A reunião extraordinária dos ministros das Relações Exteriores dos países da OTAN, convocada entre 1 e 2 de abril em Bruxelas para “chamar a Rússia à razão”, decorreu de forma previsível.
Andrei Fedyashin | Voz da Rússia
Os ministros dos 28 países da aliança determinaram que, de qualquer maneira, irão contatar a Rússia, mas de cordo com um “programa reduzido” nos próximos três meses. A OTAN, diz-se na declaração final, tem a vontade de cooperar com a Rússia sobre o problema do Afeganistão, mas irá congelar por um trimestre todos os restantes tipos de interação “prática militar e civil” com Moscou.
Traduzindo para a linguagem comum, a redução da interação mencionada significa a suspensão de alguns exercícios conjuntos de estados-maiores de pouca importância, da entrada de navios da OTAN ou da Rússia em portos e de trocas informativas. Até hoje, contudo, todas estas atividades tinham um caráter meramente formal. Agora, porém, as duas partes podem poupar montantes bastante consideráveis.
É sintomático que mesmo em 2008, durante a guerra na Ossétia do Sul e na Abkházia, a OTAN ameaçou aplicar medidas muito mais sérias: anular todos os contatos, encontros de alto nível, etc. Agora, mesmo o OTAN-Conselho Rússia continuará a funcionar em regime habitual. Por outro lado, como foi declarado em Bruxelas, ninguém pretende convidar a Ucrânia a integrar a OTAN, pelo menos por agora.
Os EUA tentaram novamente utilizar a OTAN para fazer avançar seus interesses no continente europeu, mas não parece que esta tentativa tenha resultado, diz o analista Valeri Abramov:
“Esta é uma tentativa de manter e de reforçar a sua hegemonia global em condições de enfraquecimento das instituições internacionalmente reconhecidas, tais como a Organização das Nações Unidas e outros fóruns. Esta é uma tentativa de resolver todos os problemas do desenvolvimento global, mantendo a hegemonia dos EUA”.
Os chefes das diplomacias da Aliança Atlântica voltaram a destacar que não reconhecem a entrada da Crimeia na composição da Rússia e se manifestam em apoio à “integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia”.
O encontro mostrou que “a soberania e a independência da Ucrânia” são pontos cardinais de desentendimento nas relações entre a OTAN e a Rússia. Moscou não tem quaisquer problemas quanto à independência e à política soberana da Ucrânia, tal como da Geórgia ou da Moldávia, ou dos Países Bálticos. Mas tem problemas com a orientação destas independências e soberanias e ainda mais com aqueles que estimulam tal movimento, sobretudo quando se trata de vizinhos russos. A OTAN e os Estados Unidos recusam-se terminantemente a compreender que isso não é um novo fenômeno russo, mas sim os princípios básicos elementares da política externa de qualquer Estado.
Destaque-se que os Estados Unidos e concretamente o presidente Obama exigiam que a OTAN e a UE fossem muito mais longe: declarassem sanções econômicas e comerciais duras contra Moscou e cortassem todos os contatos. A recente visita de Obama a Bruxelas e Haia confirmou os receios da Europa de que os americanos tenham caído novamente em “delírio diplomático”, como acontece com os EUA após grandes malogros e reveses. Neste caso foi a reunificação da Crimeia com a Rússia.
A Europa não gosta muito de “tal América” e até tem medo dela, porque em tais casos os seus dirigentes perdem a razão e o bom-senso. Barack Obama, por exemplo, declarou em 26 de março em Bruxelas que o Kosovo, diferentemente da Crimeia, teria obtido a independência em resultado de um referendo universal, embora no Kosovo não tivesse havido qualquer referendo. Posteriormente, a Casa Branca teve de “esclarecer” a essência da declaração do seu chefe.
Na opinião de peritos russos, os resultados do encontro tampouco testemunham que a crise ucraniana tenha consolidado a OTAN e dado um novo ânimo ao bloco. Comenta Serguei Mikhailov, perito na região euro-atlântica:
“Não houve qualquer consolidação, como mostram patentemente os acontecimentos . Apesar da pressão americana, os principais países da Europa não conseguiram entender-se quanto a fortes sanções econômicas contra a Rússia. Pelo contrário, hoje aparecem sérias provas de que eles, podem em breve diminuir a tensão nas relações com a Rússia. Todos entendem perfeitamente que o desenvolvimento positivo da situação em torno da Ucrânia e da Europa em geral é impossível sem a cooperação construtiva com a Rússia”.
As últimas ações da OTAN na busca de um "castigo" para a Rússia por esta não "corresponder" aos padrões da aliança são surpreendentes. Evidentemente, a OTAN tenta assumir novamente as funções de árbitro político internacional, embora tal diga respeito a outras organizações.
Esta tentativa não resultou na ONU. No fim de março, a resolução ucraniana anti-russa não foi apoiada por cerca de metade dos membros da organização.