Correspondente / Genebra
O governo de Bashar Assad classificou ontem como "muito negativa" a decisão do Brasil de emitir vistos humanitários, válidos por dois anos, para cidadãos sírios que quiserem deixar o país. Por outro lado, a ONU elogiou a posição brasileira, que deve elevar o fluxo de refugiados nas próximas semanas.
"Eu até entendo, do ponto de vista humanitário, o gesto do Brasil. Mas, na realidade, o que ocorre é muito negativo para a Síria e para sua sociedade", argumentou o embaixador da Síria na ONU, Faysal Hamoui. "Com esses gestos, governos estão roubando a população da Síria, nos deixando sem seus melhores atributos."
A nova posição do Brasil foi adotada depois que grupos de sírios criticaram a forma pela qual os pedidos de refugiados eram tratados, dificultando a emissão de vistos. Desde o começo da semana, qualquer pessoa afetada pelo conflito na Síria pode solicitar visto humanitário - que pode ser estendido também para seus familiares - em embaixadas do Brasil na região, como em Beirute ou Amã.
"É uma decisão importante e simbólica. Isso ajudará a tirar a pressão de países da região que estão recebendo milhões de sírios", afirmou o porta-voz do Alto-Comissariado da ONU para Refugiados, Adrian Edwards, que também elogiou o fato de o País liderar a adoção de medidas desse tipo na América Latina.
Hoje, cerca de 280 refugiados sírios estão no Brasil, o que constitui a quarta maior nacionalidade entre os cerca de 4 mil refugiados no País. Apesar da iniciativa, a ONU admite que ainda busca destino para mais de 10 mil sírios que precisam ser retirados ainda este ano, por questões de segurança ou porque vivem em condições delicadas.
Na terça-feira, o Comitê Nacional para os Refugiados, órgão do Ministério da Justiça, publicou no Diário Oficial a norma que garante a concessão de visto especial a pessoas afligidas pelo conflito armado na Síria que desejem chegar ao Brasil buscando refúgio.
"A decisão expande o olhar humanitário brasileiro. A resolução torna mais ágil o processo de entrada dos refugiados com suas famílias", afirmou o diretor do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, João Guilherme Granja Xavier da Silva.