Combates violentos na terceira maior cidade ucraniana, que tem importância estratégica para Kiev, surpreenderam muitos observadores e fizeram aumentar os temores de uma investida russa.
Deutsch Welle
A população de Odessa está perplexa. Na cidade do sul da Ucrânia continua havendo mais perguntas do que respostas, quase uma semana após a "sexta-feira negra" de 2 de maio, em que mais de 40 pessoas morreram nos confrontos entre ativistas pró-Moscou e pró-Kiev.
Nesta terça feira (06/05), o ministro ucraniano do Interior, Arsen Avakov, anunciou que especialistas estrangeiros tomarão parte nas investigações. Ao contrário das regiões de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano, onde ativistas pró-russos armados ganham cada vez mais controle sobre cidades e edifícios administrativos, Odessa vive relativa calma. Ao menos helicópteros militares e tanques não foram empregados nos combates.
Depois dos ovos, balas
No entanto, sob essa superfície, o ódio vem se acumulando já há um bom tempo. Em 1º de março, homens não identificados removeram do edifício da administração pública regional a bandeira azul e amarela da Ucrânia, substituindo-a pela bandeira da região. Mais tarde, porém, as autoridades recolocaram a bandeira ucraniana.
A pouco conhecida organização pró-russa Unidade Jovem convocou um referendo por maior autonomia para a região. O líder do grupo, Anton Davidchenko, de 28 anos, foi preso em meados de março pelo serviço secreto ucraniano, o SBU, sendo mantido sob custódia.
Em meados de abril, divulgou-se que forças pró-russas haviam proclamado uma "República Popular" em Odessa, nos moldes do ocorrido no leste ucraniano. Um dia mais tarde, a notícia foi desmentida: segundo os próprios ativistas, a reivindicação é por uma maior autonomia dentro da Ucrânia.
Segundo uma pesquisa promovida pelo Instituto de Sociologia de Kiev, 78% da população de Odessa é contra uma anexação pela Rússia, apenas 7% é a favor. A pesquisa, publicada em meados de abril, foi realizada a pedido do semanário Dzerkalo Tyzhnia, de Kiev.
Há meses, ocorrem quase todas as semanas em Odessa manifestações, tanto pró-Kiev quanto pró-Moscou. No entanto, apenas algumas centenas ou uns poucos milhares participam. Até recentemente, não houvera choques violentos, mas a situação mudou dramaticamente. Em vez de atirar ovos em seus oponentes, como nas semanas anteriores, nos distúrbios de 2 de maio alguns ativistas pró-Rússia dispararam com pistolas, matando vários pró-ucranianos. Na internet, cursam ameaças de morte.
Importância estratégica
Há numerosos indícios de que Odessa possa se tornar o próximo foco de crise, após as regiões orientais de Donetsk e Lugansk. Assim como a Crimeia, anexada pela Rússia em março, a cidade tem um papel importante na história russa.
Fundada em 1794, no reinado de Catarina, a Grande, Odessa logo se tornou uma próspera metrópole comercial. Com suas belas praias, é celebrada em inúmeras canções russas como a "pérola do Mar Negro". De seus cerca de 1 milhão de habitantes, dois terços são ucranianos, apenas 30% têm origem russa.
Odessa é a terceira maior cidade e o mais importante porto da Ucrânia no Mar Negro. A partir de lá, são enviados para todo o mundo os mais importantes bens de exportação, como trigo, carvão e produtos de aço.
Em Odessa começa o oleoduto que leva até Brody, no oeste do país. O petróleo do Mar Cáspio deveria ser bombeado a partir dali para a Europa; mas até agora as canalizações só têm sido utilizadas no sentido contrário, para receber as remessas de petróleo russo. Também em Odessa deve ser construído um terminal para gás liquefeito, com o qual Kiev almeja diminuir a dependência do gás russo.
Medo da invasão russa
Agora, tudo isso está em perigo, caso o governo perca o controle sobre a cidade. Os especialistas de Kiev alertam que a perda de Odessa teria consequências bem mais graves para a economia da Ucrânia do que a iminente perda da região leste.
A imprensa ucraniana noticia que centenas de militantes pró-russos chegaram à metrópole no Mar Negro em trens e ônibus, vindos da Crimeia, com a missão de desestabilizar a situação no local.
Na cidade, muitos olham preocupados para a Transnístria, região separatista da Moldávia, a cerca de 100 quilômetros de distância, onde estão estacionados soldados russos. Teme-se que Moscou envie essas tropas e as da Crimeia sobre a Odessa, ou até mesmo contra todo o sul da Ucrânia. A luta pela "pérola do Mar Negro" deverá se intensificar nos próximos dias e semanas.