Uma espera de 18 anos chegou ao fim nesta quarta-feira, 18, quando Dilma Rousseff deixou 170 oficiais generais de boca aberta durante almoço de fim de ano ao anunciar a opção brasileira pelos caças suecos Gripen, que serão adquiridos em substituição aos Mirage, em vias de serem aposentados.
Renato Jakitas | Voz da Rússia
Chega assim uma longa e disputada negociação internacional, uma das mais ferrenhas do mercado de defesa nos últimos anos, e com um desfecho mais brasileiro impossível: pegando todo mundo de surpresa. Ao longo do governo Lula, chegou-se a anunciar a opção pelo francês Dassault Rafale, que ofereceu ao Brasil transferência irrestrita de tecnologia. Mas o pronunciamento foi encarado precipitado e desagradou profundamente os oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB). Lula recuou.
Na época, o equipamento da França foi duramente criticado devido ao seu preço. E nos últimos tempos, falava-se muito por aqui da opção dos Estados Unidos, o F-18, que agora se avalia ter ido à pique devido à inflexibilidade da Boeing, a fabricante norte-americana do Super Hornet. E com um tempero todo especial: a relação agridoce de Dilma com os Estados Unidos após o episódio de espionagem da NSA.
Assim sendo, a avaliação é que o negócio com os suecos, avaliado em US$ 4,5 bilhões para a aquisição de 36 caças, foi excelente para o Brasil. Primeiro porque, sejamos práticos, colocou um ponto final nesse processo para lá demoroso e que corria o risco de se transformar em mais uma imensa jabuticaba - o governo vai desativar seus caças Mirage na noite de 31 de dezembro e corria o risco de ficar sem um supersônico no radar da defesa nacional.
Outro ponto importante, e esse do ponto de vista econômico, é que o país tem um longo histórico de tecnologia na aviação civil, iniciado por meio da Embraer. Recentemente, foi amplamente noticiado o projeto brasileiro para um cargueiro de grande capacidade, um veículo que praticamente não encontra concorrente no mundo - tirando o norte-americano Hercules, que está, talvez, em sua última geração. E ao bater o martelo por esse negócio, que contempla transferência total de tecnologia, esse caça coloca o Brasil entre os grandes fabricantes de aviões de combate de grande desempenho do mundo.
Sobre o caça. Ao contrário dos concorrentes franceses e norte-americanos, o Gripen ainda não voa. Os suecos iniciaram a processo de produção do avião em julho. Trata-se de uma versão aperfeiçoada do Gripen E/F, que já está em operação na Suécia, Reino Unido, Índia e Suíça.
A negociação prevê que o Brasil participe do processo de produção com ampla transferência de tecnologia. A estimativa é que 40% do modelo e 80% da estrutura sejam de fabricação nacional.
o Gripen pode abater outros aviões no ar ou enviar mísseis para o solo. Ele também tem capacidade de realizar ataques contra alvos fora do alcance de visão. Segundo um um relatório divulgado há três anos pela FAB, era esse o projeto preferido dos militares.