Nas regiões da Rússia que fazem fronteira com a Ucrânia cresce vertiginosamente a quantidade de refugiados ucranianos. Fica a sensação que com os bombardeamentos aéreos e de artilharia o exército ucraniano expulsa propositadamente as populações civis dos territórios do Sudeste da Ucrânia.
Andrei Ivanov | Voz da Rússia
É uma situação muito estranha: a mídia ucraniana e ocidental informa que no Sudeste da Ucrânia o valoroso exército ucraniano está destruindo os separatistas e terroristas, defendendo deles a população civil, mas os habitantes, que alegadamente sofreram às mãos dos bandidos pró-russos, não foge para as regiões centrais da Ucrânia, mas para a Rússia.
Segundo os dados do chefe do Serviço Federal de Imigração da Rússia, Konstantin Romodanovsky, nos últimos dias os refugiados provenientes da Ucrânia atingiram no distrito fronteiriço russo de Rostov as 400 mil pessoas. Elas são alojadas em hotéis e em campos de férias infantis privados, onde recebem tudo o que necessitam. Há poucos dias o chefe da administração do presidente da Rússia, Serguei Ivanov, se encontrou com os refugiados.
Os refugiados relataram a situação no Sudeste da Ucrânia – os constantes bombardeamentos das casas, hospitais, jardins-de-infância e templos pela artilharia ucraniana. Relataram que os militares ucranianos estupram e matam mulheres e que, contrariando as promessas de Kiev, eles não proporcionaram corredores para uma evacuação segura da população civil, cuja maioria é constituída por mulheres, crianças e idosos. Por isso a fuga para a Rússia decorreu debaixo de tiroteio e explosões de projéteis de artilharia. Serguei Ivanov classificou os acontecimentos na Ucrânia como uma “guerra civil que se transforma em genocídio do seu próprio povo”.
O Ocidente não quer ver esse genocídio. A porta-voz oficial do Departamento de Estado dos EUA, Jen Psaki, declarou, em mais uma coletiva de imprensa, que na Rússia não há quaisquer refugiados ucranianos. À pergunta sobre quem são então os milhares de ucranianos que nas últimas semanas e nos últimos dias têm afluído à região de Rostov, ela respondeu: “São turistas que vieram respirar o ar da montanha. Todos sabem que o ar das montanhas de Rostov tem propriedades terapêuticas”.
O Ocidente também não vê o assassinato de civis pelo exército ucraniano ou a destruição de edifícios e infraestruturas. Numa série de localidades dos distritos de Donetsk e de Lugansk já não funcionam os encanamentos de água e elas se tornam inabitáveis. Fica a ideia que o exército ucraniano pretende, recorrendo a essas destruições bárbaras e à repressão da população civil, expulsá-la propositadamente do Sudeste. Para quê?
Na blogosfera russa foi encontrada uma explicação perfeitamente lógica para este comportamento do Ocidente. Segundo as declarações das autoridades ucranianas, o Sudeste da Ucrânia é rico em gás de xisto. As reservas previsíveis apenas da jazida de Yuzovskoe (sul do distrito de Kharkov e norte do distrito de Donetsk) constituem cerca de 4 trilhões de metros cúbicos, os quais ao preço de 400 dólares por cada mil metros cúbicos poderão render a seus donos 1600 trilhões de dólares. É precisamente por esses trilhões de metros cúbicos e de dólares que se desenrola agora esta luta.
As autoridades de Kiev e seus protetores estadunidenses, que sonham em privar a Rússia de vender seu gás à Europa, tencionam colocar sob seu controle esses campos de gás de xisto. Mas isso é pouco.
Sabemos que a exploração do gás de xisto é extremamente nociva para o meio ambiente. Mesmo nos EUA, onde ela é realizada sobretudo em regiões desérticas, a população expressa seu descontentamento. Mas na Ucrânia as jazidas de gás de xisto estão localizadas em regiões densamente povoadas e, além disso, ocupadas por empresas industriais, incluindo químicas e de armamento.
O que irá acontecer com esta região em caso de ocorrerem os prováveis terremotos que normalmente acompanham as tecnologias atualmente usadas na extração do gás de xisto? Seria uma catástrofe ambiental e tecnológica. Essas perspectivas não iriam agradar à população local e por isso ela iria, provavelmente, protestar contra o desenvolvimento da exploração do gás de xisto. Logo, essa população terá de ser simplesmente removida. É por isso que Kiev necessita desta “operação antiterrorista” e não para proteger a população dos “separatistas” e dos “terroristas” ou para instaurar a democracia.