Manifestantes pró-Kiev e pró-Moscou entram em confronto, e cidade no mar Negro, que até então vivia relativa calma, vira praça de guerra. Presidente ucraniano promete manter ofensiva no leste, apesar das baixas.
Deutsch Welle
A tensão na Ucrânia atingiu seu ápice nesta sexta-feira (02/05) desde que, após a anexação da Crimeia pela Rússia, o movimento separatista pró-Moscou ganhou força. No leste, Forças Armadas leais a Kiev desafiaram o Kremlin e lançaram uma ofensiva contra os rebeldes, no controle de mais de dez cidades e vilarejos. No Sul, a até então relativamente tranquila Odessa viu a violência escalar, com choques entre ativistas pró-russos e pró-ucranianos que deixaram dezenas de mortos.
A violência em Odessa eclodiu depois que milhares de manifestantes que participavam de uma marcha pró-Kiev entraram em confronto com ativistas pró-Moscou. Foram pelo menos quatro mortos e 12 feridos. E, enquanto a TV local mostrava imagens de troca de tiros, bombas sendo acionadas e escombros em chamas, um incêndio destruiu uma sede de sindicatos na cidade, matando 38 pessoas e deixando outras dezenas feridas.
"Como resultado do incêndio, 38 pessoas morreram: oito delas pularam das janelas ao se verem cercadas pelas chamas e as demais morreram asfixiadas", disse um comunicado do governo de Odessa.
O canal de TV russo RT culpou membros de um grupo ultranacionalista ucraniano por provocar deliberadamente o incêndio em meio aos confrontos. Ativistas pró-Rússia e pró-Ucrânia já haviam se enfrentado outras vezes em Odessa, mas nunca com mortes. Moradores ouvidos pela agência de notícias Reuters disseram temer que os dois grupos possam tentar se vingar.
As mortes colocaram Odessa no mapa da revolta separatista pró-Rússia, até então basicamente limitada ao leste do país. Na semana passada, sete pessoas haviam ficado feridas na explosão de uma bomba numa estrada da cidade, situada às margens do mar Negro, mas a violência não havia escalado.
Ganho limitado de terreno
Na madrugada desta sexta-feira, soldados ucranianos ampliaram o cerco a Slaviansk, dominada por separatistas e situada no leste do país, numa ação para retomar o controle da cidade e qualificada por Moscou como "criminosa". No ataque, rebeldes pró-Rússia derrubaram dois helicópteros ucranianos, matando dois tripulantes.
Segundo o Ministério da Defesa ucraniano, os dois helicópteros de combate Mi-24 foram derrubados por mísseis terra-ar lançados por bazucas, o que, segundo o governo em Kiev, comprovaria que as forças separatistas estão tendo apoio logístico de Moscou.
Apesar da operação, chamada de antiterrorista por Kiev, o avanço das forças ucranianas foi limitado. O governo em Moscou – que tem dezenas de milhares de soldados posicionados na fronteira e se diz no direito de invadir a Ucrânia para proteger a população de origem russa – se disse "extremamente preocupado" com o destino de seus cidadãos em Slaviansk.
Além dos dois mortos do lado de Kiev, confirmados pelo presidente interino ucraniano, Olexandr Turtchinov, teriam morrido cinco membros das milícias pró-Rússia. Turtchinov disse que Slavianks está totalmente cercada pelas forças ucranianas e prometeu continuar a ofensiva para retomar seu controle.
Estados Unidos e União Europeia acusam a Rússia de apoiar separatistas no leste ucraniano como parte de uma tentativa deliberada de desestabilizar o país, influenciar as eleições do mês que vem e aumentar seu poder sobre Kiev.
Segundo o acordo de Genebra, assinado há duas semanas por Rússia, Ucrânia, União Europeia e EUA, os grupos armados ilegais deveriam se dispersar, o que incluiria os rebeldes pró-Moscou que ocupam mais de dez cidades no leste ucraniano.