As conversações sobre o futuro destino da Síria ainda não são concluídas e, portanto, mantém-se uma probabilidade de golpe militar da parte dos Estados Unidos. Washington declara diretamente que a violação por Damasco das decisões sobre a submissão das armas químicas ao controle internacional levará inevitavelmente a um cenário militar. Que podemos esperar do semelhante desenvolvimento da situação? Poderá o Exército sírio responder adequadamente a uma intervenção militar ou o país irá sofrer uma derrota relâmpago? Os peritos não são unânimes nesta questão.
A Síria não dispõe de meios militares e técnicos para repelir o eventual golpe das Forças Armadas americanas. Por isso, o Exército sírio pode ser um alvo fácil para a máquina militar americana, treinada em numerosas operações externas, considera o perito militar, Mikhail Khodarenok, em sua recente publicação.
O autor aponta que as tropas sírias não dispõem de meios avançados de luta radioeletrônica, que determinam em grau considerável a vantagem numa guerra contemporânea. Ao mesmo tempo, em geral, as forças governamentais da Síria são muito mais fracos do que seus “colegas” americanos, ressalta Khodarenok:
“Tal diz respeito aos meios de reconhecimento e aos meios ativos de ataque contra os agrupamentos opostos das Forças Armadas dos EUA. Naturalmente, referimo-nos à situação em que o conflito militar já tem começado. Os Estados Unidos irão atacar impunemente estruturas militares e centros administrativo-políticos da Síria, enquanto o Exército sírio não poderá contrapor nada à superioridade militar-técnica total.”
Em opinião do perito, militares americanos sempre irão adiantar-se a ações das tropas sírias: os dados de reconhecimento espacial e de agentes têm neste caso uma importância decisiva. Os Estados Unidos dispõem em grau suficiente dessas informações. Por outro lado, a defesa antiaérea da Síria tem equipamentos obsoletos e não forma um sistema integral. As tropas sírias não dispõem ainda de armas de alta precisão capazes de assestar golpes vulneráveis contra estruturas externas inimigas, que respondem pelo comando de operações. Mas os militares americanos, contrariamente, têm suficientes meios militares para fazer a guerra.
Refletindo em sentido global, o potencial militar-econômico dos dois países é incomparável e, a priori, o mais forte vence em tais conflitos.
Contudo, em opinião do dirigente do Centro de Conjuntura Política, Ivan Konovalov, a Síria é capaz de causar danos ao eventual adversário. Seu sistema de defesa antiaérea, apesar de não ser nova, tem grande número de instalações que podem abater aviões e mísseis de cruzeiro. O mais importante, porém, é o fator político e não puramente militar. Não é segredo que a Síria tem aliados e amigos, cujo apoio pode provocar grandes problemas aos EUA que não renunciam aos planos militaristas, considera o perito:
“Não se pode riscar os aliados da Síria. O país é apoiado pelo Irã e o movimento Hezbollah. O Irã tem enorme influência na diáspora xiita, divulgada em todas as monarquias do Golfo Pérsico, em muitas das quais os xiitas predominam, podendo assestar golpes de resposta contra os americanos. Sem dúvida, no caso de ataques diretos, a Síria tem poucas capacidades, mas, utilizando o termo de “guerra por procuração”, suas capacidades crescem consideravelmente”.
Em 15 de setembro, o Irã e a ONU assinaram um acordo de concessão de ajuda humanitária a Damasco. Ao mesmo tempo, Teerã anunciara anteriormente a disposição de prestar apoio militar à Síria no caso de ações armadas contra o país. Na altura, porém, o Irã teve em vista Israel, um dos protagonistas-chave na região.
Tais precedentes já foram fixados no decorrer do conflito sírio. Nestas condições muito instáveis, o golpe contra a Síria é desvantajoso em primeiro lugar para Israel, aliado principal dos EUA. Involuntariamente, aos olhos de xiitas, a agressão da América será projetada também para este país. Já se tornou habitual considerar o Irã como adversário ideológico, mas uma confrontação militar entre aqueles países irá explodir todo o Oriente Próximo, levando ao derramamento de muito sangue.
Por isso, o papel pouco sensível por enquanto do Estado hebreu como “refreador” político das ambições belicosas de Washington em relação à Síria pode tornar-se mais notável do que parece à primeira vista. Não é atoa que a direção israelense valorizou altamente os esforços diplomáticos de Moscou, que podem, finalmente, trazer a paz para a terra síria.
Mas os Estados Unidos podem ainda independentemente, sem a interligação Israel-Irã, “fazer muitos disparates”. É geralmente conhecida a precisão decantada das armas americanas. Há pouco que assassinatos maciços de civis no Iraque e no Afeganistão eram quase ordinários. A tentativa de abalar estruturas militares sírias com milhares de Tomahawks pode provocar infelizmente tiros incertos, inclusive fora do território sírio, acabando com a paciência de países da região.