O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reconheceu nesta sexta-feira a divisão entre os países do G20 sobre a intervenção militar na Síria. Em entrevista, ele voltou a defender a ação armada e confirmou para a próxima terça (10) um discurso à população americana.
O pronunciamento será feito um dia após a votação do Congresso para avaliar a ação armada contra o regime de Bashar al-Assad, um pedido de Obama. Na semana passada, o mandatário acusou Assad de usar armas químicas contra civis da periferia de Damasco, em 21 de agosto.
Segundo relatório da inteligência americana, a ação deixou 1.429 mortos, sendo 426 crianças, o que poderia ser o pior incidente com armas químicas em 25 anos. A França afirmou que participaria de uma intervenção americana, que também pode receber o respaldo da Turquia e de países do golfo Pérsico.
Na entrevista, Obama afirmou que recebeu o apoio de diversos países e que muitos deles concordaram com o uso da força no caso síria, mas reconheceu que há divisão entre as delegações sobre o tema. "A maioria dos países concorda com nossa conclusão de que Assad foi o responsável pelo uso de armas químicas".
Ele qualificou como "sincera" a conversa com o presidente russo, Vladimir Putin, que é contra a intervenção. "Eu disse a ele que não esperava que ele concordasse comigo. Mas a Rússia e outros países terão que deixar de lado as divergências para trabalhar em uma solução de longo prazo para a crise na Síria".
POUCO APOIO
Apenas cinco países do G20 respaldaram a ação armada sem a autorização da ONU -- Arábia Saudita, Canadá, França, Turquia e Reino Unido, cujo Parlamento negou autorização para intervir na Síria.
Em nota divulgada pelos Estados Unidos, Austrália, Itália, Japão e Coreia do Sul afirmam que Assad usou armas químicas, mas descartam intervir na Síria sem apoio da ONU. Os outros países também requisitam autorização, embora não saibam ou não acusem o regime pela morte dos civis.
Mais cedo, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a intervenção seria contraproducente e perturbaria a economia mundial. Ele lembrou que a maioria dos países, incluindo a Rússia, é contrária a uma ação armada sem respaldo do Conselho de Segurança.
"As opiniões não estão divididas pela metade. [...] A chanceler alemã é cautelosa e o país não vai participar de nenhuma ação militar. Quem condena e se opõe a esse modo de ação? Rússia, China, Indonésia, Argentina, Brasil, África do Sul e Itália, além do secretário-geral da ONU. E não podemos esquecer do papa, que considerou a intervenção inadmissível".
Diante da possibilidade de veto da Rússia, uma das principais aliadas do regime de Bashar al-Assad, Obama afirmou que atuará mesmo sem autorização do Conselho de Segurança da ONU e disse que preferiria uma ação armada com a participação e respaldo de outros países.
"Não estou me coçando para fazer uma intervenção militar. Eu sei que fui criticado nos últimos anos por não atuar. Tenho uma reputação razoavelmente merecida e um pensamento sóbrio sobre o envolvimento militar".
CONGRESSO
Obama não quis especular sobre o resultado da votação no Congresso. Obama reconheceu o ceticismo de alguns parlamentares e da população americana sobre a intervenção militar, mas afirmou que continuará a tentar convencê-los da necessidade de atuar contra o regime de Bashar al-Assad.
"Eu preferi consultar o Congresso porque eu não poderia honestamente afirmar que o uso de armas químicas por Assad se mostra como uma ameaça iminente aos Estados Unidos. Se fosse uma ameaça direta aos EUA ou a nossos aliados, tomaria uma providência sem consulta".