A proposta de orçamento para o próximo ano exclui recursos para a compra de caças supersônicos
PAULO SILVA PINTO | O ESTADO DE SP
São Paulo — Os franceses contam com a visita do presidente François Hollande ao Brasil, na quinta e na sexta-feira, para destravar o processo de escolha dos novos aviões de combate da Força Aérea Brasileira (FAB) de forma favorável à venda do modelo produzido pelo país, o Rafale F3. Uma prova de que não há chance de o assunto ser esquecido na pauta de conversas entre Hollande e a presidente Dilma Rousseff é o fato de que a comitiva francesa inclui Éric Trappier, o principal executivo da Dassault, empresa que lidera o consórcio Rafale.
A proposta de orçamento para o próximo ano exclui recursos para a compra de Caças supersônicos. Embora especialistas vejam a possibilidade de o negócio ser fechado em 2014 para posterior desembolso, o mais provável é que nenhuma decisão seja tomada antes do início do próximo mandato presidencial, em 2015. De qualquer forma, a Rafale acredita que está em uma situação favorável para ganhar pontos em relação ao concorrente, o norte-americano F-18, fabricado pela Boeing.
Uma razão para isso — não propagada, mas tampouco negada pelos franceses — é o fato de que as relações entre Brasil e Estados Unidos se estremeceram depois das revelações de que o serviço de espionagem norte-americano monitorou conversas da presidente Dilma, assim como de outros chefes de Estado. Perguntado sobre o tema, o presidente da Rafale e vice-presidente da Dassault, Benoît Dussaugey, afirmou que “a soberania do Brasil foi violada”, e que “o presidente Hollande está propondo um código de conduta” nas relações entre países para evitar a repetição de episódios como esse.
Certamente ninguém espera que a irritação com os norte-americanos tenha o poder de direcionar uma escolha que envolve bilhões de dólares. Entretanto a espionagem é uma parte do quadro de desconfiança e de busca da manutenção da hegemonia que marca as relações dos Estados Unidos com outros países, mesmo aliados, e que tem influência também na oferta do F-18. A Boeing concorda em transferir tecnologia para o Brasil em um patamar só autorizado a países com quem os norte-americanos mantêm ótimas relações, mas esse pacote exclui a abertura do código-fonte do avião, algo que permitiria aos brasileiros comprar armamentos de outros fornecedores e também desenvolver novos softwares para uso militar próprio.
Já os franceses aceitam transferir toda a tecnologia. Para o Brasil, que pretende comprar 36 unidades, a perspectiva de nacionalização é de 50%, com a montagem final dos Caças feita pela Embraer, em São José dos Campos (SP), e o uso de radares a serem produzidos na região do ABC paulista. Dussaugey garante estar preparado “do ponto de vista econômico e político” para fazer uma oferta com nacionalização total do Rafale, mas ressalva que, para uma encomenda pequena, o valor pode não compensar.
Preço
O valor do Rafale permanece uma desvantagem em relação ao F-18. O modelo norte-americano tem preço unitário em torno de US$ 70 milhões, enquanto o francês custa 40% a mais do que isso — números que podem variar em função de equipamentos e mesmo da negociação.
O repórter viajou a convite do consórcio Rafale