Planadores capazes de operar por até 90 dias serão desenvolvidos até 2017. Pouco perceptíveis, serão utilizados para explorar oceanos e detectar inimigos.
Aleksêi Krivorutchek | Izvéstia
Os planadores subaquáticos, ou gliders, movimentam-se sem o auxílio da hélice. Dentro do aparelho, cuja aparência externa lembra um torpedo, está instalada uma câmara hermética dividida em duas partes. Numa delas há ar e na outra se encontra um líquido que comprime o ar quando a válvula é aberta. Graças à redução do volume do ar o planador começa a submergir e para que o aparelho retorne à superfície o fluido é bombeado de volta. Dependendo do design, a direção do movimento pode ser definida pelas asas do aparelho ou por um lastro que se desloca no interior de seu corpo.
O consumo de energia durante o deslocamento é pequeno e a velocidade do aparelho chega até 2 km/h. Isto permite que o planador opere em regime autônomo por alguns meses.
Em 2012, Anatoli Chlemov, chefe do departamento responsável pelos pedidos do Ministério da Defesa da United Shipbuilding Corporation (holding estatal de construção naval da Rússia) havia informado que desenvolvimentos nessa área estavam em curso. Na ocasião, não ficou especificado como seriam esses veículos não tripulados subaquáticos e quando eles iriam aparecer no Exército Russo.
Sugere-se que tais aparelhos sejam utilizados para o monitoramento das condições oceanográficas operacionais em locais onde é impraticável ou impossível utilizar outros recursos e forças da Marinha para estes fins, especialmente na região ártica da Rússia. No futuro os planadores poderão substituir as boias de superfície da Marinha utilizadas para coletar informações sobre as condições do oceano.
De olho nos planadores
O Ministério da Defesa quer ter um aparelho capaz de operar em profundidades de até 300 m, movendo-se em velocidades de 0,3 a 0,5 m/s e que possa executar missões durante 90 dias, sem recarregar a bateria. O veículo não tripulado poderá carregar até 7 kg de equipamentos para a coleta de informações e será equipado com o módulo GLONASS. O controle remoto do aparelho poderá ser efetuado a uma distância de até 15 km.
"Os veículos não tripulados serão utilizados não só no ar, mas também no ambiente subaquático a fim de elevar a eficácia das ações no mar e das tropas costeiras", revelou uma fonte no Comando-Geral da Marinha.
Evguêni Tatarenko, professor do Departamento de Informação e Equipamentos de Medição da Universidade Estatal Técnica de Samara (SGTU, na sigla em Russo) contou que a Universidade já testou um pequeno planador no rio Volga e que no início do outono serão realizados testes com um aparelho maior.
"A Marinha ficou interessada em nosso planador, embora até agora não houve qualquer negociação. Testes de um aparelho com uma profundidade operacional de até 1 km estão programados para setembro", informou Evguêni Tatarenko.
Boris Gaikovitch, representante da CJSC Empresa de Produção Científica de Tecnologias Subaquáticas "Okeanos" lembrou que, no exterior, os planadores existem desde o final dos anos 80 do século passado. Existem projetos comerciais nos EUA e na Noruega e projetos militares norte-americanos e franco-alemães.
O Ex-chefe do Estado Maior Geral da Marinha, Viktor Kravtchenko, acredita que os planadores serão utilizados de maneira análoga pela Marinha russa.
"Tais aparelhos podem ser usados para monitorar o ambiente - os navios e os submarinos que passam. As informações recebidas serão analisadas em terra. A pesquisa do oceano também é prioridade para a Marinha – a salinidade da água, sua temperatura, as correntes, os canais de som em diversas profundidades", explicou Viktor Kravtchenko.
Hora errada
Por outro lado, o contra-almirante aposentado, Vladimir Zakharov, não vê perspectivas na utilização de tais aparelhos. Em sua opinião, os veículos não tripulados se encontram em um estágio muito inicial de desenvolvimento no Exército russo e o ambiente marinho traz muitas surpresas.
"Por enquanto, não há lugar para eles na Marinha. Ainda não chegámos a este nível, os drones estão apenas começando a ser utilizados no ar e debaixo d’ água existe um número muito maior de problemas. Os navios também podem ser detectados com um localizador, sem o uso de semelhantes aparelhos", afirma o perito.
O representante da CJSC Empresa de Produção Científica de Tecnologias Subaquáticas "Okeanos" acredita que, na produção em pequena escala, o custo dos planadores pode ser em torno de US $ 100 mil por unidade. Estão sendo disponibilizados 161,7 milhões de rublos para o desenvolvimento desse aparelho destinado à Marinha russa.