Ex-secretário de Estado americano faz um ensaio sobre como vai terminar a crise ucraniana
Diário da Rússia
O ex-secretário de Estado americano e ex-membro do Conselho Nacional de Segurança dos EUA Henry Kissinger publicou um artigo no jornal “The Washington Post” em que comenta a situação da Ucrânia e o envolvimento da Rússia nas questões que vêm agitando a política interna ucraniana desde o final do ano passado. O artigo, publicado na quarta-feira, 5, tem o título em inglês de “How The Ukraine Crisis Ends” – numa tradução livre, “Como Termina a Crise da Ucrânia”.
Kissinger inicia o seu artigo afirmando que toda a discussão sobre a Ucrânia envolve confronto. Em seguida, ele pergunta: “Sabemos, porém, para onde estamos indo? Na minha vida, vi quatro guerras começarem com grande entusiasmo e apoio público. Sobre todas elas, nenhum de nós sabia como iriam terminar. Resultado: de três delas, nós [os Estados Unidos] nos retiramos unilateralmente. O grande problema da política é como as guerras terminam e não como elas começam.”
Na opinião de Henry Kissinger, a grande questão que envolve a Ucrânia é saber se ela vai se inclinar para o Leste ou para o Oeste, para o Oriente ou para o Ocidente. Se a Ucrânia sobreviver a este dilema, diz o ex-secretário de Estado, será necessário fazer as partes envolvidas no conflito entenderem que as duas não são excludentes. Segundo Kissinger, a solução ideal para a Ucrânia, como Estado e como nação, é construir uma ponte entre o Leste e o Oeste.
Prossegue Kissinger: “A Rússia precisa aceitar a ideia de que forçar a Ucrânia a se transformar num país satélite levará a inevitáveis conflitos com a Europa e os Estados Unidos.” Ao mesmo tempo, o Secretário destaca: “O mundo tem de compreender que, para a Rússia, a Ucrânia nunca será um país estrangeiro. A história une os dois países desde a sua origem, pois tudo começa com o Império Kievano, depois Russo. A Igreja Ortodoxa Russa prosperou a partir desta comunhão. A Ucrânia foi parte da Rússia durante séculos. Algumas das mais importantes batalhas pela independência e liberdade da Rússia tiveram o envolvimento da Ucrânia, como, por exemplo, a Batalha de Poltava em 1709.”
Chegando aos dias atuais, Henry Kissinger lembra que a Frota do Mar Negro, baseada em Sevastopol, na Crimeia, é altamente estratégica para a Rússia. Entre outros aspectos, esta Frota é uma forma de a Rússia dizer ao mundo que tem uma base para se projetar rumo ao mar Mediterrâneo.
Em reforço à sua tese de que Rússia e Ucrânia são indissolúveis, Henry Kissinger cita o fato de que dissidentes famosos da era soviética como os escritores Aleksandr Solzhenitsyn e Joseph Brodsky disseram que a Ucrânia, historicamente, sempre esteve ligada à Rússia e, portanto, faz parte da sua origem e desenvolvimento.
Ao considerar o envolvimento do bloco europeu na questão ucraniana, Henry Kissinger comenta que a União Europeia não está contribuindo para resolver o problema ucraniano, mas sim para fortalecer a crise. Portanto, para o ex-secretário de Estado, é uma posição equivocada apostar ou estimular a divisão entre Rússia e Ucrânia.
Para Henry Kissinger, os ucranianos são o elemento decisivo em toda esta questão. Em sua opinião, o território ucraniano foi dividido por Adolf Hitler e Josef Stalin, que fizeram uma espécie de distribuição de despojos em 1939. Parte da Ucrânia ficaria com a então União Soviética, e parte, com o Ocidente. Em 1954, o líder soviético Nikita Khruschev tirou a Crimeia do espaço geográfico da Rússia e a colocou em território ucraniano. A partir daí, a divisão se acentuou: a parte oeste fala ucraniano, a parte leste, russo. A parte oeste é católica, a do leste segue a Igreja Ortodoxa Russa.
Levando todos estes fatos em consideração, Kissinger observa que a hora é de unir a Ucrânia e não de dividi-la ainda mais, pois a consequência direta do estímulo ao separatismo será a fragmentação do país.
Kissinger também cita o fato de que a Ucrânia foi independente por apenas 23 anos. O ex-secretário de Estado também destaca que, apesar disso, não lhe causa qualquer surpresa o fato de os dirigentes ucranianos ainda não terem assimilado que o país precisa de união e não de cisões.
