Uma guerra entre os EUA e a China é quase inevitável, considera o professor Michael Vlahos do Colégio de Guerra Naval dos EUA.
Leonid Kovachich | Voz da Rússia
Num artigo publicado na revista The National Interest, o autor apresenta 10 argumentos a favor de sua tese. Outros peritos, contudo, pensam não existir quaisquer fundamentos para uma confrontação entre a China e os EUA.
A luta pelas matérias-primas entre os EUA e a China, o receio de uma expansão econômica da China, as crescentes ambições geopolíticas chinesas – tudo isto, na opinião de Michael Vlahos, tem criado ao longo dos anos um terreno fértil para o amadurecimento de um conflito militar. Mas desta vez a situação atingiu o limite.
O professor norte-americano chama a atenção para o fato de a possibilidade de a China participar em guerras futuras já ser abertamente discutido na principal mídia chinesa. A televisão estatal transmite seriados patrióticos, nos quais o exército chinês desempenha o papel de vingador por todos os séculos de ataques aos interesses chineses e pelos agravos que a China sofreu dos outros países. A guerra é apresentada como a solução para repor a justiça histórica e para o renascimento da grande nação chinesa.
Logo, as autoridades chinesas estão se preparando para uma guerra séria, já que começaram formando a opinião pública nesse sentido, considera o professor estadunidense. Mas Michael Vlahos, por qualquer razão, não dá muita importância ao fato de, no plano técnico-militar, a China continuar a não poder competir com os Estados Unidos. Será que a China iria arriscar tudo com base no princípio que o mais importante não é a força, mas o espírito combativo?
Parecem ainda mais forçados os argumentos do professor norte-americano sobre os objetivos da China numa guerra contra os EUA. Os norte-americanos atuais, escreve Michael Vlahos, perderam com o desmembramento da URSS o seu sonho principal que era derrotar seu inimigo mais perigoso. Depois da Segunda Guerra Mundial nem os japoneses, nem os russos, nem os radicais islâmicos justificaram as esperanças dos EUA em travar uma guerra em grande escala. Já a China satisfaz todos os critérios para ser o “vilão principal”, conclui Vlahos.
Quase simultaneamente com a publicação do artigo do professor norte-americano no The National Interest, o Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington divulgou um relatório chamado “Análise da estratégia chinesa para se tornar uma superpotência em desenvolvimento na Ásia”. Esse relatório argumenta o oposto: não existem quaisquer fundamentos para um confronto militar entre a China e os EUA, nem se preveem nos tempos mais próximos.
Os autores do relatório referem que, em primeiro lugar, nas relações entre os EUA e a China não existem disputas territoriais. Em segundo lugar, apesar de a China aumentar rapidamente seu potencial militar, a China não tem qualquer capacidade para levar a cabo uma corrida armamentista como o fazia a União Soviética. Finalmente, um conflito militar entre os EUA e a China é impossível nem que seja por os dois países serem extremamente dependentes um do outro, acrescenta o analista Leonid Ivashov:
“Os norte-americanos não conseguiram reestruturar rapidamente sua economia, incluindo a indústria, para abastecer seu mercado de produtos baratos. Os chineses, com os seus volumes de produção, também não conseguirão encontrar outro mercado como esse. Por isso, é inútil falar de qualquer guerra. Nenhuma das partes está interessada em criar problemas com a outra.”
Poderá surgir a questão: por que razão então o presidente chinês Xi Jinping consolida na sua pessoa o poder sobre todas as esferas de atividade do estado, inclusive sobre o exército? Ele lidera mesmo o grupo para a reforma do exército. Os últimos acontecimentos, nomeadamente a detenção do antigo vice do Conselho Central Militar Xi Caihou, apenas alimentam a teoria anti-chinesa da conspiração.
Os peritos do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais referem que essas mudanças só por si não revelam nada de extraordinário. Neste momento a China está concentrada na defesa da soberania do seu território e das vias mais importantes para o transporte de hidrocarbonetos – através do mar da China Meridional e pelo estreito de Malaca. Já a declaração, feita pelo presidente Xi Jinping na 3ª reunião plenária do 18º mandato do Comitê Central do Partido Comunista Chinês que a China se deve tornar numa forte potência naval, deve ser analisada como um apelo ao aumento da capacidade de defesa do país e não como uma preparação para um ataque militar, referem os autores do relatório.
Claro que a China está preocupada com a política norte-americana de “regresso à Ásia”, mas a China irá sobretudo combater os EUA pela influência na região da Ásia-Pacífico através do poder econômico. Portanto, não existem quaisquer fundamentos para uma agressão militar por parte da China, concluem os especialistas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.