Ministério dos Negócios Estrangeiros russo alertou Kiev sobre perigo de recorrer à força para conter os protestos nas regiões orientais da Ucrânia. Notícia de que mercenários de empresa militar privada norte-americana podem vir a ser usados para dispersar os manifestantes é motivo de preocupação em Moscou.
Oleg Fómitchev, especial para Gazeta Russa
“As forças de paz russas não podem entrar na região ucraniana de Donetsk sem uma resolução do Conselho de Segurança da ONU”, declarou o chefe do comitê de defesa e segurança do Conselho da Federação (câmara alta do Parlamento russo), Viktor Ozerov. “Tivemos casos de entrada de forças de manutenção da paz no território da Ossétia do Sul e da Abecásia, mas isso foi no âmbito da CEI [Comunidade dos Estados Independentes].”
Ozerov aproveitou para lembrar que, em reunião extraordinária em maio passado, o Conselho da Federação autorizou o presidente russo Vladímir Pútin a usar as Forças Armadas na Ucrânia. “Aquilo se deveu à situação na Crimeia, mas agimos com base em acordos no âmbito da Frota do Mar Negro e apenas reforçamos a proteção de nossas bases”, explicou o senador.
A situação nas regiões orientais da Ucrânia, onde ativistas pró-Rússia se manifestaram a favor de um referendo sobre a separação do país, vem se agravando nos últimos dias. “A Rússia está interessada na estabilização da Ucrânia, mas a opinião pública deve ser levada em conta, e o referendo é a forma mais democrática para tal”, acrescentou Ozerov.
Moscou deve reconsiderar a sua posição somente em caso de derramamento de sangue e início de limpeza étnica no leste da Ucrânia, garantiu o senador. No entanto, os oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros Exteriores demonstraram descontentamento ao encontrar mercenários americanos no país vizinho e pediram às autoridades de Kiev para cessarem quaisquer preparativos militares que possam desencadear uma guerra civil.
“De acordo com as informações disponíveis, nas regiões do sudeste da Ucrânia, nomeadamente em Donetsk, estão se reunindo unidades das forças internas e da guarda nacional da Ucrânia com a participação de militantes da formação armada ilegal Setor de Direita”, diz um comunicado publicado na página oficial do ministério no Facebook.
O órgão ressaltou ainda o perigo da presença de 150 especialistas americanos da organização militar privada Greystone, vestidos com o uniforme dos soldados da unidade Sokol. A missão dessas forças seria repimir os protestos dos moradores do sudeste do país contra a política atual de Kiev.
“Os organizadores e participantes dessa provocação estão assumindo uma grande responsabilidade pela ameaça aos direitos, liberdade e vidas dos cidadãos pacíficos da Ucrânia e à estabilidade do Estado ucraniano”, advertiu o russo.
O envio de uma grupo especial para o leste e sul da Ucrânia foi mais tarde confirmado pelo ministro do Interior recém-nomeado pelo Parlamento ucraniano, Arsen Avakov. “Essas forças especiais estão prontas para resolver problemas operacionais sem considerar nuances locais”, disse Avakov, citado pela assessoria de imprensa do governo.
Com material das agências de notícias Interfax e Itar-Tass