Este outono a OTAN volta a abrir suas portas à Geórgia. Na opinião de peritos, isso não irá beneficiar nem Bruxelas, nem Tbilisi, nem o norte do Cáucaso como um todo.
Serguei Duz | Voz da Rússia
Na cúpula da OTAN marcada para setembro, provavelmente será apresentado à Geórgia um Plano de Ação para a adesão à Aliança Atlântica. Os peritos associam a inesperada pressa de Bruxelas à situação na Ucrânia. A Aliança se prepara para ações mais decisivas, apesar de antes também não se retrair demasiado na Europa Oriental.
A probabilidade de o pedido de Tbilisi ser aceite é bastante elevada. Isso é atualmente reconhecido mesmo pelos membros da OTAN que anteriormente apelaram a que não se precipitasse os acontecimentos.
Entretanto a via oficial para uma adesão à OTAN é longa e trabalhosa. Se se cumprir escrupulosamente todas as exigências, ela poderá demorar vários anos. Mas, se houver muita vontade, também poderão ser apenas alguns meses. Por outras palavras, a Geórgia poderá entrar na OTAN pela porta dos fundos, entreaberta amavelmente pelos norte-americanos. Este é o comentário do analista Ivan Konovalov:
“Existem dois critérios fundamentais para que um país seja aceite na OTAN. O primeiro é aquilo que o Ocidente chama de “governação democrática estável”. O segundo é ter forças armadas fortes e bem abastecidas. Sinceramente, a Geórgia não possui nem uma coisa, nem outra.”
O país tem problemas territoriais por resolver. A economia parece bastante débil por comparação com os países europeus. Já as forças armadas, apesar de terem sido criadas com base no modelo ocidental, também não se mostraram muito eficazes.
Além disso, a admissão como país-membro da OTAN é uma decisão colegial. Podemos não duvidar que muitos países europeus admitem com muita relutância a possibilidade de a Geórgia vir a ser membro da Aliança Atlântica. Mas os EUA têm alavancas de influência poderosas. Se eles se esforçarem o bastante, a Geórgia poderá vir a fazer parte da OTAN.
Na opinião de uma série de peritos, todas as conversas à volta da entrada da Geórgia na OTAN não passa de uma demonstração de força, de uma espécie de contrapropaganda à posição da Rússia relativamente à Crimeia. A aceleração do processo de entrada da Geórgia na OTAN irá acrescentar problemas a Tbilisi. Já a atual situação na Ucrânia demonstra que a admissão da Geórgia na OTAN seria um passo extremamente precipitado para a organização. Por isso, as partes terão de agir de forma muito cautelosa e pragmática.
Apesar de parecer um paradoxo, os apelos de Bruxelas podem obrigar Tbilisi a rever as suas posições nas questões da Abkházia e da Ossétia do Sul. O cientista político Pavel Zolotarev comenta:
“Este tipo de declarações está, pelos vistos, na continuidade da linha seguida em 2007-2008, quando a Geórgia e a Ucrânia estavam sendo ativamente atraídas para fazerem parte da OTAN. Os acontecimentos de agosto de 2008 obrigaram a fazer uma pausa nesse processo. Mas foi só uma pausa, porque os EUA não desistiram desse objetivo, o que é comprovado pelos desenvolvimentos da situação na Ucrânia.
Não conseguiram atrair a Ucrânia inteira para a OTAN, a Crimeia ficou logo de fora. Mas, para influenciar a situação, eles começaram logo a falar em adesão da Geórgia. Esse passo se destina a obter um efeito político.
Em primeiro lugar, não tenho a certeza se a própria direção georgiana terá esse desejo. Em segundo, ao entrar para a OTAN, Tbilisi terá de declarar a ausência de quaisquer problemas territoriais e abdicar de todas as pretensões relativas à Abkházia e Ossétia do Sul, o que é pouco provável. Mas se não for assim, o acesso da Geórgia à OTAN estará vedado.”
A entrada da Geórgia na OTAN dificilmente agradará à Rússia. Sobretudo devido ao aparecimento de uma ameaça militar adicional junto à sua fronteira meridional. Contudo, os peritos não vêm nisso um motivo para grandes preocupações. A Rússia é suficientemente forte para não sentir complexos a esse respeito. Como dizia Caio Júlio César, a tranquilidade do guerreiro deve aterrorizar o inimigo. Moscou segue essa máxima.