Nos limites da Faixa de Gaza, jornalistas e curiosos se reúnem para observar as manobras militares: de um lado, o Exército israelense, do outro, militantes do Hamas. Um espetáculo entre solidariedade e descrença na paz.
Bettina Marx | Deutsch Welle
A partir de uma colina nos limites da Faixa de Gaza, pode-se avistar Beit Hanoun, a cidade no extremo nordeste da delgada faixa litorânea, e, mais além, os arranha-céus de Beit Lahia. Neste dia quente e abafado de verão, a área está envolvida pela névoa.
Mesmo assim, veem-se os tanques de combate israelenses que adentram as casas nos limites de Beit Hanoun, fazendo-as tombar. Escutam-se os impactos surdos da artilharia e, naturalmente, o zumbido grave dos veículos aéreos não tripulados atravessando o céu de Gaza.
Uma equipe de televisão se instalou na colina. Um repórter do canal israelense i24 noticia em francês sobre o que acaba de ocorrer. Diversos palestinos saíram por um túnel, para executar um atentado em Israel ou para capturar reféns. No entanto foram descobertos e mortos pelo Exército.
O jovem Choffi, de uma localidade ao norte de Tel Aviv, viu tudo de perto. "Os cartuchos das balas voaram até aqui. Eu escutei o silvo das balas e das granadas e me joguei no chão", conta.
Choffi é casado e tem dois filhos. Na noite anterior, foi de carro em direção a Gaza e pernoitou na colina, a fim de ver a ofensiva israelense com os próprios olhos. Ele diz que queria mostrar solidariedade aos habitantes das localidades israelenses em torno da Faixa da Gaza.
"Olha", exclama subitamente. "Lançaram mísseis ali. São do tipo Grad." E, de fato, da enevoada Faixa de Gaza, projéteis sobem quase verticalmente para o céu, deixando atrás de si um rastro branco. Pouco depois, as cidades litorâneas de Ashkelon e Ashdod registram bombardeios.
Descrença em solução pacífica
Os amigos Meir e Shmuel são de Ashdod. Indagados por que estão ali na colina à beira o território palestino, Shmuel responde, solícito: "Eu queria mostrar aos meus amigos que eles disparam sobre Gaza, porque eles atiraram em nós durante uns oito anos. Fico feliz que eles agora estejam sendo mortos. Não os civis, mas os terroristas."
Na Europa, diz Shmuel ¸as pessoas entendem errado tudo o que acontece aqui: "Nosso Exército é muito moral. Ele joga panfletos e avisa os moradores antes de atacar. Que Exército do mundo faria uma coisa assim?"
Ele não acredita que o conflito será resolvido de modo pacífico. Assim como Meir, ele é religioso, ambos usam kipá e prenderam atrás da cabeça seus cachos de cabelo laterais. "Nós oramos pelos nossos soldados para que retornem sãos e salvos. Afinal de contas, também eles são civis de uniforme", conta.
Nesse ponto, o amigo mais velho interfere na conversa. "Se alguém quer te matar você precisa se precipitar e matá-lo primeiro. Não há alternativa. Aqueles ali são um povo bárbaro." Os palestinos, afirma ele, não estão dispostos a viver em paz com os judeus. "Os árabes querem nos expulsar daqui. Eles querem que não tenha mais judeus aqui."
Patriotas, antes de tudo
À essa altura, a israelense Channel 2 TV, a mais popular do país, também montou suas câmeras na colina com vista para a Faixa de Gaza. O repórter Yoav Even veste o colete protetor e começa a transmissão ao vivo. Ele está em ação sem parar há duas semanas, desde o início da ofensiva.
Na realidade, Yoav é responsável por temas de saúde, mas, nas guerras de Israel, sempre aparece ao vivo diante das câmeras. Foi assim na ofensiva anterior em Gaza, em 2012. E na guerra do Líbano, em 2008, ele primeiro noticiou durante uma semana a partir do norte de Israel, antes de ser recrutado como reservista.
Yoav Even comenta: ele pode ser jornalista, mas, em primeiro lugar, é um patriota de Israel. "Somos israelenses, antes de tudo. E quando um soldado israelense cai, fico naturalmente triste. Qualquer um que viva aqui compreende isso. Todo o mundo sabe que estamos lutando pela nossa existência."