Por Redação, com agências internacionais - de Nova York, EUA
Os Estados Unidos e a China concordam fortemente sobre a necessidade de se alcançar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU obrigatória para erradicar o arsenal de armas químicas da Síria, disse na quinta-feira uma autoridade dos EUA. Os dois países também concordaram que o conselho de 15 membros, sendo 5 deles permanentes, deve agir rapidamente sobre essa resolução, disse a autoridade a jornalitas, depois de um encontro entre o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e o chanceler chinês, Wang Yi.
A Rússia, por sua vez, diz estar pronta para ajudar a vigiar os locais onde estão armazenadas armas químicas da Síria quando o presidente Bashar al-Assad destruir o arsenal e estoques do país, disse o vice-ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, segundo informações de agências de notícias divulgadas na quinta-feira. Ryabkov fez as declarações enquanto o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se debruça sobre uma resolução relativa a um acordo sobre armas químicas que seja aceito pela Rússia e nações ocidentais.
Resolução aprovada
Ainda nesta quinta-feira, após semanas de impasse, cinco potências concordaram com as linhas gerais de um acordo sobre o arsenal químico da Síria, segundo três diplomatas ocidentais, embora a Rússia tenha dito que as divergências ainda não foram superadas. Os ministros de Relações Exteriores dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas – Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China – se reuniram durante o almoço com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disseram os diplomatas sob condição de anonimato.
Segundo eles, uma proposta de resolução poderá ser apresentada em breve ao plenário do Conselho, formado por 15 países. Além disso, acrescentaram, os cinco membros permanentes vão se reunir na sexta-feira para discutir uma proposta de conferência de paz para a Síria.
– Parece que as coisas estão avançando. Estamos mais próximos em todos os pontos principais – disse uma fonte diplomática ocidental, acrescentando que houve “um acordo entre os cinco sobre o principal”.
Um terceiro diplomata também sugeriu que um acordo sobre o texto da resolução seja iminente. Mas a Rússia negou que haja um consenso sobre os pontos principais.
– Isso é apenas um pensamento otimista. Não é a realidade. O trabalho a respeito do esboço de resolução prossegue – afirmou o porta-voz da missão russa na ONU.
Rússia resiste
Uma fonte oficial dos EUA citou progressos, mas alertou que ainda há trabalho pela frente. EUA e Rússia definiram preliminarmente neste mês as bases de um acordo que colocaria o arsenal químico sob controle internacional e pouparia o regime de Bashar al-Assad de sofrer uma ação militar norte-americana em retaliação ao uso de armas químicas contra civis.
Desde então, a negociação passou para o âmbito dos cinco membros permanentes do Conselho. A Rússia resiste a qualquer resolução que evoque o artigo 7º da Carta da ONU, que abriria espaço para sanções e ações militares contra o governo do seu aliado Assad.
Um diplomata ocidental que teve acesso ao esboço mais recente, antes do almoço com Ban, disse que a única referência ao artigo 7º vinha no fim: a ameaça de “impor medidas” amparadas por essa cláusula em caso de descumprimento. Para que a ameaça fosse levada a cabo, no entanto, seria necessária uma segunda resolução. Em dois anos em meio de guerra civil na Síria, a Rússia usou repetidamente seu poder de veto, com ajuda da China, para vetar qualquer tipo de sanção a Assad.
Rebeldes irritados
Milhares de rebeldes sírios, irritados com as divisões internas na luta contra Bashar Al Assad, romperam com a coalizão de oposição apoiada pelo Ocidente e pediram a formação de uma nova frente islâmica, enfraquecendo os esforços internacionais para organizar uma força militar pró-ocidental para substituir o presidente sírio. Ainda mais dividida no campo de batalha, onde as tropas de Assad mais bem armadas vêm ganhando terreno, aliados do Exército Sírio Livre (ESL) estão entre as 13 facções rebeldes diferentes que repudiaram a liderança no exílio e formaram uma aliança islâmica que inclui a Frente Nusra, ligada à Al Qaeda, disseram comandantes nesta terça-feira.
Não ficou claro os detalhes sobre o número de combatentes envolvidos e como eles cooperariam entre si. Mas, em uma vídeo publicado na Internet, o líder da Brigada Islâmica Tawheed disse que o grupo rejeita a autoridade da Coalizão Nacional Síria (CNS) e do Ocidente – e a administração no exílio de Ahmad Tumeh, apoiada pela Arábia Saudita. Uma porta-voz do presidente da CNS, Ahmed Jarba, presente na Assembleia-Geral da ONU em Nova York, disse que Jarba iria para a Síria na quinta-feira dar uma resposta:
– Nós não vamos negociar com grupos individuais. Vamos criar uma estrutura melhor para organizar as forças combatentes – disse o porta-voz Loay Safi.
A medida significa um retrocesso para líderes estrangeiros que tentam impulsionar grupos rebeldes mais seculares, de modo a tranquilizar seus eleitores a respeito de um envolvimento maior na guerra civil da Síria. Alguns podem repensar sua ajuda aos militantes, que vai desde o fornecimento de armamento pelo Golfo a uma ajuda não-letal da Europa e EUA.
Assad avança
Para Assad, incentivado pela assistência diplomática russa que enfraqueceu os planos dos EUA para bombardear suas forças após um ataque com gás letal, qualquer coalizão rebelde mais poderosa poderia desafiar o avanço de seu Exército no campo de batalha. Mas isso poderia ser mais do que compensado pelo enfraquecimento do apoio internacional a seus inimigos.
Embora alguns combatentes islâmicos moderados tenham negado que a medida seja uma abordagem mais radical e sectária, um papel de maior destaque para islâmicos mais radicais em detrimento da CNS pode reforçar o argumento de Assad de que a alternativa para o seu governo é uma Síria administrada pela Al Qaeda. A facção de militância islâmica mais radical, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), da Al Qaeda, responsável por convergir um elevado número de jihadistas estrangeiros para a Síria, não está entre as signatários do novo pacto. Não ficou claro, no entanto, se havia rejeitado se envolver ou se não havia sido convidada.
Os 13 grupos que assinaram o comunicado convocam a oposição a se reorganizar sob uma estrutura islâmica e a ser conduzida somente por grupos que lutam em território sírio. Os signatários vão desde extremistas como a Frente Nusra a grupos mais moderados, como a Brigada Tawheed e a Brigada Islâmica.
“Essas forças sentem que todos os grupos formados no estrangeiro sem ter voltado ao país não os representam, então as forças não os reconhecem”, diz o comunicado lido em um vídeo publicado na Internet por Abdulaziz Salameh, líder político da Brigada Tawheed. “Sendo assim, a Coalizão Nacional e seu suposto governo liderado por Ahmad Tumeh não os representam e não vão ser reconhecidos”, concluiu.