Enviado internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi disse, nesta sexta-feira em Damasco, que a Conferência Internacional Genebra 2, que pretende encontrar uma solução para o conflito sírio, não ocorrerá sem a participação da oposição.
– Se a oposição não participar, não haverá conferência de Genebra – disse em coletiva de imprensa em Damasco antes de partir para Beirute.
A afirmativa de Brahimi ocorre no momento em que forças do governo sírio capturaram uma cidade no norte do país, próxima de uma instalação ligada ao programa de armas químicas da Síria após dias de confrontos intensos, disse um grupo que monitora a violência. A cidade, Safira, fica localizada também em uma estrada estratégica que pode ser usada para ajudar áreas controladas pelo governo em Aleppo, uma cidade grande nas proximidades. O local estava sob controle de rebeldes, incluindo alguns militantes ligados à Al Qaeda.
“Forças do governo tomaram o controle da cidade estratégica de Safira após dias de confrontos e bombardeios pesados”, disse em nota o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado na Grã-Bretanha.
O Observatório, que monitora a violência na Síria através de uma rede de fontes espalhadas pelo país, não deu mais detalhes, e tampouco havia relatos sobre Safira na mídia estatal síria. A Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), que possui equipes na Síria para eliminar as armas químicas do país, informou na quinta-feira que seus inspetores não puderam visitar dois locais considerados perigosos demais.
A Opaq não identificou esses locais, mas uma fonte com conhecimento das operações da entidade disse que um deles era em Safira, que fica a sudeste de Aleppo. A instalação de armas químicas já estava sob controle do governo, mas foi esvaziada de equipamentos devido aos confrontos na proximidade, segundo a Opaq.
Situação dramática
Enquanto seguem os combates, a agência alimentar da ONU relatou, nesta manhã, que foram entregues alimentos a 3,3 milhões de sírios em outubro, um número recorde, mas manifestou preocupação, nesta sexta-feira, com a situação de civis que continuam inacessíveis em áreas sitiadas. O resultado de outubro do Programa Mundial de Alimentos (PMA) significa que foram alimentados em outubro 600 mil sírios a mais do que no mês anterior.
– É um recorde para as operações do PMA (na Síria) desde o início em 2011. Mas ainda está aquém da nossa meta de 4 milhões – disse Elisabeth Byrs, porta-voz da entidade em Genebra.
Uma guerra civil iniciada há mais de dois anos e meio já matou mais de 100 mil pessoas na Síria. Segundo Byrs, os combates e a violência em outubro impediram o acesso dos agentes humanitários a partes das províncias de Aleppo e Hassakeh.
– Em outros lugares do país, especialmente nas governadorias de Damasco e Damasco Rural, mais áreas estão se tornando inacessíveis devido à intensificação do conflito – disse ela.
A porta-voz citou especificamente o caso de Mouadamiya, um subúrbio de Damasco onde os agentes humanitários tentaram chegar sem sucesso em nove ocasiões no último ano. Na terça-feira, um raro momento de coordenação entre o governo e os rebeldes permitiu que 1.800 civis fugissem da cidade sitiada, mas milhares de outros permanecem retidos ali, com poucos estoques de alimentos, água e remédios.