O sistema norte-americano de defesa antimíssil na Europa (EuroDAM) é mais uma vez usado como instrumento de pressão sobre a Rússia.
Natalia Kovalenko | Voz da Rússia
Há dias, o vice-presidente dos EUA Joe Biden confirmou que elementos da EuroDAM serão instalados na Polônia até 2018. A Dinamarca também anunciou a possibilidade de se associar a esse sistema. O Ocidente, incapaz de influenciar a posição da Rússia quanto à Ucrânia e à Crimeia, regressa aos métodos usados na Guerra Fria.
Os políticos ocidentais repetem vezes sem conta que a DAM na Europa não visa a Rússia, contudo, logo que surgem divergências sobre um problema qualquer entre Moscou e o Ocidente, a questão da EuroDAM recupera a sua importância e os elementos do sistema antimíssil se aproximam mais da fronteira da Rússia. Neste momento esse fator desestabilizador é a questão ucraniana, refere o analista Ivan Konovalov:
“O problema da defesa antimíssil já é antigo. As diversas partes, os EUA, a OTAN e a Rússia, acabaram por não encontrar pontos de contato porque a Rússia exige garantias juridicamente vinculativas em como o sistema não tem como alvo o seu potencial estratégico. O Ocidente não quer assumir essas garantias. Claro que o que se passa neste momento na Ucrânia agrava a situação em torno da DAM, porque este é um dos pontos em que as divergências entre a Rússia, os EUA e a OTAN atingiram uma gravidade bastante elevada. Numa situação em que o Ocidente procura quaisquer meios de pressão sobre a Rússia, a defesa antimíssil voltou a assumir protagonismo. Isto é, antes de mais, um jogo político.”
No início a fundamentação oficial para a criação da DAM na Europa foi o programa nuclear iraniano. Nesse aspeto já foi alcançado um progresso notável, mas apesar disso a EuroDAM continua se desenvolvendo.
Em fevereiro, a base naval espanhola de Rota recebeu o primeiro navio de guerra norte-americano que deverá fazer parte da componente naval do sistema DAM dos EUA na Europa. No futuro são esperados mais três navios. Além disso, as autoridades espanholas autorizaram a instalação em seu território de 1.400 militares dos EUA e suas famílias.
No outono do ano passado se iniciou a construção da EuroDAM dos EUA na Romênia. A componente polonesa esteve em dúvida até ao último momento, mas agora Joe Biden confirmou que até 2018 também a Polônia irá receber elementos da EuroDAM. Em troca os EUA prometeram garantir a modernização do exército polonês. Segundo alguns dados, os EUA já enviaram para a Polônia 12 caças F-16, aviões de transporte e 300 soldados.
Sublinhemos que a DAM polonesa está prevista para atuar contra mísseis de médio e curto alcance. A Rússia não possui mísseis desses – a URSS e os EUA assinaram, ainda em finais dos anos de 1980, o tratado de liquidação desses mísseis, que foi cumprido em 1991. O programa nuclear iraniano, como todos podemos constatar, não tem qualquer relação com a criação da DAM norte-americana na Europa. Surge a questão sobre a finalidade da criação desse sistema, comenta o cientistas político Pavel Zolotarev:
“Eu penso que devemos olhar para esse sistema sem associá-lo exclusivamente aos mísseis nucleares. Não é uma coincidência os norte-americanos estarem desenvolvendo meios para um ataque global, ou seja de mísseis convencionais com um alcance global e de elementos de armas de alta precisão em geral. Estes são meios de combate da chamada sexta geração, de uma guerra sem contato em que as unidades das forças armadas não entram em contato direto com o inimigo. O sistema de defesa antimíssil favorece na prática um dos lados na condução desse tipo de operações e a EuroDAM é sobretudo um sistema de comando e controle que permite posicionar esses meios e comandá-los em caso de necessidade. É esse tipo de fundamento que os norte-americanos estão criando na Europa.”
Ao comentar as declarações dos políticos ocidentais sobre uma possível introdução e reforço de sanções contra a Rússia, que incluem indiretamente a instalação da DAM estadunidense na Polônia, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia sublinhou que “as tentativas de falar com Moscou na linguagem da força e de ameaçar os cidadãos da Federação Russa com sanções não levam a lado nenhum”. O ministério também advertiu que a tomada de medidas de pressão “não é a nossa escolha”, mas que não ficarão sem uma resposta adequada por parte da Rússia.
O Ministério da Defesa da Rússia, nomeadamente, está instalando ao longo do perímetro do território do país uma rede adicional de radares especializados de nova geração. Eles têm capacidade para resolver situações que incluem as possíveis ameaças na área aeroespacial.
Uma série de radares desse tipo já está em funcionamento. Na Mordóvia (na parte europeia da Rússia) já está instalado, por exemplo, um sistema de detecção além do horizonte de alta precisão. Ele permite realizar o seguimento e reconhecer alvos aéreos militares e civis a uma distância de 3.000 quilômetros e a 100 quilômetros de altitude, detectar lançamentos de mísseis de cruzeiro e mesmo observar voos de treinamento de pequenos aviões esportivos na Europa.