A Rússia irá vetar no Conselho de Segurança da ONU o projeto de resolução sobre a Síria se ele referir a possibilidade de introdução de sanções e o uso da força militar, avisou o embaixador da Federação Russa na ONU, Vitali Churkin.
Natalia Kovalenko | Voz da Rússia
Ele referiu igualmente que os planos de Washington para gastar 500 milhões de dólares no treinamento e equipamento da oposição síria só agravam um conflito, que já ultrapassou as fronteiras da Síria. A região já enfrenta uma ameaça terrorista sem precedentes que decorre, sobretudo, do agrupamento Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL). O armamento dos inimigos do regime de Bashar Assad apenas agrava a situação.
A Rússia irá vetar o projeto de resolução humanitária do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, se ele prever sanções ou a possibilidade de uma operação militar contra Damasco. Os autores do documento, a Austrália, o Luxemburgo e a Jordânia, insistem numa referência no texto ao Capítulo VII da Carta das Nações Unidas. Esse capítulo prevê a aplicação de medidas coercivas, se a ajuda humanitária não chegar, por qualquer razão, ao seu destino.
Na opinião de Moscou isso não resolve o problema. Se a ajuda humanitária, ao circular pelo país, onde decorrem operações militares, for detida por combatentes indeterminados, a ameaça de introdução de sanções contra Damasco não irá corrigir a situação. Pelo contrário, isso irá criar motivos para constantes provocações contra os comboios humanitários.
O objetivo da resolução humanitária não é criar pretextos para provocações, mas ajudar realmente as populações que estão com dificuldades. Para esse fim, a Rússia realizou conversações com a Síria ao longo de várias semanas. Como resultado, há dias Damasco concordou em deixar passar a ajuda humanitária através dos postos de controle fronteiriços a partir da Jordânia, do Iraque e da Turquia. Moscou insiste que se deve continuar a cooperar com o governo sírio.
Quanto às resoluções do Conselho de Segurança, a delegação russa propõe que se aprove um documento que proíba formalmente as compras de petróleo aos rebeldes da Síria e do Iraque.
O que pode resultar dessas compras pode ser facilmente ilustrado pelo exemplo do Iraque, onde no norte já se estabeleceu firmemente o grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL). Tendo começado com atividades subversivas no norte da Síria, seus combatentes passaram para o Iraque, conquistando uma série de regiões do país, campos petroleiros e refinarias. Agora seus rendimentos são de vários milhões de dólares por mês. Isso chega tanto para comprar armamentos modernos, como para atrair novos combatentes. Nesta semana o EIIL recebeu o juramento de fidelidade da organização terrorista Jabhat al-Nusra que combate na Síria.
A preocupação com esta situação foi expressa igualmente pelo secretário-geral da ONU Ban Ki-moon. Ele apelou ao “mundo para que a Jabhat al-Nusra e o Estado Islâmico do Iraque e do Levante deixem de receber financiamentos e apoios”.
Nesse contexto, o apelo do presidente dos EUA Barack Obama ao Congresso para a atribuição de 500 milhões de dólares para treinamento e equipamento da oposição síria é, no mínimo, estranha. Na prática, Damasco e Bagdá combatem hoje o mesmo inimigo. Só que na Síria os interesses desses combatentes coincidem com os planos de Washington, mas no Iraque eles são diametralmente opostos, refere o analista político Pavel Zolotarev:
“Está acontecendo o que se previa que acontecesse. Tal como já se tinha avisado os norte-americanos em 2003, uma intervenção militar estrangeira não deixaria de criar um risco de desmembramento do Iraque. O paradoxo consiste em que, neste caso, as forças que desestabilizam a situação no Iraque são as mesmas forças que o fazem na Síria. Só que na Síria elas são apoiadas, mas no caso do Iraque parece que elas devem ser combatidas.”
Mas, por enquanto, quem realmente está combatendo os militantes do EIIL são, além de Bagdá, Damasco e Teerã. Washington continua com dificuldade em reconhecer que a divisão dos terroristas em “amigos” e “inimigos” cria um problema difícil de resolver. O caso da Al-Qaeda e do Afeganistão parece não ter ensinado nada aos norte-americanos.