Índia aumentou em 111% importações de armas, e seus vizinhos Paquistão e China acompanharam. Europeus exploram novos mercados, mesmo se politicamente problemáticos. Relatório, porém, evita falar em corrida armamentista.
Deutsch Welle
Os maiores importadores de armamentos do mundo são China, Índia e Paquistão, segundo o mais recente relatório do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (Sipri), divulgado nesta segunda-feira (17/03).
O estudo constatou que nos últimos cinco anos a Índia aumentou em 111% suas importações de armas, em comparação com o quinquênio anterior. E quando o país eleva seu orçamento militar, Paquistão e China acompanham, comenta Pieter Wezeman, um dos principais autores do estudo sobre o relatório global de armas pesadas – como navios, submarinos, aviões, tanques de combate e sistemas de mísseis.
A Assembleia Popular Nacional em Pequim aprovou neste ano um acréscimo de mais de 12% em seus gastos com armas, provenientes sobretudo da Rússia. Paralelamente, aumentam vertiginosamente as exportações da indústria bélica chinesa, que está em expansão.
Mesmo assim Wezeman prefere não falar de uma corrida armamentista. "O processo de armamento não está fora de controle, embora certamente acarrete riscos", contemporiza.
Expansão e menos controle
Paquistão, Bangladesh e Mianmar estão entre as nações que dão preferência aos sistemas bélicos da China, atualmente bastantes competitivos em termos internacionais. "Antes, as armas chinesas eram mais para baratas, geralmente de qualidade não tão boa e pouco desenvolvidas tecnicamente", explica Wezeman.
Esse quadro, porém, mudou. "A China modernizou a própria indústria armamentista, e a maioria dos especialistas concorda que suas armas são, hoje, consideravelmente melhores do que antes", afirma. O pesquisador do Sipri detecta no ramo uma tendência semelhante ao dos aparelhos elétricos, no qual os fabricantes chineses ou sul-coreanos são agora bem-sucedidos em escala mundial.
Para Jan Grebe, colaborador científico do Instituto Internacional para Pesquisa da Paz e de Conflitos (Bicc), sediado em Bonn, a expansão da indústria bélica chinesa é um fato preocupante. "A China não tem um sistema de controle tão desenvolvido como, por exemplo, a União Europeia ou os Estados Unidos e o Canadá", argumenta.
Ele classifica as crescentes exportações de armas por Pequim como "um instrumento político do governo", citando como exemplo as vendas para Mianmar. "A China vai certamente também fornecer para nações que não podem comprar de outros Estados", avalia Grebe.
Potencial de conflito marítimo
O Bicc analisa regularmente relatórios de institutos de pesquisa como o Sipri, publicando todos os anos um índice de militarização global. "Todo o continente asiático é há anos o maior mercado para compras de bens armamentistas", diz Jan Grebe, apontando também as medidas de modernização em países como Vietnam, Cingapura, Indonésia e Coreia do Sul.
Sobretudo no âmbito marítimo, há conflitos territoriais, pois lá as fronteiras são menos definidas, prossegue o colaborador do BICC, criticando a falta de "instituições apropriadas para a solução de conflitos na região".
"Isso naturalmente incentiva tais iniciativas armamentistas e inevitavelmente eleva o potencial de escalada no caso, digamos, de um choque de navios no Mar do Sul ou do Leste da China."
Interesses de Moscou
O relatório atual do Sipri sobre o comércio armamentista internacional também revela que a Rússia pretende projetar sua indústria bélica. Mesmo após o fim da Guerra Fria, ela permaneceu como segundo maior exportador de armas do mundo, atrás apenas dos EUA.
"Nos últimos anos, o governo em Moscou tem repetidamente anunciado investimentos bilionários na indústria de armas, a fim de modernizá-la e de desenvolver novas tecnologias e sistemas armamentistas", observa Grebe. Ao mesmo tempo, lembra, o país segue investindo nas exportações de armas.
Entretanto, para Moscou não são apenas os aspectos econômicos que contam, mas também os estratégicos e políticos, ressalva Pieter Wezeman. "Países como Belarus ou Cazaquistão continuam obtendo armas russas a preços camaradas ou até mesmo de presente", diz.
Ele cita a Síria como um exemplo da dimensão política das vendas de armas russas: "A Rússia decidiu seguir apoiando Bashar al-Assad com o abastecimento de armas, embora do ponto de vista econômico isso não faça muito sentido."
Europeus: novos mercados
De acordo com o relatório do Sipri, a indústria bélica francesa exportou 30% menos armas no último quinquênio do que no anterior, sendo ultrapassada pela China. Na Alemanha, as exportações de armamentos pesados caíram 24%, no mesmo período.
Isso se deve ao fato de os países da União da Europeia e seus parceiros na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estarem investindo menos em mercadorias bélicas. Assim, para compensar as perdas internas, os produtores europeus precisam de novos mercados fora do continente.
Os Estados do Oriente Médio seriam clientes ideais, pois possuem os meios financeiros e o desejo de comprar. Como mostra o relatório do Sipri, quase um quinto do total das exportações no setor vai para essa região. No entanto, tais transações não são simples para os conglomerados europeus de equipamento militar, pois há restrições para as vendas fora da UE e da Otan, que dependem do aval dos governos nacionais.
Durante anos, a política de exportação de Berlim para equipamentos armamentistas foi muito restritiva, recorda Jan Grebe. Mas isso parece estar mudando: "Os negócios mais recentes indicam que o governo alemão está disposto a também fornecer armas para países problemáticos."
O colaborador científico do Bicc cita como exemplos Arábia Saudita, Catar, Indonésia e Cingapura. "Isso mostra que, até certo ponto, vai-se cedendo à pressão da indústria para que se encontrem novos mercados de compras."