A seis meses do início da Copa, a lentidão dos investimentos em segurança e o risco de ataques cibernéticos preocupam mais que os estádios e aeroportos
FERNANDO MELLO | VEJA
A tabela da Copa do Mundo já está definida. Os estádios, se não ocorrerem outros acidentes como o do Itaquerão, devem ser entregues a tempo. Até a seleção brasileira, que já causou tanta desconfiança, ganhou a Copa das Confederações e é uma das favoritas, jogando em casa. Mas há ainda um motivo de preocupação para os organizadores: a segurança. Em um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), obtido com exclusividade por VEJA, o governo admite a precariedade de seu sistema de proteção da informação.
Mais grave: afirma que o risco de ataques cibernéticos na Copa e na Olimpíada é real. Não é só a defesa digital que preocupa. Os investimentos em segurança pública também patinam. Menos de um quarto da verba prevista no orçamento do evento foi utilizado até agora. Ainda é preciso comprar equipamentos e treinar as tropas das polícias e das Forças Armadas para utilizá-los.
No mês passado, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, teve reuniões com a equipe responsável pela segurança da Copa para discutir a auditoria 201305660/033, concluída pela CGU em 24 de outubro.
No documento de 105 páginas, os auditores apontam a inexistência de planejamento, a falta de avaliação de risco e o fato de a gestão da área de tecnologia do ministério ser feita por funcionários terceirizados. Para os auditores, há o perigo real de surgir um Edward Snowden brasileiro, numa referência ao funcionário da agência de segurança dos Estados Unidos que repassou dados confidenciais a outros países. O problema se agrava porque passam pelos computadores do Ministério do Esporte informações sigilosas e estratégicas de outros órgãos do governo, todas elas pouco protegidas e vulneráveis a invasores. Um ataque virtual a esses servidores não comprometeria apenas as informações da Copa. Poderia afetar programas fundamentais de outros órgãos, como a lista de pacientes do SUS e de beneficiários do Bolsa Família, ou os bancos de dados da Receita Federal, por exemplo. Daí a preocupação extrema dos auditores.
Os riscos envolvendo programas eletrônicos em eventos como uma Copa são tratados como prioridade internacional. Sistemas de segurança são considerados alvos para ciberterroristas. De acordo com o britânico Andrew Amery, chefe da segurança da Olimpíada de Londres, no ano passado, os riscos de terrorismo eletrônico só são evitados com prevenção e antecipação de ataques, ações que o Brasil não tem feito a contento. O relatório da CGU ainda tem críticas sobre desperdício de verbas e suspeitas de fraudes. Em um caso, a controladoria revela que o ministério assinou um contrato para o pagamento de 355.000 reais para organizar um seminário sobre oportunidades econômicas ligadas às competições.
Ocorre que o evento está previsto para 16 de julho de 2014, três dias depois da final da Copa.
Nas reuniões da semana passada na Costa do Sauípe, a Fifa explicitou a preocupação com a segurança, ainda mais com a possibilidade da volta das grandes manifestações durante a Copa. Com razão. Além dos problemas com a proteção cibernética, os investimentos na segurança pública patinam.
De acordo com o Portal da Transparência da Copa, a previsão de gastos é de 1,9 bilhão de reais. Mas apenas 422 milhões de reais foram contratados, o que representa 23% do orçamento. O valor pago até agora totaliza apenas 263 milhões de reais,14% do previsto. Só houve investimento do governo federal.
Cada uma das doze sedes deveria instalar centrais de comando e câmeras de monitoramento em áreas próximas aos estádios. Mas nada saiu do papel. Neymar e companhia podem dar conta do ataque da seleção. Mas a defesa brasileira, fora de campo, ainda é uma peneira.
COM REPORTAGEM DE PIETER ZALIS
No mês passado, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, teve reuniões com a equipe responsável pela segurança da Copa para discutir a auditoria 201305660/033, concluída pela CGU em 24 de outubro.
No documento de 105 páginas, os auditores apontam a inexistência de planejamento, a falta de avaliação de risco e o fato de a gestão da área de tecnologia do ministério ser feita por funcionários terceirizados. Para os auditores, há o perigo real de surgir um Edward Snowden brasileiro, numa referência ao funcionário da agência de segurança dos Estados Unidos que repassou dados confidenciais a outros países. O problema se agrava porque passam pelos computadores do Ministério do Esporte informações sigilosas e estratégicas de outros órgãos do governo, todas elas pouco protegidas e vulneráveis a invasores. Um ataque virtual a esses servidores não comprometeria apenas as informações da Copa. Poderia afetar programas fundamentais de outros órgãos, como a lista de pacientes do SUS e de beneficiários do Bolsa Família, ou os bancos de dados da Receita Federal, por exemplo. Daí a preocupação extrema dos auditores.
Os riscos envolvendo programas eletrônicos em eventos como uma Copa são tratados como prioridade internacional. Sistemas de segurança são considerados alvos para ciberterroristas. De acordo com o britânico Andrew Amery, chefe da segurança da Olimpíada de Londres, no ano passado, os riscos de terrorismo eletrônico só são evitados com prevenção e antecipação de ataques, ações que o Brasil não tem feito a contento. O relatório da CGU ainda tem críticas sobre desperdício de verbas e suspeitas de fraudes. Em um caso, a controladoria revela que o ministério assinou um contrato para o pagamento de 355.000 reais para organizar um seminário sobre oportunidades econômicas ligadas às competições.
Ocorre que o evento está previsto para 16 de julho de 2014, três dias depois da final da Copa.
Nas reuniões da semana passada na Costa do Sauípe, a Fifa explicitou a preocupação com a segurança, ainda mais com a possibilidade da volta das grandes manifestações durante a Copa. Com razão. Além dos problemas com a proteção cibernética, os investimentos na segurança pública patinam.
De acordo com o Portal da Transparência da Copa, a previsão de gastos é de 1,9 bilhão de reais. Mas apenas 422 milhões de reais foram contratados, o que representa 23% do orçamento. O valor pago até agora totaliza apenas 263 milhões de reais,14% do previsto. Só houve investimento do governo federal.
Cada uma das doze sedes deveria instalar centrais de comando e câmeras de monitoramento em áreas próximas aos estádios. Mas nada saiu do papel. Neymar e companhia podem dar conta do ataque da seleção. Mas a defesa brasileira, fora de campo, ainda é uma peneira.
COM REPORTAGEM DE PIETER ZALIS