Os eventos recentes na Ucrânia provocaram discórdias em projetos de cooperação industrial entre a Rússia e o país vizinho, forçando as partes envolvidas a repensar sua parceria. No entanto, a Rússia tem um plano alternativo: em caso de agravamento da situação, é possível que no curto prazo seja realizado um programa de substituição das importações.
Oleg Panteleev, especial para Gazeta Russa
A cooperação entre os fabricantes de aeronaves russos e ucranianos tem fortes raízes históricas – desde os tempos soviéticos, a grande maioria dos helicópteros, assim como muitos tipos de aviões de transporte militar eram equipados com motores desenvolvidos ou produzidos na Ucrânia. Apesar de na década de 1990 as fronteiras estatais separarem os construtores ucranianos de seus parceiros russos, a interação industrial não cessou.
Os helicópteros que compõem a linha de produtos da Russian Helicopters, principalmente o lendário Mi-8 e suas modificações, os de combate Mi-24, Mi-35, Mi-28N, os Kamov Ka-52 e o superpesado Mi-26, voam com motores vindos de Kiev. Além disso, são ucranianos os motores AI-222 instalados nos aviões de treinamento de combate Yak-130 e os D-18, instalados nos transportadores pesados An-124 Ruslan, bem como o D-436 dos aviões de passageiro An-148 e os anfíbios Be-200. Todos estes modelos estão presentes tanto na aviação civil como na Força Aérea Russa e precisam de constante manutenção e reparo.
Apesar da redução da cooperação da Comissão Intergovernamental Empresarial dos dois países, a empresa russa United Engine Corporation e as ucranianas Motor Sich e Ivchenko-Progress ainda tentam manter a cooperação.
Em março de 2014, uma joint venture foi estabelecida, criando um Centro de Engenharia de atividades de pesquisa e desenvolvimento de turbinas a gás, incluindo também motores aeronáuticos. Os parceiros desta empreitada criaram um plano de trabalho até 2020, que inclui 15 áreas.
“Inicialmente, vamos trabalhar nos programas já implementados e que requerem uma cooperação contínua”, disse o diretor da United Engine Corporation, Vladislav Masalov.
“Nós temos as tarefas de melhorar a qualidade de nossos recursos, aumentando a confiabilidade no desempenho dos motores, ou seja, da nossa engenharia no geral. O centro de engenharia prevê uma cooperação profunda no segmento de motores de helicópteros”, afirmou o diretor.
Os parceiros também têm o desejo de desenvolver conjuntamente motores que sejam competitivos no mercado mundial, principalmente frente aos motores americanos que hoje lideram o segmento de motores de aeronaves e de helicópteros leves. Eles irão desenvolver motores utilizados em outras áreas civis e em sistemas de energia terrestres.
O Centro de Engenharia está localizado em Moscou e ali vão trabalhar cerca de 40 especialistas ucranianos. Os direitos de propriedade intelectual serão distribuídos a ambos os lados de forma igualitária.
Substituição de importações
É verdade que o sucesso não depende somente da disposição das partes para uma cooperação mutuamente benéfica. Infelizmente, às vezes, a política governamental intervém nos negócios. Uma das ameaças mais comentadas ultimamente é a interrupção do fornecimento de motores ucranianos para construtores russos de aviões. A melhor resposta a essas ações seria um programa de substituição das importações.
O ministro da Indústria e Comércio, Denis Manturov, afirmou que o processo de substituição da importação dos motores do helicóptero russo TV3-117 levará até dois anos e meio para se consumar.
A situação é semelhante para os motores do Yak-130: só parte deles são produzidos na Rússia e a aquisição do domínio da produção dos componentes que vêm do exterior pode demorar até dois anos.
Mil Mi-26 Halo |
Antonov An-124 Ruslan |
No entanto, mesmo se preparando para a guerra comercial, os dois lados desejam muito a paz. Para os construtores ucranianos, a Rússia é mercado central – sem ele, esperam um colapso na demanda e graves problemas econômicos. Para a Rússia também não é interessante interromper a cooperação de longo prazo e criar planos emergenciais para a duplicação da produção. Assim, a posição comum de ambos os lados é deixar fora da política o mercado de motores aeronáuticos.
Oleg Panteleev é editor-chefe do portal aviaport.ru