De acordo com a mídia russa, os Estados Unidos convidaram a Rússia para um novo formato de resolução para a crise na Síria: negociações com os principais patrocinadores da oposição síria – a Arábia Saudita e a Turquia – bem como com o aliado-chave de Damasco – o Irã. Especialistas discordam da eficácia de tais medidas.
Nikolai Surkov | Gazeta Russa
No decorrer das conversações que aconteceram na última semana em Munique, entre o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguêi Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, os norte-americanos propuseram a criação de um mecanismo adicional para a resolução da crise da Síria. Sobre isso falou ao jornal Kommersant uma fonte diplomática russa, que foi confirmada por um elemento do Departamento de Estado dos EUA. Estamos falando de um formato regional que deverá complementar as conversações entre as várias forças sírias no âmbito da conferência Genebra 2. Os norte-americanos propõem incluir nelas uma linha paralela de discussão com cinco participantes: Rússia, EUA, Arábia Saudita, Turquia e Irã.
A escolha dos países não é casual. A Rússia e os Estados Unidos têm um papel de destaque na regulação do problema. A Arábia Saudita e a Turquia são os principais patrocinadores dos opositores ao regime sírio e o Irã é o seu aliado-chave.
De acordo com o jornal, a parte russa respondeu afirmativamente a esta oferta dos norte-americanos. Acontece que Moscou ainda no ano passado propôs a Washington que organizasse uma frente de negociação de formato regional, mais ampliado do que as fronteiras sírias. Mas na altura os EUA não consideram esta iniciativa apropriada.
É possível que a mudança fundamental na posição dos EUA se deva aos modestos resultados que fecharam na semana passada a primeira rodada de negociações no âmbito do Genebra 2.
Em uma entrevista à Gazeta Russa, o pesquisador do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, Vassíli Kuznetsov, observou que o formato regional é agora muito necessário "uma vez que as potências regionais desempenham um papel maior na crise da Síria, do que as potências mundiais".
"No atual momento, as relações entre a Arábia Saudita e o Irã são o grande problema regional. Eles vão demorar para acordar o que seja já que existe muita desconfiança mútua entre eles. A principal esperança assenta no fato de ambos os países terem nova liderança. Além disso, tanto as elites da Arábia Saudita, como as do irã compreendem que a situação na Síria chegou a um impasse", disse o especialista.
Vassíli Kuznetsov enfatizou que é importante criar um sistema de salvaguarda regionais que garanta a coexistência pacífica dos diferentes grupos étnicos e religiosos da Síria durante o período de transição e acrescentou que seria conveniente engajar a ONU nas negociações.
A professora do Instituto Estatal de Moscou de Relações Internacionais (MGIMO) Marina Sapronova tem uma relação cética quanto à proposta norte-americana. Segundo ela, mesmo que o Irã e a Arábia Saudita cheguem a um acordo, nada garante que a oposição e as autoridades da Síria cumprem as resoluções. "Isto mais se parece com manobras diplomáticas para ganhar tempo, porque no verão a Síria deverá ter eleições presidenciais que podem mudar radicalmente a situação", disse à gazeta Russa.
Enquanto isso, os observadores notaram que a iniciativa dos EUA de estabelecer um modelo regional para discutir a crise síria significa, na verdade, a exclusão da EU das negociações. Fontes diplomáticas em Moscou tendem a explicar essa abordagem com o papel não construtivo que alguns representantes de países europeus desempenharam nas conversações realizadas no outono entre o Irã e o "grupo dos seis" intermediários.