YOCHI DREAZEN | FOREIGN POLICY - O Estado de S.Paulo
Em sua ofensiva de charme das últimas semanas, antes de falar por telefone com Barack Obama, o presidente iraniano, Hassan Rohani, escreveu um artigo para o Washington Post pedindo o fim da "era das rixas sangrentas". Ele ainda afirmou que esperava encontrar Obama e até desejou aos judeus um feliz ano-novo.
Algo inimaginável alguns meses atrás parece possível: um acordo nuclear de amplo alcance, que poderia pôr fim a décadas de hostilidade.
O Irã gostaria que os Estados Unidos e seus aliados suspendessem as medidas que levaram outros países a cortar drasticamente as compras de petróleo iraniano, reduzindo as receitas mensais que o recurso proporciona ao país em cerca de 60% nos dois últimos anos, praticamente excluindo o país do sistema financeiro global. Também quer o reconhecimento de que o país tem o direito de empreender um programa nuclear para fins civis.
Os EUA querem provas claras de que o Irã abandonou a busca de armas nucleares e não disporá mais dos equipamentos ou do material radioativo necessário para retomá-la. Há uma série de exigências dos americanos.
A primeira tende a ser o fim do enriquecimento de urânio. Calcula-se que o país possua 185 quilos de urânio enriquecido a 20%, o bastante para fazer cerca de 18,5 quilos de urânio para armas atômicas.
Se o Irã acumular 250 quilos de urânio de grau inferior, esbarrará na linha vermelha, no entendimento dos israelenses, porque essa quantidade pode ser usada para a produção de 25 quilos de urânio mais potente - o suficiente para construir uma única arma nuclear.
David Albright, do Instituto de Ciência e Segurança Internacional, que acompanhou de perto o programa nuclear do Irã, afirma que um acordo exigiria quase certamente que o Irã parasse com o enriquecimento de urânio até um grau de pureza de 20% e depois vendesse parte dos seus estoques ou o colocasse sob supervisão internacional.
As autoridades americanas exigiriam também que o Irã fechasse uma de suas duas usinas de enriquecimento, Natanz ou Fordo. Natanz é uma instalação mais antiga que há muito é usada para a produção de urânio enriquecido a graus menores de pureza. Fordo, mais sofisticada, preocupa enormemente os parlamentares americanos e israelenses porque foi construída muito abaixo da superfície, e seria difícil destruí-la por ataques aéreos. A publicação alemã Der Spiegel noticiou que Rohani está disposto a desativar Fordo, o que representaria uma concessão considerável, mas o governo iraniano negou.
Outra provável exigência é a redução no número de centrífugas. No mês passado, o diretor do programa nuclear do Irã informou que o país tem 18 mil centrífugas necessárias para enriquecer mais urânio, e cerca de 9 mil delas já estão plenamente operacionais. Albright afirma que um possível compromisso poderia permitir que o Irã continuasse usando as centrífugas já operacionais, desmantelando, ao mesmo tempo, as cerca de 9 mil que ainda não começaram a funcionar.
Segundo Colin Kahl, funcionário de alto escalão do Pentágono para o Oriente Médio, todo acordo também precisaria incluir a instalação de câmeras de vídeo capazes de vigiar 24 horas por dia todas as pessoas que trabalham nas instalações nucleares iranianas. As imagens seriam transmitidas para a sede da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena.
A última condição seria o fechamento de um reator de água pesada cuja construção em Arak foi revelada em 2002. Esse tipo de usina pode ser usado para a produção de plutônio, um componente fundamental das armas nucleares.
Kahl observa que os EUA poderiam impedir um ataque israelense fornecendo ao Irã um reator de água leve, que produziria a mesma quantidade de energia de uma usina de água pesada, sem a capacidade de produzir o plutônio de alta qualidade necessário para uma bomba.
Existem fortes motivos de ceticismo em relação às perspectivas de algum tipo de acordo. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, é quem detém o poder no país e não está absolutamente claro se ele estaria de fato interessado em um acordo ou disposto a dar a Rohani a autoridade para negociar um.
Líderes israelenses acreditam que o iraniano tenta enredar os países do Ocidente levando-os a assinar um acordo que "manteria a capacidade do Irã de construir rapidamente uma arma nuclear no momento que quisesse - a chamada opção repentina".
Mesmo que fosse assinado um acordo, Israel poderia decidir bombardear o Irã de qualquer maneira, se achasse que Teerã continua trabalhando no desenvolvimento de uma arma nuclear.
Enquanto isso, no Capitólio, os parlamentares de ambos os partidos quase certamente se uniriam para combater todo esforço para retirar as atuais sanções impostas ao Irã.
"Não acredito que seja possível chegar a um acordo ideal", afirmou. "Mas um acordo razoavelmente bom é muito melhor do que ir à guerra ou aceitar uma bomba iraniana. As alternativas à falta de um acordo seriam muito piores", diz Kahl.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA