Lendário Gripen hoje é símbolo que marca a união histórica que beneficiará o Brasil e a Suécia
POR LEDA LUCIA CAMARGO | ZERO HORA
O lendário Gripen ou Grifo, com corpo de leão, cabeça e asas de águia, representa liderança, força e coragem militar e figura em brasões por possuir muitas virtudes e nenhum vício: utilizado na literatura de Dante Alighieri e Voltaire até Harry Potter, hoje é símbolo que marca a união histórica que beneficiará o Brasil e a Suécia pelas próximas décadas, com vantagens incontestáveis.
O Projeto FX-2 prevê transferência de tecnologia à indústria brasileira de 40% do trabalho de desenvolvimento e produção mundial do Gripen NG, além de linha de montagem no Brasil, alternativa à Suécia, e a realização do projeto e fabricação de 80% da estrutura da frota mundial desse caça supersônico.
A empresa Saab, na cooperação, terá o compromisso de criar, no Brasil, em aeronáutica e indústria civil, 177% do valor do contrato (177% offset), cuja base é a aliança estratégica com a indústria brasileira, geradora de empregos de diferentes níveis.
A linha de crédito total e de longo prazo é garantida pelo governo da Suécia. O primeiro pagamento, seis meses depois de a última aeronave ser entregue e alongado por 15 anos. Entre as vantagens técnicas dos caças de um motor, como o Gripen, está sua facilidade de aterrissar em pistas curtas como as nossas. Isso reduz custo de hora-voo e de manutenção.
A Suécia é exportadora mundial de produtos de defesa, e a Saab, principal indústria do país na área, assina seu maior contrato: criada antes da II Guerra, forneceu à Suécia, desde então, mais de 400 aviões. O primeiro Gripen entrou em operação em 1997 e seu protótipo é de 1988.
A encomenda, pela Suíça, de 22 Gripen New Generation, que depende de referendo, e a de mais 60 pela força aérea sueca, garantem a produção do caça. A escolha, pelo Brasil, projeta-o a outro patamar. Seu protótipo já voa com sucesso desde 2013 e os que veremos em 2018 nos nossos céus serão sueco-brasileiros.
Os Gripen venceram concorrências em três continentes, em compras e leasings. A procura dos caças é crescente. Os elementos básicos de fabricação são suecos e a propriedade intelectual dessa tecnologia será transferida, com a participação real, em trabalho em áreas como desenho estrutural, integração de sistemas e manutenção.
Para o Brasil trata-se de cooperação estratégica igualitária centrada no programa Gripen NG, que inclui avanços tecnológicos relevantes. Recebi, em Estocolmo, desde autoridades da aeronáutica a legisladores e empresários do Brasil, avaliando o impacto positivo resultante das vantagens da proposta Gripen. Participei de ensaios do que será o treinamento de pilotos brasileiros, com simuladores de combate aéreo: o que hoje começa é todo um sistema Gripen de operação, de novas capacidades e estudos tecnológicos conjuntos.
A Saab já colabora com empresas em São Paulo e no Rio Grande do Sul, com o Centro Inovação Sueco-Brasileiro, concede bolsas a brasileiros desde que a Suécia entrou, em 2012, como parceira no programa Ciência sem Fronteiras. Investirá em centro aeronáutico em São Bernardo do Campo, cidade-irmã da Linköping, onde os Gripen são fabricados.
Neste 2014, em setembro, quando a Feira do Livro de Gotemburgo será dedicada ao Brasil, os dois países poderão festejar a finalização das negociações do contrato Gripen, que representa um ambicioso programa de desenvolvimento tecnológico conjunto com enorme impacto nas próximas sete décadas, as mesmas que a Rainha Silvia, de ascendência e coração brasileiros, acaba de comemorar.
*Embaixadora do Brasil junto ao Reino da Suécia