O conflito árabe-israelense voltou a se transformar em guerra. Tudo indica que uma nova Intifada é inevitável porque nenhuma das partes está disposta a ceder. As sirenes dos alertas de ataques aéreos soam em Tel Aviv, enviando para os abrigos os 400 mil habitantes de uma das maiores cidades de Israel.
Serguei Duz | Voz da Rússia
Desde terça-feira, dia em que Israel iniciou sua operação contra os militantes da Faixa de Gaza, no país já caíram mais de duas centenas e meia de foguetes, dos quais apenas 67 foram interceptados pelo sistema antiaéreo Cúpula de Ferro.
Foi a primeira vez que um foguete palestino explodiu a sul da cidade de Haifa, o que é considerado como um recorde de alcance desses foguetes: um foguete do tipo M-302 percorreu 125 quilômetros desde a fronteira da Faixa de Gaza, explodindo junto à cidade de Zikhron Yaaqov. Ainda não houve vítimas ou destruições importantes. Contudo, os árabes ainda dispõem de mais cerca de cinco mil foguetes, sendo que as vítimas e destruições serão uma questão de tempo.
Em resposta, o exército de Israel efetua ataques contra a Faixa de Gaza. Já foram atingidos mais de 750 objetivos, incluindo rampas de lançamento, túneis e postos de comando. Esses ataques provocaram pelo menos 76 mortos entre os palestinos. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, avisou os árabes que isto era apenas o começo:
“Eu ordenei o aumento da escala da operação antiterrorista na Faixa de Gaza contra o Hamas e outras organizações terroristas. Apelo aos cidadãos do país para seguirem as indicações dos serviços de retaguarda e a serem pacientes porque a operação poderá vir a ser longa”.
A operação Margem Protetora continua se resumindo a ataques aéreos e navais, mas os líderes políticos e o comando militar de Israel falam abertamente na possibilidade de uma intervenção terrestre, passível de provocar um grande aumento no número de mortos, e já iniciaram a mobilização de 40 mil reservistas.
Entretanto, os líderes do Hamas apresentaram a Tel Aviv duas condições para pararem seus ataques contra Israel. O líder do Burô Político desse movimento islamita, Khalid Meshal, declarou que Netanyahu tem de “parar a guerra contra o povo palestino” em Gaza e na Cisjordânia, assim como mudar sua política em relação aos colonatos e em relação às detenções.
Na opinião dos peritos, dificilmente os israelenses, inflamados pelo recente assassinato de três jovens seminaristas, estarão dispostos a fazer essas cedências. Por isso, o mais provável é a crise se agravar. Os últimos acontecimentos também não dão motivos para apaziguar os árabes. Além disso, os continuados bombardeamentos de Gaza apenas alimentam os velhos ódios.
Nem um lado, nem outro, deseja fazer cedências. Mahmoud Abbas acusa os israelenses de fazerem a guerra contra o povo palestino inteiro, e não contra grupos armados. Na opinião dele, Israel não se está defendendo, mas defendendo seus colonatos na Cisjordânia.
Entretanto, o Ocidente prefere apoiar Tel Aviv, o que dá aos israelenses um sentimento de confiança nos seus atos. Segundo pensam muitos observadores, esse sentimento é ilusório e o apoio apenas a um dos lados só irá agravar o conflito. Também o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, alertou ambas as partes para os perigos de uma escalada da violência:
“Neste momento se deve impedir quaisquer provocações e cumprir as decisões tomadas pela comunidade internacional. Antes de mais, as partes devem evitar quaisquer atos que tenham um caráter unilateral e que possam condicionar o estatuto final da regulação, incluindo as questões de Jerusalém ocidental, dos refugiados e dos colonatos”.
Vários analistas supõem que o assassinato dos três adolescentes judeus, que deu início a mais uma escalada do conflito, é uma consequência da atomização do extremismo, ou seja, que hoje nos territórios palestinos atua uma quantidade enorme de grupos extremistas diversos que praticamente não são controlados pelas direções das grandes organizações.
Essa situação foi em muito gerada pela chamada Primavera Árabe. Se a região for incendiada por uma nova Intifada, a responsabilidade será, além dos israelenses e dos árabes, também dos norte-americanos, cuja desastrada política externa abalou definitivamente o já instável Oriente Médio.