Esta questão central é a que opõe o presidente deposto, Viktor Yanukovich, e a ex-Primeira-Ministra Yulia Timoshenko, que deixou o cárcere no dia 22 de fevereiro, mesmo dia em que Yanukovich foi afastado do cargo pelo Parlamento e em que o presidente do Legislativo, Oleksander Turchynov, assumiu também a presidência interina do país.
“Rússia, Ocidente e as facções que se opõem na Ucrânia precisam entender que só há um meio pacífico para recuperar a paz no país, a defesa intransigente da sua união”, diz Kissinger. Ele também alerta o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que uma solução militar para a Ucrânia traria a Guerra Fria de volta ao cenário mundial.
Kissinger tem, da mesma forma, um recado para os Estados Unidos. Em sua opinião, a Rússia precisa ser ouvida em todas as relevantes questões mundiais, e o Presidente Vladimir Putin deve ser visto pelo Ocidente como um grande, sério e importante estrategista. Em resumo: os formuladores da política internacional dos Estados Unidos necessitam aprender de vez que, ao lidar com a Rússia, é necessário ter em conta o ânimo, a psicologia e a mentalidade do povo russo e dos políticos russos.
Concluindo o artigo, Henry Kissinger estabelece quatro premissas para a pacificação da Ucrânia, que são as seguintes:
1. A Ucrânia deve ter o direito de escolher livremente suas associações políticas e econômicas, o que inclui a Europa.
2. A Ucrânia não deve se associar à OTAN.
3. A Ucrânia deve ser livre para estabelecer qualquer governo compatível com a vontade manifesta da sua população. Depois disso, os políticos ucranianos terão de ser sábios o bastante para formular uma política de conciliação nacional entre as diferentes facções que se espalham pelo país. Internacionalmente, seus dirigentes devem se mirar no exemplo da Finlândia: ao mesmo tempo em que sabem se relacionar com a Rússia, sabem também como se relacionar com a União Europeia e os Estados Unidos sem criar quaisquer tensões com qualquer uma das partes.
4. É incompatível com as regras do Direito Internacional a tão falada anexação da Crimeia pela Rússia. Mas é possível conceder à Crimeia um status especial sem fazer com que ela deixe de estar submetida à soberania da Ucrânia.
Este é um resumo do artigo publicado pelo ex-Secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger, na edição de 5 de março do jornal americano “The Washington Post”. O artigo tem o título de “Como Termina a Crise na Ucrânia” e provocou ampla repercussão internacional.
À frente da Secretaria de Estado americana entre 1968 e 1976, Henry Kissinger foi personalidade importantíssima na política mundial, em particular nas relações dos Estados Unidos com a então União Soviética, a China, o Vietnã, a África e o Brasil.
Kissinger inicia o seu artigo afirmando que toda a discussão sobre a Ucrânia envolve confronto. Em seguida, ele pergunta: “Sabemos, porém, para onde estamos indo? Na minha vida, vi quatro guerras começarem com grande entusiasmo e apoio público. Sobre todas elas, nenhum de nós sabia como iriam terminar. Resultado: de três delas, nós [os Estados Unidos] nos retiramos unilateralmente. O grande problema da política é como as guerras terminam e não como elas começam.”
Na opinião de Henry Kissinger, a grande questão que envolve a Ucrânia é saber se ela vai se inclinar para o Leste ou para o Oeste, para o Oriente ou para o Ocidente. Se a Ucrânia sobreviver a este dilema, diz o ex-secretário de Estado, será necessário fazer as partes envolvidas no conflito entenderem que as duas não são excludentes. Segundo Kissinger, a solução ideal para a Ucrânia, como Estado e como nação, é construir uma ponte entre o Leste e o Oeste.
Prossegue Kissinger: “A Rússia precisa aceitar a ideia de que forçar a Ucrânia a se transformar num país satélite levará a inevitáveis conflitos com a Europa e os Estados Unidos.” Ao mesmo tempo, o Secretário destaca: “O mundo tem de compreender que, para a Rússia, a Ucrânia nunca será um país estrangeiro. A história une os dois países desde a sua origem, pois tudo começa com o Império Kievano, depois Russo. A Igreja Ortodoxa Russa prosperou a partir desta comunhão. A Ucrânia foi parte da Rússia durante séculos. Algumas das mais importantes batalhas pela independência e liberdade da Rússia tiveram o envolvimento da Ucrânia, como, por exemplo, a Batalha de Poltava em 1709.”
Chegando aos dias atuais, Henry Kissinger lembra que a Frota do Mar Negro, baseada em Sevastopol, na Crimeia, é altamente estratégica para a Rússia. Entre outros aspectos, esta Frota é uma forma de a Rússia dizer ao mundo que tem uma base para se projetar rumo ao mar Mediterrâneo.
