O governo da Coreia do Norte propôs esta segunda-feira que, a partir de 4 de julho, Seul e Pyongyang se abstenham de provocações militares, suspendendo ainda “a guerra e a propaganda psicológicas”. Os observadores qualificam a iniciativa como “um gesto de boa vontade” em vésperas da visita do presidente da China, Xi Jinping, à Coreia do Sul.
Elena Nikulina | Voz da Rússia
Não é fácil dizer por quanto tempo se poderá prolongar tal disposição pacifista de Pyongyang. Na semana passada, a Coreia do Norte realizou o lançamento de dois mísseis balísticos, contornando a proibição da ONU. Comentando o evento, Kim Jong-un anunciara que as condições de paz, tão almejadas pelo povo norte-coreano, não podem ser criadas por ninguém, nem substituídas por outras iniciativas. Nas suas palavras, uma paz sólida pode ser alcançada quando o país atingir um potencial defensivo, capaz de protegê-la contra quaisquer provocações.
Entretanto, políticos e jornalistas ocidentais consideram que a solução dos problemas acumulados na Península da Coreia passa pela desnuclearização e a união das duas Coreias, o que será possível desde que o atual regime em Pyongyang seja desmantelado. A tese voltou a ser divulgada em uma conferência internacional de jornalistas em Seul. É notório que a eventual queda do regime, na sua opinião, “poderá ser motivada peo assassinato do líder norte-coreano na sequência de uma revolta popular”.
Ao mesmo tempo, para o derrubamento do regime não existem motivos, nem premissas, sustenta o cientista político russo Serguei Strokan, observador do periódico Kommersant:
“O mantra quanto à necessidade premente de derrubar o regime norte-coreano tem sido repetido por políticos, analistas e jornalistas há já muitas décadas. Por outro lado, há uma impressão de a Coreia do Norte ter passado o patamar mais baixo na sua existência miserável, já não há crise, embora persista um mal-estar ao qual os coreanos estão habituados. Para resolver o problema coreano não é preciso derrubar o regime. Se veja o exemplo do Irã em que as mudanças se iniciaram com a subida ao poder de um novo presidente, mas a derrocada do complicado sistema de poder não aconteceu. Um colapso do regime norte-coreano será uma catástrofe para os países vizinhos, incluindo a Rússia”.
Ora, a Coreia do Norte tem de passar por mudanças paulatinas, seguindo o exemplo da China a qual se tornou a segunda potência econômica mundial sem ter sido alterado o seu sistema político e posto em causa a estabilidade interna ou externa. O objetivo das conversações sobre a problemática coreana sob a alçada do sexteto não é derrubar o regime, mas sim garantir um avanço da Coreia do Norte rumo a reformas, podendo ela se transformar num país aberto e responsável, considera o perito russo.