A mídia do país continua a acompanhar as consequências da catástrofe do avião da Malaysia Airlines no território da Ucrânia.
Dária Liubínskaia, especial para Gazeta Russa
Quase uma semana após a queda do avião da Malaysia Airlines no leste da Ucrânia, os jornais da Rússia continuam atentos aos desdobramentos da tragédia. Segundo o jornal "Kommersant", o Ministério da Defesa russoapresentou argumentos a favor da versão de que o Boeing poderia ter sido derrubado por militares ucranianos: estando sobre a região de Donetsk, a aeronave teria se desviado do corredor das vias aéreas. Dizer por que o avião saiu da rota só será possível após a decodificação das gravações de bordo, escreveu o "Kommersant".
Ainda citando o Ministério da Defesa, o jornal informou que no dia do acidente com o Boeing um agrupamento ucraniano de defesa antiaéreaestava em Donetsk e contava com "três ou quatro" sistemas de mísseisantiaéreos Buk, acrescentando que o corredor aéreo usado pelo avião abatido fica na zona de ação ucraniana.
O Ministério da Defesa negou as declarações das autoridades ucranianasde que no momento do acidente com o Boeing não havia nenhuma aeronave militar em Donetsk. Os militares teriam identificado uma aeronaveda Força Aérea ucraniana, supostamente um Su-25, enfatizou o"Kommersant".
Para o jornal, “todos esses argumentos não convencem o Ocidente", e a pressão sobre a Rússia deve crescer, com possibilidades de imposição de sanções ainda mais severas.
Na opinião do jornal "Nezavissimaia Gazeta", a Rússia se demonstrou despreparada para a catástrofe de Donetsk. Apesar disso, o jornalobservou que as autoridades russas estão tentando fazer declaraçõesequilibradas e calmas em relação ao ocorrido.
Nas últimas semanas, parecia clara a intenção do Kremlin de se retirargradualmente do conflito ucraniano, escreveu o "Nezavissimaia". "Ao mesmo tempo, Moscou insiste que não tem influência sobre a milícia e não pode forçá-los a nada: recentemente nem Kiev e nem o Ocidente acreditam nisso", disse o jornal. Para a publicação, "não se desenvolveu uma linguagem comum, na qual Kiev e Moscou estariam dispostos a falar sobrea situação no sudeste", pois "para Kiev, a milícia continua a ser de terroristas e separatistas, e a operação antiterrorista para Moscou continua a ser punitiva".
O jornal observou que, se a comissão internacional que investiga a tragédia concluirque o Boeing foi abatido por separatistas, a Rússia não poderá ocupar uma posiçãoindiferente. De acordo com o "Nezavisimaia", paira sobre Moscou a ameaça de novassanções econômicas e isolamento parcial."Será lançada uma versão detalhada própriados acontecimentos com o Boeing, bastante convincente no que diz respeito ao público interno e marginal em relação ao público externo", resumiu o jornal.
O portal "Gazeta.ru" publicou um artigo intitulado "Culpados pelo silêncio", no qual fala-se que depois de apenas quatro dias do acidente com o Boeing em Donetsk, acusações do Ocidente contra a Rússia se reduziram a apelos diplomáticos para contribuir com uma investigação completa.
A publicação acredita que a única opção possível de solução pacífica paratal situação é parar com as acusações infundadas e a escalada do conflitopor ambas as partes. O tom cada vez mais agressivo do Ocidente em torno da tragédia dá a impressão de dois extremos, observou o "Gazeta.ru": ou "há muito tempo já sabem o que houve na realidade, mas por alguma razãonão revelam a verdade, ou o conhecimento das partes não vai muito além de suas próprias ilusões".
Segundo escreveu o jornal, foram muitas as vezes em que acusaram a mídia russa de propaganda e falta de objetividade, mas os jornalistas do Ocidente, no dia do acidente, antes mesmo do início das investigações, acusaram a Rússia pela tragédia. O "Gazeta.ru" supõe que no momento atual não são necessárias "negociações diplomáticas" com formulações simplificadas, mas uma investigação totalmente transparente e uma troca mútua de todos os dados disponíveis.