Missão no Pacífico

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O vice de Obama chega ao Japão, na primeira escala de uma viagem na qual tentará conter a escalada na disputa com a China por um grupo de ilhas

RENATA TRANCHES | CORREIO BRAZILIENSE


Em meio à crise com a China por conta da declaração unilateral de um perímetro de defesa aérea em torno de um grupo de ilhas em litígio com vizinhos, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou ontem à região com a tarefa de equilibrar interesses e acalmar ânimos entre aliados e concorrentes. Japão, China e Coreia do Sul receberão uma autoridade americana de alto nível pela primeira vez desde que o regime de Pequim anunciou a decisão de exigir identificação e apresentação prévia do plano de voo às aeronaves de outros países que pretendam sobrevoar a área delimitada.

Biden foi recebido em Tóquio pela embaixadora Caroline Kennedy, que assumiu a representação dos EUA no último dia 24. Antes do desembarque, o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe havia reiterado que Japão e EUA, aliados íntimos desde o fim da Segunda Guerra (1945), rejeitam a decisão unilateral de Pequim. Abe e Biden devem divulgar hoje um comunicado conjunto no qual pedirão à China que reveja a medida.

Segundo o jornal Financial Times, Biden aproveitará a escala seguinte, em Pequim, para questionar os líderes chineses sobre suas “intenções”. Ele deve reunir-se com o presidente, Xi Jinping.

Na Coreia do Sul, a expectativa é de que o vice faça um discurso sobre a política dos EUA para a Ásia.

“A viagem reafirmará nossa presença duradoura como potência no Pacífico, promoverá nossa economia e os interesses comerciais e reforçará nosso compromisso para reequilibrar a política externa dos EUA para Ásia-Pacífico”, assinalou um comunicado da Vice-Presidência.

A zona de vigilância foi anunciada pela China em 23 de novembro e motivou duras críticas dos vizinhos japoneses e sul-coreanos. Na sexta-feira, o clima se acirrou depois que Pequim enviou caças para vigiar os aparelhos militares americanos e japoneses que entraram no espaço delimitado. A orientação do governo americano para que as companhias aéreas civis notifiquem Pequim quanto aos sobrevoos, no entanto, acalmou um pouco a situação. As empresas do Japão e da Coreia do Sul foram orientadas por seus governos a não submeter planos de voo.

Nova prioridade

A crise no Mar do Leste da China contribuiu para reorientar na direção do Pacífico as atenções prioritárias da política externa norte-americana, como previa o plano estratégico de defesa anunciado por Obama no ano passado. Até recentemente, questões mais urgentes — como a guerra na Síria, o impasse nuclear com o Irã e o empacado processo de paz entre palestinos e israelenses — vinham dominando a agenda do Departamento de Estado e do Pentágono, como explicou ao Correio o professor Héctor Luis Saint-Pierre, do programa de pós-graduação em relações internacionais San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP). “Com o Oriente Médio mais calmo, os EUA podem se voltar com mais intensidade para o Extremo Oriente, que sempre foi objetivo estratégico”, disse Saint-Pierre, também consultor do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

Obama deve visitar a região em abril de 2014. A viagem estava prevista para outubro, mas foi adiada por conta da queda de braço entre sua administração e o Congresso sobre o orçamento federal.

Enquanto isso, Biden buscará, de um lado, reforçar a aliança militar EUA-Japão, em vigor desde os anos 1950. Na China, ele tentará acalmar o clima de tensão com a nova potência emergente, que é um importante parceiro comercial, mas se perfila também como possível rival em futuro próximo.

Saint-Pierre analisa que a região figurava como estratégica para Washington já em 2001, mas os ataques de 11 de setembro daquele ano e a incursão global antiterror que se seguiu a eles desviaram as atenções. A China, da sua parte, tem um projeto a longo prazo e, de vez em quando, toma atitudes para projetar sua estatura geopolítica. “O país permanece em silêncio, depois toma uma decisão para marcar a presença e soberania e, em seguida, volta à normalidade estratégica.”


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