Devido à crise econômica da década de 90, a União Soviética se viu obrigada a adiar os planos de criação do submarino modelo 885 Iásen, uma verdadeira revolução na frota marítima do país, cuja principal peculiaridade consiste na universalidade, uma das características sem análogos mundo afora.
Aleksandr Korolkov, especial para Gazeta Russa
O projeto do modelo principal do submarino Iásen saiu no papel ainda em 1991, marcando a transição tecnológica desta indústria na Federação Russa. Ao contrário dos Estados Unidos, cuja frota de submarinos nucleares tendia a ser composta por veículos para múltiplas finalidades, a União Soviética preferia uma ampla variedade de submarinos especializados quase não sujeitos à unificação e com uma série de funções similares.
O submarino de quarta geração, cujo projeto de elaboração foi iniciado em 1977, provocou certas mudanças neste conceito e levou ao abandono de especialização. Desde então, foi dada preferência à multifuncionalidade de novos submarinos nucleares, que consistia na capacidade de combater os navios do inimigo navegando tanto em baixo quanto na superfície da água, assim como lançar os mísseis em direção a objetos terrestres. Em outras palavras, os aparelhos tinham de ter uma capacidade de resolver qualquer tarefa atribuída à frota submarina do país.
Para alcançar tal objetivo, os engenheiros russos criaram soluções inéditas para a indústria nacional da época, substituindo a estrutura dupla que permitia alcançar altos níveis de resistência e flutuabilidade por uma arquitetura de um casco e meio com uma carcaça leve colocada apenas sobre a parte resistente do corpo de submarino, uma combinação de cascos duplo e simples usado nos submarinos americanos para uma navegação silenciosa e imperceptível.
Além disso, as dimensões do complexo hidroacústico “Irtich” com potência elevada não permitiu manter os lançadores de torpedos instalados na proa, como em submarinos dos modelos anteriores. Portanto, o equipamento em questão foi transferido para o meio do veículo e instalado como em modelos americanos.
Granat contra Tomahawk
O novo submarino nuclear será equipado com os mísseis antinavio 3M55 Onix (Iákhont), que possuem alcance de 350 quilômetros. Um golpe feito com 24 destes foguetes seria capaz de causar danos sérios até para os porta-aviões americanos que contam com a proteção por meio do sistema potente de defesa antiárea.
Salvo os lançadores de mísseis, o Iásen inclui um sistema Granat, análogo nacional do lança-foguete americano Tomahawk, com alcance de até 3.000 quilômetros, e ogivas nucleares opcionais iguais ao modelo americano. Além disso, o míssil 3M14 Kalibr com alcance de 500 quilômetros instalado no submarino permite atacar objetos terrestres com grande precisão, garantindo a execução eficiente das suas operações táticas.
Já os lançadores de torpedos liberam mísseis antinavio 3M54 Biriúza e antissubmarino 91P em direção ao alvo, além de realizarem a instalação de minas. O complexo de defesa do submarino Severodvinsk incluirá os dispositivos próprios para busca e eliminação de uma grande variedade de armadilhas e arrastões, além de um sistema de defesa antimíssil opcional capaz de neutralizar os torpedos do inimigo com torpedos especiais de pequeno porte.
Análagos americanos
No seu livro “Cold War Submarines” (“Submarinos da Guerra Fria” em inglês), Norman Polmer, famoso analítico naval americano, afirma no final do capítulo dedicado aos últimos projetos de submarinos nucleares dos Estados Unidos e da União Soviética: "Há vários indícios de que os submarinos soviéticos de quarta geração já haviam alcançado ou até superado os seus concorrentes americanos em termos das suas principais características".
No solo americano, os análogos do Iásen incluem os submarinos multiuso Seawolf e Virginia, que, no entanto, possuem funcionalidade inferior. Segundo Igor Korotchenko, especialista militar russo, os novos submarinos nacionais devem ser capazes de "vigiar os cruzadores americanos estratégicos do tipo Ohio, incluindo a realização das missões de patrulha e controle dos territórios aquáticos nas regiões do país, onde a navegação dos navios de forças navais estrangeiras seria indesejável, assim como lançar mísseis de cruzeiro com o objetivo de eliminar alvos terrestres, inclusive durante os conflitos locais, onde a presença permanente das forças armadas nacionais não seria necessária”.