Em reforço à sua tese de que Rússia e Ucrânia são indissolúveis, Henry Kissinger cita o fato de que dissidentes famosos da era soviética como os escritores Aleksandr Solzhenitsyn e Joseph Brodsky disseram que a Ucrânia, historicamente, sempre esteve ligada à Rússia e, portanto, faz parte da sua origem e desenvolvimento.
Ao considerar o envolvimento do bloco europeu na questão ucraniana, Henry Kissinger comenta que a União Europeia não está contribuindo para resolver o problema ucraniano, mas sim para fortalecer a crise. Portanto, para o ex-secretário de Estado, é uma posição equivocada apostar ou estimular a divisão entre Rússia e Ucrânia.
Para Henry Kissinger, os ucranianos são o elemento decisivo em toda esta questão. Em sua opinião, o território ucraniano foi dividido por Adolf Hitler e Josef Stalin, que fizeram uma espécie de distribuição de despojos em 1939. Parte da Ucrânia ficaria com a então União Soviética, e parte, com o Ocidente. Em 1954, o líder soviético Nikita Khruschev tirou a Crimeia do espaço geográfico da Rússia e a colocou em território ucraniano. A partir daí, a divisão se acentuou: a parte oeste fala ucraniano, a parte leste, russo. A parte oeste é católica, a do leste segue a Igreja Ortodoxa Russa.
Levando todos estes fatos em consideração, Kissinger observa que a hora é de unir a Ucrânia e não de dividi-la ainda mais, pois a consequência direta do estímulo ao separatismo será a fragmentação do país.
Kissinger também cita o fato de que a Ucrânia foi independente por apenas 23 anos. O ex-secretário de Estado também destaca que, apesar disso, não lhe causa qualquer surpresa o fato de os dirigentes ucranianos ainda não terem assimilado que o país precisa de união e não de cisões.
Esta questão central é a que opõe o presidente deposto, Viktor Yanukovich, e a ex-Primeira-Ministra Yulia Timoshenko, que deixou o cárcere no dia 22 de fevereiro, mesmo dia em que Yanukovich foi afastado do cargo pelo Parlamento e em que o presidente do Legislativo, Oleksander Turchynov, assumiu também a presidência interina do país.
“Rússia, Ocidente e as facções que se opõem na Ucrânia precisam entender que só há um meio pacífico para recuperar a paz no país, a defesa intransigente da sua união”, diz Kissinger. Ele também alerta o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que uma solução militar para a Ucrânia traria a Guerra Fria de volta ao cenário mundial.
Kissinger tem, da mesma forma, um recado para os Estados Unidos. Em sua opinião, a Rússia precisa ser ouvida em todas as relevantes questões mundiais, e o Presidente Vladimir Putin deve ser visto pelo Ocidente como um grande, sério e importante estrategista. Em resumo: os formuladores da política internacional dos Estados Unidos necessitam aprender de vez que, ao lidar com a Rússia, é necessário ter em conta o ânimo, a psicologia e a mentalidade do povo russo e dos políticos russos.
Concluindo o artigo, Henry Kissinger estabelece quatro premissas para a pacificação da Ucrânia, que são as seguintes:
1. A Ucrânia deve ter o direito de escolher livremente suas associações políticas e econômicas, o que inclui a Europa.
2. A Ucrânia não deve se associar à OTAN.
3. A Ucrânia deve ser livre para estabelecer qualquer governo compatível com a vontade manifesta da sua população. Depois disso, os políticos ucranianos terão de ser sábios o bastante para formular uma política de conciliação nacional entre as diferentes facções que se espalham pelo país. Internacionalmente, seus dirigentes devem se mirar no exemplo da Finlândia: ao mesmo tempo em que sabem se relacionar com a Rússia, sabem também como se relacionar com a União Europeia e os Estados Unidos sem criar quaisquer tensões com qualquer uma das partes.
4. É incompatível com as regras do Direito Internacional a tão falada anexação da Crimeia pela Rússia. Mas é possível conceder à Crimeia um status especial sem fazer com que ela deixe de estar submetida à soberania da Ucrânia.
Este é um resumo do artigo publicado pelo ex-Secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger, na edição de 5 de março do jornal americano “The Washington Post”. O artigo tem o título de “Como Termina a Crise na Ucrânia” e provocou ampla repercussão internacional.
À frente da Secretaria de Estado americana entre 1968 e 1976, Henry Kissinger foi personalidade importantíssima na política mundial, em particular nas relações dos Estados Unidos com a então União Soviética, a China, o Vietnã, a África e o Brasil.