Uri Avnery, de 90 anos, defende que Israel não tem opção a não ser negociar com o Hamas
POR DANIELA KRESCH / ESPECIAL PARA O GLOBO
TEL AVIV — O jornalista, escritor, ativista político e ex-parlamentar Uri Avnery, de 90 anos, defende, que Israel não tem opção a não ser negociar com o Hamas. Para Avnery, se Israel acabar com o Hamas, outro grupo, ainda mais radical, tomará seu lugar.
O senhor acredita que Israel deveria negociar com o Hamas?
Claro que sim. Já falei isso há dez anos. Até imprimimos adesivos com a frase “Falar com o Hamas”. Sempre disse que é impossível ignorá-los, que eles estavam presentes em todos os lugares, que não se pode fazer a paz apenas com metade do povo palestino.
Israel deveria negociar com o Hamas caso o grupo conseguisse sequestrar um soldado israelense em Gaza?
Se houver um novo sequestro, é preciso negociar para libertá-lo, exatamente como fizemos com o Gilad Shalit.
Mas o Hamas, um grupo fundamentalista islâmico, estaria interessado em falar com o “inimigo sionista”?
Ele já falou com Israel e nós já falamos com ele mais de uma vez! Durante toda a negociação para a liberação de Shalit,por exemplo. E a mais recente trégua, negociada em 2012. Se pudéssemos expulsar toda essa turba de moderadores, egípcios, turcos, do Qatar, Kerry, todo esse grupo de estranhos, poderíamos conversar diretamente com o Hamas sem ninguém se intrometer. Seria muito melhor e simples.
O senhor acredita que o Hamas pode se tornar mais moderado e reconhecer Israel?
A linha oficial do Hamas é a de que, se Mahmoud Abbas conseguir paz com Israel, e esse acordo for aprovado num referendo pelo povo palestino, vai aceitá-lo.
Há quem diga que se Israel conseguir expulsar o Hamas de Gaza, grupos ainda mais radicais o substituiriam...
Enquanto o problema básico dessa região não for resolvido, outras facções ou movimentos vão aparecer. Gaza tem 1,6 milhão de pessoas num espaço de terra pequeno, sem ligação com o mundo, isolado por mar, terra e ar, abandonado totalmente pelo governo militar nojento do Egito e a guerra da ocupação de Israel. Nessas condições, outros movimentos jihadistas, al-Qaeda, Isis, tomariam o lugar do Hamas.
O senhor acha que essa operação militar israelense em Gaza é necessária?
Não, acho que se trata de uma guerra desnecessária que não vai levar a nada, só a uma situação igual à de antes. Não haverá solução para Gaza enquanto houver bloqueio econômico, enquanto houver ocupação israelense. A raiz é que Gaza é uma prisão aberta, fechada por Israel e Egito. Não é quem atira em quem.
Há cada vez mais manifestações contra a operação militar israelense em Gaza. O que o senhor acha disso?
Há coisas que são permitidas em guerras, mas há outras que são proibidas. Essa operação militar viola muitas leis de guerra. Claro que isso é verdade também do outro lado, mas Israel está protegido pelo sistema antiaéreo Domo de Ferro. Há falta de equilíbrio quando de um lado morrem mais de 800, a maioria civis, e do outro, só 30 soldados.
TEL AVIV — O jornalista, escritor, ativista político e ex-parlamentar Uri Avnery, de 90 anos, defende, que Israel não tem opção a não ser negociar com o Hamas. Para Avnery, se Israel acabar com o Hamas, outro grupo, ainda mais radical, tomará seu lugar.
O senhor acredita que Israel deveria negociar com o Hamas?
Claro que sim. Já falei isso há dez anos. Até imprimimos adesivos com a frase “Falar com o Hamas”. Sempre disse que é impossível ignorá-los, que eles estavam presentes em todos os lugares, que não se pode fazer a paz apenas com metade do povo palestino.
Israel deveria negociar com o Hamas caso o grupo conseguisse sequestrar um soldado israelense em Gaza?
Se houver um novo sequestro, é preciso negociar para libertá-lo, exatamente como fizemos com o Gilad Shalit.
Mas o Hamas, um grupo fundamentalista islâmico, estaria interessado em falar com o “inimigo sionista”?
Ele já falou com Israel e nós já falamos com ele mais de uma vez! Durante toda a negociação para a liberação de Shalit,por exemplo. E a mais recente trégua, negociada em 2012. Se pudéssemos expulsar toda essa turba de moderadores, egípcios, turcos, do Qatar, Kerry, todo esse grupo de estranhos, poderíamos conversar diretamente com o Hamas sem ninguém se intrometer. Seria muito melhor e simples.
O senhor acredita que o Hamas pode se tornar mais moderado e reconhecer Israel?
A linha oficial do Hamas é a de que, se Mahmoud Abbas conseguir paz com Israel, e esse acordo for aprovado num referendo pelo povo palestino, vai aceitá-lo.
Há quem diga que se Israel conseguir expulsar o Hamas de Gaza, grupos ainda mais radicais o substituiriam...
Enquanto o problema básico dessa região não for resolvido, outras facções ou movimentos vão aparecer. Gaza tem 1,6 milhão de pessoas num espaço de terra pequeno, sem ligação com o mundo, isolado por mar, terra e ar, abandonado totalmente pelo governo militar nojento do Egito e a guerra da ocupação de Israel. Nessas condições, outros movimentos jihadistas, al-Qaeda, Isis, tomariam o lugar do Hamas.
O senhor acha que essa operação militar israelense em Gaza é necessária?
Não, acho que se trata de uma guerra desnecessária que não vai levar a nada, só a uma situação igual à de antes. Não haverá solução para Gaza enquanto houver bloqueio econômico, enquanto houver ocupação israelense. A raiz é que Gaza é uma prisão aberta, fechada por Israel e Egito. Não é quem atira em quem.
Há cada vez mais manifestações contra a operação militar israelense em Gaza. O que o senhor acha disso?
Há coisas que são permitidas em guerras, mas há outras que são proibidas. Essa operação militar viola muitas leis de guerra. Claro que isso é verdade também do outro lado, mas Israel está protegido pelo sistema antiaéreo Domo de Ferro. Há falta de equilíbrio quando de um lado morrem mais de 800, a maioria civis, e do outro, só 30 soldados.