Um navio espião chinês permanece nas águas do arquipélago do Havaí, onde possivelmente vigia os exercícios navais internacionais RIMPAC, organizados pela marinha dos EUA. O paradoxo é que este ano a própria China participa nessas manobras pela primeira vez.
Igor Denisov | Voz da Rússia
É de referir que a informação sobre a presença do navio de reconhecimento chinês surgiu pela primeira vez vinda de fonte anônima. O artigo, acompanhado da fotografia do navio com o número de amura 851 bem visível, foi publicado no site da organização não-governamental norte-americana United States Naval Institute. Esta associação, criada ainda no século XIX, se dedica ao estudo da história e do desenvolvimento atual da guerra no mar e é composta principalmente por oficiais na reserva da marinha norte-americana.
Parece que os próprios organizadores dos exercícios não estariam muito interessados que se divulgasse a informação sobre o inesperado “visitante” chinês. É possível que o navio de reconhecimento Beijixing (ao qual pertence o número 851) já se encontre há vários dias, ou talvez semanas, na área dos exercícios, os quais este ano decorrem de 26 de junho a 1 de agosto.
Não é preciso adivinhar quais são os objetivos do “número 851” nas águas do Havaí. Esse navio de reconhecimento entrou ao serviço em 1999 e foi atribuído à Frota Oriental do exército chinês. Anteriormente, segundo se depreende dos dados dos serviços secretos norte-americanos e japoneses, o Beijixing foi avistado com maior frequência perto do arquipélago do Japão. Os peritos militares pensam que este navio é um dos navios auxiliares mais bem apetrechados da marinha chinesa. O navio, cuja guarnição é composta por 250 elementos, é capaz de realizar eficazmente vigilância radioeletrônica de alvos aéreos e navais.
Segundo explicaram porta-vozes do comando da Frota do Pacífico dos EUA, o navio espião chinês tem permanecido todo este tempo dentro da zona econômica exclusiva norte-americana, sem entrar nas águas territoriais dos EUA.
Assim, formalmente os chineses estão agindo dentro das normas do direito internacional, o qual se rege pelo princípio da liberdade de navegação, explicou o serviço de imprensa da Frota do Pacífico dos EUA. O porta-voz da frota, capitão Darren James, referiu que a China não informou os EUA sobre o estacionamento desse navio. “Mas nós não estranhamos que o navio se encontre aqui. Nós tomámos todas as medidas necessárias para proteger as informações sensíveis”, sublinhou.
O perito militar russo Konstantin Sivkov supõe que não há nada de extraordinário na presença do navio de reconhecimento chinês na área de grandes exercícios navais:
“A atividade dos navios de reconhecimento de qualquer país faz parte das atividades de rotina de uma marinha de guerra. O reconhecimento é realizado a partir de navios de superfície em regime permanente. Se um país qualquer realiza manobras, logo os países que o consideram como concorrente nessa região do mundo enviam obrigatoriamente suas forças de reconhecimento para a zona dos exercícios.
Neste caso isso prova que a China já tem ambições oceânicas, assim como o fato de nas relações entre os EUA e a China, além das tendências para a cooperação, existir um forte elemento concorrencial. A própria participação da China no RIMPAC 2014 não exclui a realização de vigilância a partir de navios adicionais, porque os próprios navios participantes podem não ser admitidos em partes mais sensíveis dos exercícios, enquanto o comando militar chinês gostaria de obter informações sobre elas.”
O perito tem a certeza que o alvo principal da espionagem são os navios norte-americanos. Durante quase todo o tempo, o Beijixing se encontrava perto do porta-aviões norte-americano USS Ronald Reagan e do grupo de ataque de porta-aviões dos EUA.
Outra razão possível para se ter enviado o Beijixing para a região do Havaí poderá ter sido a intenção da China em expressar seu descontentamento por os EUA continuarem suas atividades de espionagem na zona econômica exlusiva chinesa. A China se opõe a isso de uma forma cada vez mais firme.
Aqui podemos recordar um perigoso incidente que ocorreu no mar da China Meridional na primavera de 2009, quando vários navios chineses decidiram expulsar o navio de vigilância da marinha norte-americana USNS Impeccable. Depois de uma série de manobras perigosas, o navio norte-americano teve de abandonar essa zona do Pacífico.
Agora Pequim demonstra que também é capaz de espiar longe das suas águas. Parece que desta forma a parte chinesa convida os Estados Unidos a definir regras do jogo mais claras no oceano Pacífico ou, pelo menos, quer enviar a Washington um sinal para que os EUA não interfiram nas disputas territoriais da China com seus vizinhos.