Chanceler diz que repetirá em território ucraniano medidas tomadas em 2008 na Ossétia do Sul em caso de ataque contra russos. Moscou e Ocidente seguem troca de acusações sobre cumprimento do acordo de Genebra.
Deutsch Welle
A Rússia responderá a qualquer ataque aos seus interesses na Ucrânia assim como fez na Geórgia em 2008, por meio de uma intervenção militar, declarou nesta quarta-feira (23/04) o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, em entrevista ao canal de TV Russia Today (RT).
"Se nos atacam, claro que responderemos. Se nossos interesses legítimos, se os interesses dos russos são atacados diretamente, como ocorreu na Ossétia do Sul, não vejo outro caminho senão responder conforme o direito internacional", afirmou o chanceler.
Em 2008, a Rússia interveio militarmente na Geórgia e, após um conflito armado de cinco dias, reconheceu a independência das repúblicas separatistas georgianas da Ossétia do Sul e da Abkházia.
No leste da Ucrânia, há uma grande maioria russa, inclusive com passaporte. Moscou insistiu nesta quarta-feira para que o governo de Kiev retire as forças especiais enviadas ao leste do país para combater rebeldes pró-russos, que ocuparam prédios governamentais em diversas cidades. Além disso, Moscou pede o inicio de diálogos entre todas as regiões do país e forças políticas.
As declarações do ministro russo ocorreram após as autoridades ucranianas anunciarem na terça-feira o reinício de uma operação "antiterrorista" contra as forças separatistas do leste da Ucrânia, que haviam sido paralisadas durante o feriado de Páscoa. O retorno das operações iniciou-se horas após a partida do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Troca de farpas
EUA e Otan já deixaram claro uma série de vezes que um ataque militar na Ucrânia não seria tolerado. E na entrevista ao canal RT, Lavrov declarou que as decisões do governo ucraniano são “influenciadas” pelos americanos.
"É evidente que os Estados Unidos escolheram o momento da visita do vice-presidente para anunciar a retomada da operação, a mesma que tinha sido lançada imediatamente após a visita a Kiev de John Brennon, diretor da CIA”, afirmou Lavrov.
O secretário de Estado americano, John Kerry, teria afirmado, em telefonema com Lavrov, que está “extremamente preocupado” em relação à falta de medidas russas para solucionar o conflito. Kerry também ameaçou endurecer as sanções contra a Rússia caso não haja progresso em relação ao tratado de Genebra.
O ministro russo diz que Kiev não está cumprindo os termos do acordo de Genebra, assinado na quinta-feira por Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e União Europeia. Por outro lado, a Ucrânia e os Estados Unidos também acusam a Rússia de não seguir o combinado, insistindo para que o Kremlin se distancie das forças separatistas do leste ucraniano.
O acordo prevê, entre outras medidas, o desarmamento de todos os grupos ilegais e a evacuação de todos os edifícios públicos ocupados na capital.