Competição militar entre Rússia e Estados Unidos ganhará novo capítulo com rápido crescimento da indústria de veículos aéreos não tripulados hipersônicos.
Dmítri Litóvkin, especial para Gazeta Russa
A competição militar entre Rússia e Estados Unidos ganhará um novo capítulo com o rápido crescimento da indústria de veículos aéreos não tripulados hipersônicos.
Com a nova doutrina de "ataque preemptivo" adotada pelo governo americano, começa a preparação de um escudo espacial que constituirá o exército de defesa aeroespacial e traz de volta o conceito de "guerras nas estrelas" criado durante a Guerra Fria.
O 40o presidente norte-americano, Ronald Reagan, não duvidava de futuras guerras no espaço. Foi apenas a ausência da tecnologia necessária na década de 1980 que o impediu a conquistar o controle total sobre o rival soviético.
Porém, 25 anos depois, as descobertas científicas e a engenharia moderna permitem que isso se torne a realidade. Em dezembro do ano passado, o presidente russo Vladimir Pútin ressaltou que um possível ataque de novos veículos espaciais não tripulados hipersônicos recentemente adquiridos pelo governo americano poderia causar o rompimento instantâneo do cerco de defesa das forças armadas russas.
"A defesa aeroespacial eficiente garante a resistência de nossas forças estratégicas protetoras e impede o ataque do território do país pelos veículos espaciais armados. Nenhum país, além dos Estados Unidos, dispõe de meios para ameaçar a integridade das forças nucleares estratégicas da Federação Russa, assim como apenas o Estado americano possui os veículos espaciais armados", afirmou o presidente russo durante visita a uma fabrica de mísseis superfície-ar, realizada em junho de 2013.
"Uma das tarefas das autoridades russas corresponde ao atual nível de ameaças militares exteriores que poderão ser enfrentadas pelo país nos próximos 15 a 20 anos", acredita Ígor Korotchenko, especialista em defesa.
"Os presentes perigos estão ligados a projetos de criação de armas hipersônicas de uso aéreo e espacial realizados por vários países, inclusive pelos Estados Unidos", acrescenta.
Escudo de radares
Em março deste ano, a Rússia inagurou um Instituto de Pesquisa de Defesa Aeroespacial cujas principais funções incluem o desenvolvimento dos conceitos teóricos a serem aplicados nos sistemas de inteligência, aviso e proteção contra ataques aeroespaciais, assim como a modernização dos sistemas de controle dos equipamentos das forças armadas responsáveis pela defesa aeroespacial.
Os trabalhos de engenharia serão assumidos pelo consórcio Sistemas Estratégicos de Defesa Aeroespacial, que reúne desenvolvedores de equipamentos de mísseis e radares. Cerca de 20% dos recursos financeiros destinados à realização do programa de rearmamento do exército russo até 2020, o equivalente a US$ 106 bilhões, serão repassados aos projetos de defesa antiaérea.
Parte da verba já foi investida na recuperação total da cobertura nacional pelos radares incluída no sistema de aviso prévio de lançamento de mísseis estrangeiros, assim como na construção das estações de radares Voronej-DM nas fronteiras do país. Essas registrarão todas as ações realizadas pelos países vizinhos a uma distância de 3 mil quilômetros das fronteiras.
As unidades federativas russas de Leningrado, Kaliningrado e Irkutsk, assim como Krai de Altai e Krai de Krasnodar, já ganharam suas estações de monitoramento. Segundo o plano inicial divulgado pelo vice-ministro de Defesa, Iúri Borisov, até 2018 o território russo terá um escudo de radares nas estações espalhadas pelo território nacional a cerca de 1 mil quilômetros uma da outra.
Corrida armamentista?
Além dos sistemas de aviso de ataques aeroespaciais, o governo russo investe no desenvolvimento de seu poderio militar. Nos últimos anos, o país realizou um projeto de grande porte destinado à modernização do sistema de defesa antimíssil A-135, instalado nos arredores da capital.
No futuro, as autoridades pretendem reforçá-lo, acrescentando conjuntos de defesa antiárea de curto alcance Pantsir-C1, além de 28 regimentos de mísseis guiados equipados com os complexos C-400 Triumf, incluindo um total de 450 a 670 lançadores, assim como 38 divisões do sistema perspectivo C-500 Vitiaz que, por sua vez, inclui de 300 a 460 lançadores.
Borisov afirma que já foram iniciados os trabalhos de construção das usinas responsáveis por sua fabricação nas unidades federativas de Kirov e Níjni Nóvgorod, que custarão aos cofres públicos mais de 1 bilhão de dólares.
Mas a realização de projetos de grande porte não para por aí. O governo russo está reforçando a capacidade dos armamentos estratégicos do país e, desde o abandono do Tratado Sobre Mísseis Antibalísticos pelos Estados Unidos, realizou testes e aprovou seis novos tipos de mísseis balísticos intercontinentais, que já foram recebidos pelas forças armadas nacionais terrestres e marítimas.
Ao contrário dos modelos inclusos nos acordos restritivos assinados entre os governos russo e americano, que incluem apenas uma ogiva, todos esses mísseis são equipados com pelo menos duas.