Pelo menos seis veículos foram dominados, segundo defesa ucraniana.
De acordo com Kiev, agentes russos ajudaram na operação.
Reuters
Ativistas pró-Rússia tomaram o controle de pelo menos seis veículos blindados das Forças Armadas da Ucrânia com a ajuda de agentes russos, informou o Ministério da Defesa ucraniano nesta quarta-feira (16).
“Um comboio foi bloqueado por uma multidão de locais em Kramatorsk, com membros de grupos terroristas russos entre eles”, diz o comunicado. “Como resultado do bloqueio, os extremistas dominaram o equipamento”.
Segundo o texto, os veículos estão agora em Slaviansk, sob poder de pessoas uniformizadas que não tem relação com as Forças Armadas ucranianas.
Os separatistas pró-russos do leste da Ucrânia ergueram a bandeira da Rússia sobre blindados do Exército ucraniano zombando das tentativas de retomada do controle por parte do governo pró-ocidental de Kiev, na véspera de uma importante reunião em Genebra sobre o futuro do país.
Em meio a uma escalda retórica entre Moscou e Kiev, o incidente ressalta a persistência dos separatistas russos, apesar da ofensiva policial-militar do governo contra os rebeldes armados que capturaram prédios administrativos em dez cidades do leste.
No começo da manhã, blindados com a bandeira ucraniana entraram na localidade de Kramatorsk, cujo aeroporto já havia sido ocupado pelas forças governamentais na véspera, levando o presidente russo, Vladimir Putin, a alertar para o risco de uma guerra civil.
Vários desses mesmos veículos mais tarde entraram em Slaviansk, que fica a 15 quilômetros. Mas nesse momento os blindados já ostentavam bandeiras da separatista República Popular de Donetsk e da Rússia, e sobre eles havia homens armados em fardas improvisadas, que pararam em frente à prefeitura, ocupada pelos separatistas.
"Muito bem, rapazes!", exclamavam algumas pessoas aos rebeldes que passavam. "Rússia, Rússia!", gritavam outros.
Um soldado que vigiava um dos seis blindados agora sob controle dos rebeldes contou à Reuters que integra a 25ª divisão de paraquedistas da Ucrânia, com sede em Dnipropetrovsk.
"Todos os soldados e oficiais estão aqui. Somos todos rapazes que não iremos atirar no nosso próprio povo", disse ele, acrescentando que seus homens passaram quatro dias sem comida, até receberem mantimentos de moradores locais.
Um porta-voz dos separatistas e uma testemunha em Kramatorsk disseram que os soldados ucranianos cederam seus veículos aos rebeldes após uma negociação.
Enquanto isso, um caça ucraniano realizou durante vários minutos manobras acrobáticas sobre a principal praça da cidade, numa demonstração de força do governo central. Uma fonte oficial disse que o ministro ucraniano da Defesa está viajando a Kramatorsk para tentar esclarecer a situação.
Essa exibição e a retórica inflamada contribuem com os temores de violência, depois que homens armados apoiados por Moscou ocuparam prédios administrativos em dez cidades do leste ucraniano na última semana.
O governo provisório de Kiev tenta reassumir o controle sem violência, à espera da reunião de quinta-feira em Genebra, onde os chanceleres da Rússia e da Ucrânia devem se reunir pela primeira vez desde o agravamento da crise, na presença de representantes dos EUA e União Europeia.
A crise ucraniana teve início em fevereiro, quando o então presidente pró-russo, Viktor Yanukovich, rejeitou um acordo de associação com a UE, preferindo estreitar laços com Moscou.
Intensos protestos se seguiram em Kiev, levando à queda de Yanuokovich em fevereiro, com a nomeação de um governo pró-ocidental. Então, a península da Crimeia, onde a etnia russa é majoritária, decidiu em referendo se desligar da Ucrânia e aderir a Moscou. Outras regiões do leste ucraniano, também com expressiva população russófona, se dispõem a seguir o mesmo caminho desde então.
Em telefonema na noite de quarta-feira à chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, Putin disse que o governo ucraniano "embarcou em um rumo anticonstitucional" ao usar o Exército contra os rebeldes.
"A aguda escalada do conflito coloca o país, na prática, à beira de uma guerra civil", disse ele, segundo nota do Kremlin.
O primeiro-ministro ucraniano, Arseny Yatseniuk, reagiu acusando Moscou de "exportar terrorismo para a Ucrânia".