Homens não identificados abrem fogo em posto de controle ocupado por militantes separatistas em Slaviansk e fazem pelo menos três vítimas. Moscou culpa Ucrânia por escalada da violência.
Deutsch Welle
Grupos ultranacionalistas de direita na Ucrânia rechaçaram as acusações por parte da Rússia de que seriam responsáveis pelo tiroteio que matou três pessoas e deixou outras feridas na cidade de Slaviansk, no leste da Ucrânia, na manhã deste domingo (20/04).
"Esta é uma provocação ofensiva por parte da Rússia. Uma blasfêmia, porque aconteceu na noite sagrada para os cristãos, na madrugada da Páscoa", declarou Artem Skoropadsky, porta-voz do setor de direita ucraniano. "[O tiroteio] foi claramente realizado pelas forças especiais russas." O governo interino ucraniano havia prometido uma trégua de Páscoa na repressão contra grupos separatistas.
O ataque ocorreu num posto de controle em Slaviansk, cidade sob comando dos separatistas. Os mortos seriam ativistas pró-Rússia.
O Ministério russo das Relações Exteriores, por sua vez, culpa a Ucrânia pela escalada da violência na região. "A Rússia está indignada com esta provocação, que testemunha a falta de boa vontade por parte das autoridades de Kiev para desarmar os nacionalistas e extremistas.".
Celebração interrompida
Yuri Zhadobin, coordenador da unidade pró-Rússia no ponto de controle no vilarejo de Bylbasivka, contou à agência de notícias Associated Press que ele e outros 20 militantes celebravam a Páscoa quando, por volta das 03h00 (hora local), homens não identificados chegaram em quatro veículos, abrindo fogo contra eles.
"Começamos a atirar de volta por detrás das barricadas e jogamos coquetéis molotov neles", contou Zhadobin. Dois veículos pegaram fogo e os agressores fugiram.
Este foi o primeiro confronto armado entre nacionalistas e separatistas no leste da Ucrânia, desde que Kiev e Moscou concordaram com uma série de medidas a fim de promover a desescalada da violência na região de fronteira entre os dois países. Segundo o acordo, fechado na quinta-feira passada e mediado pelos Estados Unidos e União Europeia, militantes pró-russos teriam que entregar as armas e desocupar prédios públicos em mais de dez cidades do leste. Os insurgentes, no entanto, recusam-se a atender ao apelo.
Pretexto para invasão
Tanto a Ucrânia quanto outros países ocidentais temem que os confrontos sejam usados como pretexto pelo Kremlin para ocupar partes do território ucraniano. Há cerca de um mês, a Rússia anexou a então península da Crimeia sob a justificativa de proteger os cidadãos de origem russa. Neste sábado, o governo em Moscou anunciou que reforçaria o número de soldados na fronteira com a Rússia, como "medida preventiva".
Washington alertou a Rússia de que a Ucrânia vive um "período decisivo". O secretário de Estado americano, John Kerry, ressaltou ao colega russo Serguei Lavrov que é necessária "uma obediência completa e imediata" ao acordo, "nos próximos dias". O vice-presidente americano, Joe Biden, irá pessoalmente a Kiev na próxima terça-feira para tratar da crise no leste do país.
Em sua mensagem de Páscoa neste domingo, o papa Francisco fez um apelo pelo fim da violência na Ucrânia. O líder católico pediu para que "todos os envolvidos, com o apoio da comunidade internacional, façam todos os esforços para prevenir a violência num espírito de unidade e diálogo, construindo um caminho para o futuro do país".