As autoridades ucranianas pretendem fazer aquilo que o Ocidente tinha proibido fazer a Viktor Yanukovich – expulsar a multidão da praça da Independência, situada em pleno centro de Kiev, a qual se tornou um símbolo da revolução democrática. Hoje, o país dilacerado pela guerra civil, pode ficar a braços com um descalabro completo.
Andrei Ivanov | Voz da Rússia
Na quarta-feira, o procurador-geral da Ucrânia, Vitali Yarema, ordenou ao Ministério do Interior e ao Serviço de Segurança tomar medidas visando a libertação da parte central de Kiev das “pessoas que se identificam como militantes do movimento pró-europeu Euromaidan”.
Vale recordar que, no outono de 2013 e no inverno de 2014, dezenas de milhares de pessoas reivindicaram ali a demissão do presidente Yanukovich, que se recusara a assinar o acordo de associação com a União Europeia, inaceitável, no seu entender, para a economia da Ucrânia. Sob uma fortíssima pressão popular, Yanukovich se viu obrigado a abandonar Kiev em fevereiro. Depois, o país elegeu para o cargo presidencial Piotr Poroshenko. Apesar das mudanças, na praça da Independência ficaram tendas onde permanecem muitos “heróis da revolução” ucraniana.
Eles não só vivem ali, mas, de vez em quando, cometem ações ilegais que causam a irritação das autoridades. Os “residentes da praça” se mostram descontentes com a subida de preços, tarifas dos serviços municipalizados, desemprego, lamentando que, depois da revolução, “uns oligarcas foram substituídos por outros”. Além disso, os “revolucionários ” apelam a que o Exército intensifique os combates aos separatistas pró-russos no sudeste.
De entre estas exigências, Kiev poderá, provavelmente, cumprir esta última à custa de destruição das cidades do leste, numerosas vítimas humanas e perdas do material bélico. Todavia, Kiev não é capaz de impedir o colapso econômico que se aproxima. Por isso, as autoridades decidiram ser mais fácil resolver o problema expulsando da praça da Independência os antigos e atuais manifestantes descontentes.
No entanto, os militantes do movimento Euromaidan não querem deixar a sua praça predileta, nem desocupar os edifícios que tomaram sob o seu controle durante as ações de protesto contra o governo de Yanukovich. Convém notar que, naquela altura, no auge das desordens em massa, a oposição não se opunha à ocupação de vários prédios administrativos, incitando ataques de bandidos armados aos cordões policiais, vendo nestas arbitrariedades “uma forma da luta revolucionária pela democracia”. Por isso, agora a oposição que subiu ao poder, ameaçou com o emprego da força para dispersar os manifestantes. Dito de outra maneira, as autoridades tencionam fazer aquilo que o Ocidente não tinha permitido ao antigo presidente para manter a ordem, tendo-o ameaçado com um julgamento no Tribunal de Haia.
Ora, este é mais um exemplo da política de duplos padrões: o presidente oligarca Yanukovich não teve o direito de dispersar comícios para manter a ordem constitucional, mas o atual presidente oligarca Poroshenko tem tal direito.
Os agressivos militantes do Euromaidan podem ocupar à força os prédios administrativos, mas as milícias populares do sudeste não podem.
Ao presidente Bashar Assad se proíbe empregar o Exército contra os terroristas que usam armas químicas, mas ao presidente Poroshenko não é proibido aniquilar as milícias do leste que não cometeram nenhum ato terrorista. Mais do que isso, ele tem o pleno direito de matar os habitantes locais do sudeste usando a artilharia pesada, tanques, sistemas de fogo simultâneo Grad, aviões e helicópteros.
Ao Kosovo é permitido se separar da Iugoslávia, dilacerada pelas tropas da OTAN, mas à Crimeia e à região de Donbass é rigorosamente proibido decidir seu destino e se afastar da Ucrânia, país no qual forças nazis chegaram ao poder.
Os EUA e os seus aliados têm assumido regularmente tal atitude simplista na solução de problemas internacionais. Se tal enfoque levasse ao menos a resultados positivos! Mas não, em toda a parte onde os americanos tentaram impor a sua ordem, usando o princípio de duplos padrões, a situação se tem agravado, redundando em caos.
Veja-se o Iraque como o último exemplo. Agora parece ter chegado a vez da Ucrânia. As tropas fiéis ao governo estão travando a guerra contra as milícias, pilhando vilas e aldeias, matando seus habitantes e criando fluxos de refugiados que para se safar estão partindo para a Rússia.
Os militantes do Euromaidan têm desempenhado um “papel de destaque” na operação punitiva, tendo aderido à Guarda Nacional e aos batalhões “privados”, financiados por oligarcas. Como irão se portar, no caso de Poroshenko, apoiado moralmente pelos EUA e pela União Europeia, empregar a força na praça da Independência? Eles já tinham ameaçado voltar a Kiev com as armas na mão para “ajustar contas” com os novos poderes que, na opinião de nazistas ucranianos, traíram os “ideais da revolução”.
Neste caso, na Ucrânia reinará um caos completo e todo o mundo irá entender que as desgraças delas não vieram da Rússia, mas sim dos EUA que têm apoiado e fomentado esta “revolução” absurda.