Ataques a postos de controle do Exército continuam no Egito apesar de esforços de estruturas militares. O maior dos últimos meses foi o ataque ao posto fronteiriço egipcio em Al-Wadi al-Jadid, perto da fronteira com a Líbia. A situação continua sendo grave também em algumas regiões do Sinai, península vizinha à Faixa de Gaza, sediada e metralhada por israelenses.
Amru Omran | Voz da Rússia
Todos estes acontecimentos são elos de uma cadeia, considera Magdy el-Daqaq, analista e antigo redator-chefe do jornal Al-Hilal:
- Aquilo que aconteceu na nossa região não foi uma Primavera Árabe, mas um caos semeado por serviços de inteligência norte-americanos com o objetivo de desintegrar religiosamente o mundo árabe. Trata-se de tentativas de formar um Estado xiita numa parte do Iraque, um sunita em outra e um Estado cristão numa parte do Líbano.
No quadro desse projeto, Israel pode realizar seu sonho antigo, tornando-se um Estado puramente hebreu sem árabes – cristãos e muçulmanos. Mas se acontecer assim, tal não significa que não haverá conflitos. Desde que se comece a combater, a guerra já não poderá ser parada. Cristãos, muçulmanos e hebreus continuarão guerras na região já ao nível estatal e o Ocidente irá arbitrar seus litígios.
Em qualquer caso, esse conflito será vantajoso para os países ocidentais, liderados pelos EUA, e não para os habitantes da região. Já começamos a pagar por este projeto alheio, em primeiro lugar o Egito.
Em tempos, os EUA tinham entendido que o Egito é o principal obstáculo na via rumo ao caos na região. Quando os norte-americanos pretendiam construir bases militares no Egito, o presidente Hosni Mubarak rejeitou essa ideia. Ele não quis também renunciar à sua posição na questão palestiniana. Mubarak não autorizou a instalação de estações americanas de controle eletrônico e sempre tentava proteger o nosso Exército. Não dava passos ao encontro da estratégia dos EUA. Então foi decidido eliminar o presidente Mubarak.
Essa história continua agora. Os EUA pretendiam materializar essa conspiração com a ajuda dos grupos terroristas orientados pela Irmandade Muçulmana. A revolução de 30 de junho destruiu os objetivos catastróficos da conspiração de 25 de janeiro que teve por fim fazer dinamitar o Estado do Egito. A derrubada da Irmandade Muçulmana atrapalhou aos Estados Unidos. Com certeza, os americanos não irão guardar silêncio, porque seus interesses são ameaçados. Uma parte daquilo que acontece no Sinai diz respeito à tentativa de envolver o Egito em ações militares para concretizar parte do projeto. Se palestinianos passarem sob pressão para uma parte do Sinai, o projeto de formação de um Estado palestiniano independente perderá a atualidade.
- Qual deve ser a posição do Egito em relação aos acontecimentos na Faixa de Gaza?
- O Egito deve atuar à margem da posição demarcada há já dez anos em relação a essa questão. Este problema diz respeito à segurança nacional do nosso país.
O Egito vai ajudar os palestinos e exigir diplomaticamente que seja posto fim à confrontação. O Egito vai abrir a fronteira para os feridos e enviar ajuda humanitária. Vai contatar capitais do mundo para regularizar politicamente esse problema.
O Hamas tenta repetir agora os acontecimentos de 2008, quando 500 mil palestinianos se encontravam na fronteira egípcia. O Egito vai atuar com a mesma sabedoria que a direção egípcia liderada por Mubarak, porque os interesses do povo e a segurança nacional não se alteram com a mudança dos dirigentes.
Na memória dos egípcios ficam gravados assassinatos de nossos soldados, destruições e ataques a prisões, assim como os restantes crimes cometidos pelo Hamas. Mas o Egito não identifica simples palestinos com o Hamas terrorista. O Egito sempre apoiou e continua a apoiar os palestinos na proteção de seus direitos legítimos.