Ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial avaliam como injusta a decisão do governo de mudar a destinação do terreno para erguer um monumento aos heróis nacionais
THIAGO SOARES | CORREIO BRAZILIENSE
Eles lutaram em solo europeu ou foram guardiões da costa brasileira contra as investidas de navios alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Sessenta e oito anos do fim do conflito, os veteranos e ex-combatentes, soldados da Força Expedicionária Brasília (FEB) batalham pela construção do Memorial dos Heróis da Pátria em Brasília. Inicialmente, planejada para ficar no Eixo Monumental, entre o Memorial JK e a Igreja Rainha da Paz, a obra corre risco de não ser erguida no local. Os pracinhas reclamam que o terreno doado, desde 1991, foi redirecionado “injustamente” para a construção de um memorial em homenagem ao ex-presidente João Goulart.
De acordo com a coordenadora do projeto do Memorial dos Heróis da Pátria, Cristina Soares, a obra objetiva ser uma referência à atual e às futuras gerações, com a exaltação dos valores cívicos-culturais. “Importante lembrar que ele não destaca uma personalidade e, sim, expõem os valores da
nacionalidade brasileira.” Ela lembra que a obra foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e contempla, além de área para exposições, auditório e salas de debates.
O representante do escritório do Niemeyer em Brasília, Carlos Magalhães, afirma que o terreno tem que ser direcionado para a instituição à qual foi concedido primeiramente. Ele propõe que a sociedade brasiliense, que se preocupa tanto com história do país, deve abraçar e defender a construção
do Memorial dos Heróis. “Os pracinhas eram do povo ao contrário de Jango que era de elite. Acho que o memorial em homenagem a ele deve ser erguido em outro lugar fora da capital brasileira”, defende Magalhães.
O ex-combatente Severino Francisco, 85 anos, afirma que Brasília, sendo a capital do país, necessita de um memorial que conte a história dos heróis que lutaram nas guerras. Ele serviu por 27 anos às Forças Armadas. Na infantaria, Severino participou da batalha de Monte Castelo, no fim da Segunda Guerra Mundial. Vasco Duarte, 95 anos, apoia o amigo e lembra que, em outros locais do país, existem monumentos em homenagem aos heróis brasileiros. Mas Brasília não tem sequer um arquivo histórico do período.
O presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB (Regional de Brasília), Vinícius Vênus Gomes da Silva, disse que a discussão surpreendeu os companheiros, que esperam o memorial. “São mais de 13 anos lutando para construir o memorial para aqueles que deram vida pelo nosso país.”
Segundo Cristina Soares, os veteranos não reclamam da construção de um monumento em homenagem ao Jango, mas reivindicam algo que, anteriormente, fora dado a eles: o terreno. “Eles estão com a idade bem avançada. Alguns morreram sem ver o memorial. Essa nova situação desgasta muito”, afirmou a coordenadora do projeto.
A Secretaria de Cultura informou que, inicialmente, foram criados dois lotes e confirmou que um deles era exatamente o que se encontra em discussão. Segundo a Secult, com a discussão do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCub), o GDF decidiu deixar naquele local, no Eixo
Monumental, o Memorial João Goulart. De acordo com a nota, as obras reclamadas pelos pracinhas poderão ser construídas na Praça dos Três Poderes. Para isso, a Secult pretende discutir com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a ampliação do terreno destinado a edificações.