A afirmação de que um confronto da China com os Estados Unidos seria desastroso para o mundo é do presidente da China Xi Jimping na abertura do evento Diálogo Econômico e Estratégico EUA-China, em Pequim.
Ian Talley
The Wall Street Journal, de Pequim | DefesaNet
O presidente da China, Xi Jinping, alertou ontem que um confronto entre a China e os Estados Unidos seria um "desastre" para o mundo, num momento em que os dois países dão início a conversas de alto nível para tentar reverter a deterioração de suas relações nos últimos 12 meses.
Os dois países têm que "quebrar o velho modelo de conflito e oposição entre grandes potências", afirmou Xi na abertura do evento Diálogo Econômico e Estratégico EUA-China, em Pequim.
"A cooperação entre a China e os Estados Unidos pode ajudar ambos os países e o resto do mundo a alcançar grandes coisas", disse Xi a cinco membros do gabinete do presidente Barack Obama e vários outros altos assessores do governo americano.
"Um confronto seria um desastre para os dois países e o resto do mundo", disse Xi, apenas um ano depois de seu primeiro encontro oficial com Obama.
As conversas deste ano, que vão durar dois dias, não têm exatamente o objetivo de resolver antigas disputas comerciais e acalmar tensões geopolíticas, dizem autoridades e analistas. A meta principal é garantir que a relação das duas maiores economias do mundo não se transforme em um conflito hostil, uma dinâmica que o século passado provou que pode provocar conflitos mundiais.
"Ao longo da história, tem havido uma recorrência de rivalidades estratégicas entre potências estabelecidas e em ascensão", disse o secretário de Estado americano, John Kerry. EUA e China podem evitar tal inimizade, disse um alto diplomata americano. "Não é inevitável. É uma escolha."
Com uma Marinha recém-modernizada, uma economia que ameaça ultrapassar a americana como a maior do mundo e influência crescente, a nova liderança da China vem se fortalecendo na área geopolítica. Isso vem complicando a já instável relação com os EUA.
As tensões entre Washington e Pequim se agravaram nos últimos meses à medida que os EUA confrontaram a China em relação à segurança cibernética e apoiaram aliados em suas disputas ao longo de suas fronteiras marítimas.
O governo americano receia que as táticas agressivas da China possam levar a uma escalada perigosa nas disputas regionais, incluindo na que envolve o Japão, aliado dos EUA. Um surto recente de incidentes em águas disputadas elevou a preocupação americana.
As autoridades chinesas, por sua vez, temem que o reposicionamento dos EUA na Ásia seja basicamente uma iniciativa para conter a ascensão do país na região e encorajar vizinhos a desafiar a China. A China também ficou irritada com o indiciamento, em maio, de cinco oficiais militares chineses sob acusações de roubo cibernético - um tapa na cara político desferido na esteira das alegações feitas por Edward Snowden de que o país conduziu amplas atividades de espionagem contra a China.
Embora as delegações dos dois países devam abordar uma série de assuntos costumeiros, como políticas de câmbio, direitos de propriedade intelectual e redução de emissões de gases do efeito estufa, melhorar as relações é a maior prioridade. "Trata-se fundamentalmente de ter as conversas certas para manter uma relação saudável, dinâmica com a China, que não derive para uma inevitável rivalidade estratégica ou o confronto", disse uma autoridade americana antes do evento.
Yuan Zheng, acadêmico sênior do Instituto para Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, que é afiliada ao governo chinês, diz: "A coisa mais importante para os EUA e a China, nessas reuniões, é estabelecer canais de comunicação que impeçam o desdobramento de crises."
Num sinal das prioridades de Pequim, Xi disse a Henry Paulson, ex-secretário do Tesouro dos EUA, que visitou a China na semana passada, que os dois países deviam "plantar mais flores e não espinhos", segundo a mídia chinesa.
"Essa é a mensagem para os EUA, que essa é uma oportunidade para melhorar o tom e melhorar a atmosfera do relacionamento", diz Bonnie Glaser, especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington, e consultora do governo dos EUA para o Leste da Ásia. "Eles estão frustrados conosco; nós estamos frustrados com eles."
Glaser diz que, se os EUA puderem convencer a China de que a guinada americana na direção da Ásia não pretende, de fato, fomentar uma coalizão contra a China na região, "já será um grande feito".
Kerry tentou ressaltar esse ponto no seu discurso na abertura do evento. "Permitam-me enfatizar para vocês hoje: os EUA não estão procurando conter a China", disse, acrescentando que Washington quer uma China estável e próspera, que "desempenhe um papel responsável nos assuntos mundiais".
Em nota, Obama disse que o diálogo deve "mostrar ao mundo que, mesmo numa relação complexa como a nossa, continuamos determinados a garantir que a cooperação defina a relação".
Mas, numa indicação dos limites atuais dessa cooperação, uma das poucas áreas de consenso nas conversas em Pequim foi um acordo de coordenação no combate ao tráfico de animais selvagens.