NOVA YORK
Detalhes do relatório da ONU sobre o ataque com armas químicas na Síria apontam diretamente para formações militares leais ao presidente Bashar Assad, o que sugere que o regime é responsável pelo massacre de cerca de 1,4 mil pessoas no dia 21 de agosto na periferia de Damasco.
Os inspetores, com mandato para investigar, mas não para atribuir responsabilidade, listaram as direções precisas de voo de dois ataques com foguetes que conduzem ao reduto de Assad, no Monte Qasioun, onde ficam o palácio presidencial, a sede da Guarda Republicana e da 4a Divisão do Exército.
"É o centro de gravidade do regime", disse Elias Hanna, general da reserva do Exército libanês e palestrante da Universidade Americana de Beirute. "É o núcleo do regime." O Monte Qasioun é a posição militar mais importante de Damasco e uma rede de locais e posições ocupadas por unidades de elite ligadas ao presidente.
Assad e a Rússia continuam afirmando que os rebeldes sírios foram responsáveis pelos ataques, mas os dados da ONU, se forem precisos, seriam a primeira evidência de que eles estão mentindo.
Forças rebeldes jamais conseguiram penetrar nas instalações principais do Monte Qasioun. Em termos táticos e técnicos, elas seriam incapazes de organizar e disparar barragens de foguetes daquele local sem serem detectadas.
As evidências da ONU foram colhidas por meio de medições e técnicas investigativas normais nos locais atingidos por foguetes carregados de sarin. Em um local de impacto, em Muadhamiya, os inspetores descobriram trajetória do foguete por meio de marcas em uma cobertura vegetal que foi destruída na ocasião. "A linha que liga a cratera e a perfuração da tela vegetal pôde ser conclusivamente estabelecida e tinha uma inclinação de 35 graus", diz o texto. Em outra área de impacto, um foguete de 330 milímetros permaneceu enterrado e ficou intacto até ser investigado.
De acordo com os investigadores, o ângulo formado pela agulha da bússola com o norte magnético podem ser invertidos para mostrar a origem do disparo. Tomados em conjunto, os indícios apontam para o Monte Qasioun.
"Ligar os pontos fornecidos por esses números nos permite ver de onde os foguetes foram disparados e quais foram os responsáveis", disse Josh Lyons, analista de imagens por satélite da Human Rights Watch. "Não é conclusivo, mas é altamente sugestivo."
Urn agente de inteligência americano de alto escalão, falando na condição de anonimato, disse que os EUA haviam confirmado lançamentos de foguetes que corroboravam os dados da ONU e as análises da Human Rights Watch.
Unidades da Guarda Republicana são responsáveis por manter o controle da cidade e proteger o palácio presidencial. O Monte Qasioun está totalmente interditado porque se tomou uma zona militar controlada pelo governo.
No ano passado, os disparos de artilharia do Monte Qasioun se tornaram a trilha sonora da capital. Trabalhadores humanitários dizem que, à noite, eles podem ver os riscos de projéteis voando do local sobre a cidade até os subúrbios controlados pelos rebeldes. "Quando você dispara de um lugar como esse, isso significa que você não se importará em ser acusado em algum momento", disse o general Hanna. | NYT