Deutsche Welle
Para a Coalizão Nacional Síria, logo ficou claro quem eram os responsáveis pelo ataque com gás venenoso da semana passada. No mesmo dia do incidente, a maior aliança de oposição ao ditador Bashar al-Assad comunicava, em sua página na internet, que o regime estava por trás da atrocidade.
Com palavras duras, os autores do texto apelavam à comunidade internacional para que finalmente interviesse no conflito. "Apelamos com urgência ao Conselho de Segurança para que condene imediatamente os crimes de Assad e para que publique uma resolução baseada no capítulo VII da Carta da ONU, dedicado à preservação da paz e segurança."
A Coalizão Nacional fundamentava sua denúncia através dos numerosos testemunhos a que afirma ter tido acesso logo após o ataque. Além disso, apresenta indícios políticos. "O quanto de desconfiança em relação à oposição é necessário para se chegar a pensar, com toda seriedade, que ela mataria seus próprios simpatizantes e apoiadores existentes na população destes distritos?", ironiza o porta-voz do Conselho Nacional Sírio na Alemanha, Sadiq al-Mousslie, grupo integrante da coalizão.
Mousslie reconhece que na Síria também estão ativos grupos extremistas que não são integrados à oposição regular, mas considera altamente improvável que eles tenham realizado um ataque com armas químicas contra o povo sírio.
"Caso isso tivesse mesmo acontecido, os responsáveis teriam que contar com uma reação extremamente dura da oposição real síria. O Exército Livre Sírio não toleraria tal coisa", diz.
Expectativas
"Os Estados ocidentais, como defensores dos direitos humanos e da liberdade, poderiam punir o regime de Bashar al-Assad e seus auxiliares pelo massacre e pelo ataque químico da semana passada", sugere, em entrevista à DW, Monzer Makhous, embaixador da Coalizão Nacional na França. Na avaliação dele, a ação militar é uma opção cabível.
Makhous admite, no entanto, que a alternativa enfrentaria sérias dificuldades diplomáticas. Ele ressalta que nem China nem Rússia concordariam jamais com uma resolução correspondente no Conselho de Segurança da ONU.
"Mas o regime de Assad cometeu, através do uso de gás venenoso, uma grave violação do direito internacional. E isso permitiria aos países dispostos a lançarem uma ação contra Assad a agirem mesmo sem uma decisão do Conselho de Segurança da ONU", opina.
O opositor sírio destaca, ainda, que a ONU reconhece o princípio da "responsabilidade de proteger". "Ele obriga os atores internacionais a atacarem, caso necessário, se um governo comete graves violações dos direitos humanos contra seus próprios cidadãos", argumenta.
Riscos
Uma intervenção militar também beneficiaria estrategicamente a Coalizão Nacional. "O regime de Assad é claramente superior à oposição em termos de equipamento bélico", comenta o porta-voz da Coalizão Nacional, Hisham Marwah, lembrando que o governo sírio recebe fornecimentos regulares de armas, principalmente da Rússia e do Irã, enquanto a oposição não possui apoio comparável. "Nós simplesmente não conseguimos armas suficientes."
E nem todos os grupos dentro da oposição síria são a favor da intervenção militar estrangeira. O Comitê Nacional de Coordenação Síria para a Mudança Democrática é veementemente contra. Seu porta-voz, Haytham Manna, observou, em uma entrevista à agência de notícias United Press International, que as armas químicas vieram de fabricantes locais. A Aliança também criticou a concentração das atenções sobre as vítimas do ataque químico, lembrando que 100 mil sírios que já morreram no conflito.
Uma coisa é certa: uma intervenção militar seria arriscada. O jornal árabe editado em Londres Al Hayat chamou a atenção nesta semana para as incertezas que podem estar associadas a uma intervenção. No caso de um ataque, Damasco pode disparar foguetes contra Israel, desafiando o país vizinho a retaliar. Ao mesmo tempo, o regime de Assad poderia disparar mísseis contra a Jordânia e a Turquia, membro da Otan.
Além disso, é uma incógnita como reagiria o Irã, um dos principais aliados de Assad. O grupo radical libanês Hisbolá também poderia apontar seus mísseis contra Israel, para, em seguida, se preparar para uma guerra que a organização não pode vencer. E a segurança das tropas da ONU presentes no sul do Líbano também seria comprometida.
Sadiq al-Mousslie também reconhece os perigos de uma ação militar. No entanto, o porta-voz do Conselho Nacional Sírio adverte: "Se esperarmos mais, surgirão novos riscos da mesma forma."