Ivan Nikolaiev | Gazeta Russa
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Os desentendimentos entre Moscou e Bruxelas referentemente à questão síria andam ultimamente na boca de todo mundo. Um pouco do sal antigo foi com particular incidência deitado na ferida da Guerra Fria devido à possível implantação de meios de defesa antimísseis norte-americanos no continente europeu. E de alguma forma permanecem na sombra aqueles esforços concretos de aproximação entre a OTAN e a Rússia que estão de fato sendo empreendidos há mais de uma década, desde que em 2002 foi criado o Conselho OTAN-Rússia. Assim, passam despercebidos os exercícios conjuntos de resgate de tripulações de submarinos ou de combate ao tráfico de droga na Ásia Central. Nas histórias da luta contra a pirataria ao largo do Corno de África raramente se menciona que este importante serviço de garantia da segurança do comércio mundial é feito pelos marinheiros da OTAN, lado a lado ou, para ser mais preciso, bordo a bordo com marinheiros russos. Também fora das objetivas e pouco notado é o cuidadoso e permanente trabalho bilateral efetuado no campo da não-proliferação de armas de destruição em massa. Vale a pena mencionar aqui também a inestimável ajuda que os serviços de segurança russos prestaram ao disponibilizarem extensiva informação às forças da coalizão internacional que em 2001 iniciaram uma luta contra o Talibã no Afeganistão.
Existem outros exemplos da frutífera cooperação "de resposta a desafios reais de segurança dos nossos países, e não problemas imaginários herdados da Guerra Fria", como se expressou o vice-diretor do Departamento de Cooperação Europeia do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Iúri Gorlatch.
Mas um dos projetos mais concretos do Conselho OTAN-Rússia é, segundo o presidente do grupo de trabalho do Conselho, Ludwig Decamps, a iniciativa de cooperação em matéria de utilização do espaço aéreo (Cooperative Airspace Initiative - CAI) do Conselho OTAN-Rússia. O objetivo desta iniciativa é o de tornar as ações conjuntas da OTAN e Rússia o mais concertadas possível em caso de assalto terrorista a aeronaves civis.
Em uma situação dessas, os dois lados envolverão na sua resolução dezenas de serviços e milhares de pessoas, desde a Defesa Antiaérea até o Ministério das Relações Exteriores, desde controladores civis de tráfego aéreo até pilotos de caças de intercepção, que levantam voo nestas eventuais situações para forçar a aterrissagem do "avião renegado", como é conhecido a aeronave sequestrado na gíria profissional. As fronteiras aéreas são uma dificuldade acrescida às manobras de resgate. A vida dos reféns e os objetos terrestres, contra os quais podem ser utilizadas as aeronaves capturadas, terão que contar com um perigo adicional em caso de resgate não coordenado entre as partes.
"Céus Vigilantes" a oeste
Evitar uma repetição dos acontecimentos trágicos de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos foi o ponto de partida desta iniciativa. Nenhum país consegue garantir sozinho a segurança dos seus céus, esta é uma causa comum, sublinham em uníssono vozes em Bruxelas e Moscou. E na quinta-feira terminou a fase ativa dos terceiros exercícios anuais no âmbito da cooperação do CAI. Este ano se realizaram exercícios em três regiões ao mesmo tempo: no Ártico, ao largo da costa do Mar Báltico e no Mar Negro. Os parceiros dos russos foram, respectivamente, os países-membros da OTAN Noruega, Polônia e Turquia.
Como é suposto acontecer em um cenário deste tipo de exercícios, foi simulado o sequestro de aviões por terroristas e, em seguida, a sua intercepção com caças, aterrissagem forçada e neutralização da ameaça terrorista. O comportamento das aeronaves "capturadas" variava conforme a situação: um avião que decolou na Polônia foi interceptado pelos caças russos Su-27 – que o fizeram inverter a direção do voo sobre Kaliningrado, depois que a tripulação do avião ter ela mesmo neutralizado os "terroristas" – e "entregue" aos caças poloneses para o pouso em território daquele país. Com a Turquia foi encenada a mesma situação, mas com direção oposta: os caças F-16 deles escoltaram a aeronave capturada em seu território e a "entregaram" aos colegas russos. Já com a Noruega os exercícios foram realizados em modelo de simulação, igualmente útil para a compreensão da atuação conjunta. As ações foram coordenadas ao mesmo tempo a partir de Varsóvia e de Moscou. "As tarefas, especialmente na região de Kaliningrado, foram dificultadas pelo fato de estes exercícios terem coincidido com os do "Ocidente 2013", lamentou na coletiva de imprensa do fim dos exercícios "Céus Vigilantes" o vice-comandante das tropas da Defesa Antiaérea da Federação Russa, Kirill Makarov.
O director dos exercícios do lado russo, e um dos responsáveis do Comitê Nacional Antiterrorismo, o tenente-general Evguêni Potapov, sublinhou que o CAI já hoje mesmo eleva o grau de "segurança de milhares de passageiros que utilizam o transporte aéreo em voos internacionais e milhões de cidadãos em terra".