O principal órgão europeu que registra os refugiados que entram na União Europeia constatou um brusco aumento de ucranianos que abandonam o seu país. As últimas estatísticas do Gabinete Europeu de Apoio em matéria de Asilo (GEAA) são ilustrativas: o número de requerentes de asilo na Europa aumentou sete vezes apenas de março a maio deste ano! Mais de duas mil pessoas manifestaram em três meses seu desejo de ficar na Europa.
Andrei Fedyashin | Voz da Rússia
Nos últimos 20 anos o número médio de requerentes de “proteção” legal na Europa provenientes da Ucrânia foi de cerca de 100 pessoas por mês, informou o diretor dessa agência Robert Visser. Em maio deste ano o GEAA já registrava 700 pedidos por mês.
No seu relatório anual os peritos do GEAA aconselhavam os europeus a não se congratularem por esses números serem tão pequenos. Isso é apenas o “início do fluxo” procedente da Ucrânia. Robert Visser refere que até agora a União Europeia nem sequer analisava os pedidos de ucranianos para a atribuição de asilo. Mas agora, depois do início da operação militar no leste da Ucrânia, esses pedidos vão passar a ser considerados.
Os peritos russos consideram que, tendo em conta que a situação no leste, em Donetsk e em Lugansk, irá continuar se agravando, o fluxo de refugiados que fogem da Ucrânia irá apenas aumentar. As perspectivas de estabilização da situação no país são muito indefinidas, e a estabilização econômica não passa de miragem, considera Vassili Ukharski, analista de macroeconomia da companhia internacional de investimentos UFS:
“A região terá de ser reconstruída, a população que já abandonou, parcial ou totalmente, estas regiões em guerra deverá regressar. Tudo isso poderá demorar muito tempo. Os gastos financeiros serão enormes. Neste momento ninguém pode sequer prever quando poderão a Ucrânia, Donetsk e Lugansk regressar à normalidade.”
Nesse contexto, os candidatos a uma autorização de residência na Europa, depois da assinatura em junho do acordo de associação com a União Europeia, aumentam em vez de diminuírem. Os jornais europeus explicam esse fenômeno de uma forma simples: quase todos os requerentes de asilo ucranianos já vivem ou trabalham na Europa, leem os jornais europeus, conhecem as tendências europeias e sabem qual é o verdadeiro conteúdo do acordo de associação. Eles compreendem aquilo que é deliberadamente ocultado no seu país. Na Europa ninguém fala de uma adesão de Kiev à União Europeia não só nos próximos 5 a 10 anos, mas sequer dentro de um futuro previsível.
Aos ucranianos ninguém explicou a essência do acordo, o qual nem está traduzido para a língua ucraniana, refere o diretor do Instituto Internacional dos Novos Estados Alexei Martynov:
“Muitos ucranianos continuam acreditando que a associação é o primeiro passo para a adesão à União Europeia, mas esse tipo de associação com a UE também tem uma série de países latino-americanos. O Egito e a Turquia já estão associados à União Europeia há várias décadas, mas nenhum desses países entrou na União. A associação e a adesão são estatutos diferentes. Quando existiu uma extrema necessidade de aumentar a União Europeia à custa dos países do Leste da Europa, nenhum deles teve de percorrer a etapa de país associado. A absorção decorreu de forma imediata e concreta. Isso também aconteceu, por exemplo, com a Polônia.”
A Polônia, aliás, é o principal posto avançado da marcha migratória ucraniana para a Europa. Segundo os dados oficiais, na Polônia trabalham legalmente cerca de 250 mil ucranianos. Contudo, o Instituto de Demografia e Estudos Sociais ucraniano revela que o número de ucranianos ilegais na Polônia é muito superior: eles representam mais de 500 mil pessoas. Na Alemanha os imigrantes ilegais ucranianos são pouco mais de 200 mil, na República Tcheca eles são até 100 mil, na Itália – 200 mil, em Espanha – cerca de 100 mil, em Portugal – cerca de 65 mil e na Grécia – cerca de 50 mil pessoas.
Em geral os ucranianos não querem ficar na Polônia, mas sim na Alemanha, na Noruega ou na Suíça. De acordo com o mesmo instituto, mais de 15 por cento dos ucranianos não querem hoje viver na Ucrânia e desejam trabalhar na Alemanha ou obter aí autorização de residência.
Mas o maior fluxo de refugiados por enquanto continua a ter como destino a a Rússia. Segundo os dados das autoridades russas de imigração, desde março a Rússia recebeu cerca de meio milhão de ucranianos. É verdade que nem todos são considerados como refugiados porque a maioria vive com seus familiares que residem na Rússia. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados registrou mais de 160 mil refugiados.
Kiev nega totalmente esses fatos, porque se o reconhecesse teria dificuldades em explicar por que é que centenas de milhares de ucranianos fogem da “operação de libertação” governamental, que está decorrendo no leste do país, precisamente para a Rússia. Entretanto Kiev classifica Moscou de agressor e afirma que são precisamente os voluntários de Donetsk e de Lugansk que bombardeiam as suas próprias cidades e aterrorizam a população.