Atiradores furtivos não são geralmente a primeira associação que se faz com o Exército Vermelho, que era mais orientado a grandes ofensivas e batalhas de tanques. Mas, mesmo assim, havia muitos atiradores nas fileiras soviéticas, armados principalmente com um rifle incomum que desafiava as operações convencionais.
Aleksandr Korolkov | Gazeta Russa
No serviço por 50 anos nos exércitos soviético e russo, o Dragunov (Sniperskaya Vintovka Dragunova – SVD) pode hoje ser criticado pelas limitações da sua mira ou desvio em tiros de longo alcance. Mas um verdadeiro atirador terá inerente respeito por esse projeto veterano que ainda reforça o poder de fogo de 26 países, e deixou seu rastro mortal na maioria dos conflitos mundiais desde 1960.
Tal como o fuzil de assalto Kalashnikov, o Dragunov recebeu esse nome em homenagem ao seu inventor. Embora amplamente classificado como arma de atirador de elite, foi concebida para aumentar a eficácia em alcance de tiro para 600 metros (656 jardas), contra os 400 metros (437 jardas) de alcance da AK47.
Seus projetistas se guiaram em duas direções. A arma tinha que fornecer um alto grau de precisão e, paralelamente, precisava ser confiável e robusta o suficiente para suportar as mais diversas condições de batalha em campo.
A “montagem grosseira” das peças do SVD resultava em maior precisão de tiro. Projetada para uso não por atiradores profissionais, mas por recrutas de 18 anos recém-saídos da escola, também tinha que ser semiautomática, oferecer uma cadência razoável de fogo, e ser de fácil manuseio. Foi Evguêni Dragunov, um especialista em armas esportivas de longa linhagem de armeiros, que venceu o concurso de projeto, batendo o modelo baseado na AK47 de Mikhail Kalashnikov.
O SVD foi uma das primeiras armas de precisão construída com tal propósito, incorporando características revolucionárias, como uma coronha de rifles esportivos equipada com um punho de pistola, um descanso destacável, mira de retícula PSO-1 com escalas laterais para ajustar o alcance e a elevação, além de filtro de luz. No modelo de arma de infantaria, o rifle vinha também com uma baioneta.
Além de ser altamente preciso, o rifle tinha uma configuração leve e compacta, era capaz de fazer disparos semiautomáticos e funcionava bem em quaisquer condições climáticas. Comparado a rifles convencionais com ferrolho que poderiam disparar cinco tiros precisos por minuto, o SVD podia disparar até seis vezes mais.
De um modo geral, foi uma arma de alta performance com reputação equivalente. “Em todo o meu tempo na Tchetchênia, nunca ouvi ninguém falar mal do SVD”, diz Andrêi Machukov, ex-combatente no Cáucaso. “Um atirador poderia facilmente apanhar um inimigo em uma colina a 700 metros com uma Dragunov.” O SVD também “gozou de certo fascínio entre os compradores dos Estados Unidos, por causa de seu estilo e relativa raridade no país”, publicou o site americano Guns Holsters and Gear no 50º aniversário do rifle.
Uso disseminado
Embora raras nos Estados Unidos, são bem conhecidas das tropas americanas que serviram, em zonas de conflito no exterior. No Afeganistão, a Dragunov salvou o dia em 3 de outubro de 2009, quando o sargento americano Clinton Romesha pegou um rifle que havia sido derrubado por um soldado afegão durante um ataque com cerca de 300 insurgentes do Taliban na província de Nuristan.
Combinando treinamento, coragem, grande alcance de mira e cadência de tiro, Romesha tomou a arma do inimigo e, em seguida, rendeu mais três combatentes que tinham se infiltrado nas posições norte-americanas. Ele foi premiado com a Medalha de Honra por suas ações.
Em mãos treinadas, o SVD pode ser devastadora também para as aeronaves. Em 1989, um guerrilheiro no conflito civil em El Salvador usou a arma para derrubar um ataque de caça estatal Cessna, acertando o piloto.
Atualizações
A necessidade de atiradores entre as unidades de infantaria levou o Pentágono a desenvolver um equivalente, o M110 SASS (Semi-Automatic Sniper System). Construído 44 anos depois, tem inúmeras vantagens técnicas, incluindo características ópticas aperfeiçoadas. Mas, em geral, a precisão quase a mesma do SVD, e a M110 é inferior em alguns aspectos.
Com o tempo, o rifle Dragunov foi recebendo modificações. Um modelo menor foi produzido para as forças soviéticas no Afeganistão nos anos 1980. No início de 1990, uma versão de carregamento mais rápido foi entregue para as forças do Ministério do Interior russo. E, em 2006, o Exército nacional para as adotou o fuzil de precisão semiautomático SVDK de nove milímetros.
Hoje em dia, o filho de Evguêni Dragunov, Aleksêi, dá sequência ao trabalho da família. Segundo ele, o desenvolvimento de rifles de atiradores agora não foca em alcance e calibre, mas em cadência de tiro e eficiência de carregamento. “O carregamento automático do SVD mantém sua popularidade entre os militares pela capacidade de combate a curta distância”, afirma.