Aprovação do uso de Forças Armadas da Rússia em território ucraniano elevou os ânimos da comunidade internacional.
Anatóli Karavaev e Kostantin Nóvikov | Gazeta.ru
Roleta russa
O analista militar Pável Felgengauer acredita que o envio de tropas russas à Ucrânia pode resultar em perdas sérias para a Rússia. “Em comparação com a situação na Ucrânia, a guerra da Tchetchênia parece um passeio infantil”, diz Felgengauer, acrescentando que “a nação ucraniana é composta por 40 milhões de pessoas, e agora elas têm contra quem se unir”.
O especialista também não tem dúvidas de que o Ocidente introduzirá sanções econômicas caso ecloda uma campanha de guerra envolvendo a Rússia.
Sem força para lutar
O chefe do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias, Ruslan Pukhov, acredita que no momento os militares ucranianos não são capazes de oferecer resistência armada contra o Exército russo, e provavelmente não farão isso. “O exército ucraniano, criado em 1992 sobre as ruínas da URSS, tinha um número enorme e os melhores equipamentos, que no decorrer de 22 anos se degradou”, comenta.
Segundo ele, a reforma militar russa, iniciada em 2008, e a passagem do próprio Exército ucraniano a uma base contratual foram os dois últimos fatores que enterraram definitivamente a força de combate da Ucrânia. “No lugar de recrutas, o Exército ucraniano começou a se formar por contratados. Agora, na Crimeia, atua uma rapaziada que não tem intenção de guerrear contra os russos”, alega.
O especialista lembra que, nos últimos 20 anos, o Exército russo participou de alguns conflitos armados, enquanto os colegas ucranianos se mantiveram neutros.
Guerra de informação
O especialista militar e redator chefe da revista “A Defesa Nacional”, Igor Korotchenko, garante que o Exército ucraniano e as estruturas de poder não estão obrigados a cumprir possíveis ordens de oposição ao Exército russo dos novos líderes ucranianos. “Os que estão em Kiev já fazem declarações fortes, mas eles mesmos são ilegítimos”, afirma Korotchenko.
O especialista ressalta que a decisão do Conselho da Federação não significa uma intervenção militar na Ucrânia. “Ninguém tem intenção de ocupar a Ucrânia. É evidente que fala-se de um modelo de operação pacificadora para que não ocorra uma guerra civil em larga escala”, acrescenta.
Korotchenko também pede cautela ao interpretar as mensagens dos meios de comunicação social sobre divisões russas não relacionadas à Frota do Mar Negro que já existiriam na Ucrânia. “Há uma guerra da informação contra a Rússia. É fato que Pútin conseguiu a possibilidade legal de introduzir tropas na Ucrânia, mas vamos esperar pelo menos alguns passos oficiais do Ministério da Defesa”, continua o especialista, que considera o Exército ucraniano “incapaz de combate” no momento atual.
Conflito remoto
O chefe do Centro de Prognóstico Militar, Anatóli Tsiganok, expressou confiança de que não haverá confrontos militares reais. “Nós deixamos a situação no ar”, diz o coronel Tsiganok, “agora é preciso ver como vão agir a Otan e a China”.
O especialista fez uma analogia com a introdução do Exército soviético na Tchecoslováquia, em 1968, da qual ele mesmo participou. “Eu participei dos acontecimentos há 45 anos, e ficamos em linha por três meses. A mesma situação pode se repetir agora”, prevê o ex-militar.