosão é muito potente: de uma casa não fica absolutamente nada”.
A direção militar ucraniana não conseguiu esconder o ataque aéreo contra uma povoação nos arredores de Lugansk. É verdade que primeiro surgiram declarações que os aviões não sobrevoavam essa área, que a artilharia fazia fogo para outra área e que os militares alegadamente cumpriam a diretiva do presidente Piotr Poroshenko de não disparar contra áreas habitadas. Mas depois reconheceram a realização do ataque aéreo: “Teve lugar um erro dos pilotos”, declarou o porta-voz dos militares Igor Mosiychuk.
Em princípio esses erros não são raros numa guerra. Tantas foram as vezes em que pilotos norte-americanos disparavam contra civis no Paquistão, no Afeganistão e no Iraque tendo-os tomado por combatentes. Mas na Ucrânia a guerra é entre os seus. Os pilotos apertam o gatilho ao sobrevoar pátios onde brincam crianças.
Contudo, não podemos excluir que os militares não sabem eles próprios onde vai cair a munição que dispararam, considera o editor principal da revista Arsenal Otechestva (Arsenal da Pátria) e coronel na reserva Viktor Murakhovsky:
“Quem usa as bocas de fogo e os sistemas de foguetes múltiplos têm muito baixa qualificação. Eles praticamente não têm experiência de fogos reais. Os pilotos da aviação ucraniana têm muito poucas horas de voo. Além disso, temos de referir as poucas forças e meios de reconhecimento do exército ucraniano. Por isso, eles frequentemente não conseguem transmitir as coordenadas corretas dos alvos que pretendem atingir. Fazem apenas fogo contra áreas”.
Mas mesmo que se conheça um alvo com precisão e o artilheiro saiba disparar, não é nada seguro que o projétil atinja o alvo designado, continua o perito militar Viktor Murakhovsky:
“As munições são velhas. Existem os chamados prazos de validade, durante os quais é garantido o uso seguro e preciso das munições, e esses prazos já estão ultrapassados. Durante todo o seu período de existência o exército ucraniano não encomendou, não fabricou, nem adquiriu munições novas. Tudo o que está sendo usado é ainda de fabrico soviético dos anos de 1980. Por isso, as características das munições, nomeadamente suas trajetórias de voo, são completamente imprevisíveis”.
Apesar de tudo isso, os militares ucranianos utilizam essas armas para bombardear as localidades. Utilizam mesmo as bombas de fragmentação e incendiárias proibidas pelas convenções internacionais. Mas o Ocidente simplesmente prefere ignorar esses fatos. As fotografias, filmagens em vídeo e testemunhos oculares para eles não são provas suficientes. Mas como Kiev também não está interessado na confirmação dos seus crimes de guerra, os peritos independentes têm o acesso vedado aos locais onde foram usadas armas de destruição maciça.
O Ministério das Relações Exteriores russo exigiu, mais uma vez, a Kiev que cesse os bombardeamentos contra alvos civis para salvaguardar as vidas das pessoas. Moscou insiste na realização de investigações dos crimes cometidos no sudeste desde abril deste ano. A Rússia apela às partes em confronto para que declarem um regime de cessar-fogo e iniciem negociações para a regularização da situação.